Metanol: empresários e clientes compartilham sentimento de insegurança
Mesmo confiando nos produtos que são comercializados, proprietários de bares de Belo Horizonte se preocupam em tranquilizar clientela
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Minas Gerais continua sem investigações de casos de intoxicação por metanol, mas o cenário nacional preocupa tanto os empresários, quanto clientes de bares e restaurantes em Belo Horizonte. Nessa sexta-feira (3/10), o Ministério da Saúde afirmou que cinco estados e o Distrito Federal fizeram 113 notificações de suposta intoxicação por metanol após ingestão de bebida alcoólica. São 11 casos confirmados em laboratório e 102 em investigação. Os números incluem uma morte em São Paulo confirmada por intoxicação, além de outras onze em análise.
“Hoje (sexta-feira), é um dia que normalmente está cheio, mas, coincidentemente, o bar está vazio, até então. Não sei se é consequência disso, mas pode ser também que o pessoal ainda não tenha recebido o salário”, contou Marcelo Doche, sócio-proprietário do “Bença Bençoi”, estabelecimento localizado no bairro Lagoinha, Região Noroeste de BH.
Mesmo presenciando um momento que carrega muitas dúvidas, Marcelo relatou, ao Estado de Minas, que a rotina e aquisição de bebidas para o bar continua a mesma. “Nunca compramos bebidas alcoólicas ou destiladas de terceiros. Sempre procuramos empresas, sempre exigimos nota fiscal e adquirimos esses produtos diretamente com fornecedores.”
Uma nova forma de descartar as garrafas de destilados é a única mudança no “Bença Bençoi”. O sócio-proprietário explicou que, agora, uma pessoa faz o recolhimento dessas embalagens e desfaz delas em um ambiente seguro. “Adotamos a medida de guardar essas garrafas ao invés de jogar no lixo, igual era feito. Uma pessoa faz uma rota, recolhendo essas embalagens, uma vez por semana, e ela vai descartar em um local devido, para tentar evitar falsificação ou dificultar essa questão”, disse.
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A tranquilidade em relação a procedência das bebidas comercializadas se dissemina em outros estabelecimentos da capital mineira. O proprietário do “Bebedouro - Bar e Fogo”, na Região da Pampulha, Diogo Manfredini, relatou confiar nos fornecedores contratados.
“As pessoas têm que escolher lugares que façam esse ciclo de compras correto. Trabalhamos com produtos artesanais também que, na verdade, é muito difícil ter falsificação. Usamos, por exemplo, uma vodka que vem de Curitiba, fabricada por uma destilaria pequena. As pessoas tentam falsificar as grandes marcas, né?”, conta. “Dentro desse caminho de compra não existe risco algum. Os produtos são todos autorizados e vistoriados. Tudo com nota, então a gente fica tranquilo com relação a isso”, completa.
Porém, Diogo já percebe mudanças no comportamento dos clientes, que demonstram insegurança. “Muita gente está buscando informação. Acho que, no consenso geral, as pessoas sabem que são casos isolados. Mas, de maneira geral, estão apreensivas. Então acho que é importante que os bares emitam uma nota, como fizemos”, disse.
Repercussão nas redes sociais
Na tentativa de tranquilizar a clientela, inúmeros estabelecimentos da capital mineira se pronunciaram sobre a procedência das bebidas comercializadas nos locais. É o caso do “Baixaria”, bar localizado no Centro de BH.
Nas redes sociais, os sócios-proprietários do estabelecimento esclareceram que o bar trabalha exclusivamente com bebidas de procedência controlada, acompanhadas de notas fiscais e fornecidas diretamente pela indústria, “por distribuidores autorizados e também por produtores locais com respaldo e história consolidada em nossa cidade.”
O estabelecimento, inclusive, expôs todos os fornecedores e parceiros do local: Adega BH Distribuição, Cachaça Jeceaba, Zuur Corp. e Limão Distribuidora. “Fizemos uma postagem usando a logo das marcas e com o aval delas. Acreditamos que é importante fazer isso para que esse esclarecimento seja apoiado por elas. Somos muito claros em relação ao que compramos. Expor as bebidas assim é uma forma de manter o cliente”, contou Antônio Mello, sócio-proprietário do “Baixaria”.
Ao EM, Antônio relata que começou a perceber que os clientes estão priorizando pedir bebidas fechadas e em lata. “Temos uma carta de drinques que sai bastante, Mas na quinta-feira (2/10), as pessoas priorizaram bebidas fechadas, para cervejas que vem das grandes marcas”, disse. “Nossa carta de drinques já foi indicada para o Cumbuca, por exemplo. Temos todo um zelo, passamos por uma peneira muito fina para poder entender onde é que compramos”, completa.
Outros empreendimentos, como o Grupo Redentor - responsável por três estabelecimentos: o próprio Redentor, Maru e Moema - publicou em suas redes sociais um comunicado, esclarecendo que os bares seguem protocolos de segurança em todas as etapas da operação.
“Todos os insumos e bebidas alcoólicas são adquiridos apenas de fabricantes e distribuidores oficiais, sempre lacrados, com nota fiscal e selo de autenticidade. Nosso compromisso é oferecer momentos de celebração com total segurança, respaldados por produtos com procedência garantida, como fazemos há mais de 40 anos”, escreveu.
Combate ao mercado ilegal de bebidas
Em meio à um momento de incerteza e desinformação, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel-MG) publicou uma cartilha com orientações para empresários conseguirem identificar e obter bebidas autênticas e seguras. No documento, a entidade destrincha um passo a passo, além de ensinar a distinguir características que podem facilitar a identificação de um produto adulterado.
Primeiro, a pessoa deve analisar a garrafa inteira. Se a tampa estiver com cores diferentes, amassada ou com um espaço entre ela e o gargalo, pode significar que é um produto irregular. Depois, se atente aos detalhes, lendo o rótulo do produto e reparando se há algum sinal de violação.
A grande maioria dos produtos originais possuem rótulos em alto relevo, com uma boa impressão e bem detalhados. Os principais riscos de falsificação neste quesito são rótulos que não estejam em português ou posicionados de forma torta, por exemplo. Caso seja uma bebida importada, uma dica é reparar se o produto possui o selo de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Esta certificação original é feita de papel moeda com relevo, com uma holografia progressiva das letras R, F e B, segundo a entidade.
Também é recomendado observar bem o volume e a cor do líquido. Bebidas destiladas, como whisky, vodka e gin, não possuem impurezas, sujidades ou corpos estranhos em meio ao líquido. Outro ponto a se atentar é em relação ao preço: se estiver muito abaixo da média do mercado, suspeite. Sempre dê preferência a canais de vendas oficiais e homologados.
O descarte correto dessas garrafas ajuda no combate ao mercado ilegal. É recomendado destruir o vidro, com cuidado e em segurança, além de separar a tampa e descartar os dois objetos separadamente.
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Orientações do Ministério da Saúde
Os principais sintomas de intoxicação por metanol podem aparecer entre 12h e 24h após a ingestão da substância, de acordo com o Ministério da Saúde. Os principais sintomas são:
- Dor abdominal;
- Visão adulterada;
- Confusão mental;
- Náusea.
Caso tenha esses sinais, é recomendado procurar o atendimento médico no serviço de emergência mais próximo para investigação, diagnóstico e tratamento adequado. Ao chegar na unidade de saúde, a pessoa deve informar que consumiu bebida alcoólica e em qual contexto.