A sexta-feira (26/9) não foi apenas mais um dia na vida de Dona Juvita Farias, mas um momento especial no Hospital São Francisco. Aos 104 anos, a aposentada recebeu a visita de sua cadelinha Camila, uma Shih Tzu preta que a acompanha há cinco anos, em um reencontro emocionante que encantou pacientes, profissionais e vizinhos. Com lucidez, independência e doçura, Dona Juvita encanta todos ao redor.
Moradora do bairro Santa Efigênia, na região Leste de Belo Horizonte, ela está internada há nove dias tratando uma crise de asma. Viúva e sem parentes próximos, conta com o apoio de vizinhos, que se revezam para cuidar dela diariamente.
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Fátima Martins, vizinha e amiga de longa data, conta que conhece Dona Juvita há mais de 20 anos. “A gente estabeleceu uma amizade mesmo depois que ela perdeu a filha e ficou sozinha com a Camila, a cachorrinha. Aí vimos a necessidade de criar um vínculo”, relata.
Mesmo com mais de um século de vida, Dona Juvita mantém rotina impressionante: prepara suas refeições, toma banho e mantém a casa organizada sozinha. Sua companheira constante, Camila, está com ela há cinco anos. “Onde ela vai, Camila vai atrás. Na cozinha, no quarto, até no banho. Ela conversa com a Camila o tempo todo. É aquele amor incondicional que os animais demonstram”, explica Fátima. A cadelinha foi presente da filha Ana Maria, já falecida, e representa mais que companhia: é o elo com lembranças familiares e o afeto que permanece vivo.
O reencontro
Camila chegou ao Posto 1 do hospital na caixa de transporte, levada com carinho pelo vizinho Júlio. O encontro foi autorizado pela médica residente Cecília Soares e pela psicóloga Amanda Ferreira, com apoio das enfermeiras Viviane e Patrícia. Outros integrantes da rede de apoio Marcos, Fátima Martins, Carmen, Nalvinha, Alice, Ricardo e Pablo se revezam para garantir companhia e cuidados constantes.
“Quando ela viu a Camila, os olhos dela se encheram de brilho. A cadelinha pulou na cama e se aconchegou no colo da Dona Juvita. Foi um momento silencioso, mas carregado de amor e afeto”, conta Fátima. Camila ficou desorientada de tanta felicidade e, no dia seguinte, apresentou dificuldade para se alimentar e evacuar, mostrando a intensidade do vínculo com a dona.
Uma rede de cuidado
Os vizinhos são parte essencial da rotina de Dona Juvita. Eles a visitam regularmente, revezam-se no hospital, acompanham-na em deslocamentos e oferecem apoio em emergências. Quando ela passou mal em casa, gritou na janela e o vizinho Júlio entrou imediatamente para ajudá-la. “É como se ela tivesse 50 anos de idade. Ela faz tudo sozinha, mas com essa rede de apoio sabe que nunca estará só”, afirma Fátima Martins, amiga de longa data.
A amizade e o carinho se estendem além da rotina diária: a rede de vizinhos planeja uma confraternização neste domingo, com um almoço na casa da amiga Carmen, reunindo Camila e todos que contribuem para o bem-estar de Dona Juvita.
Para a psicóloga Amanda Ferreira, a visita de Camila teve impacto direto no bem-estar emocional da paciente. “A conexão afetiva com animais de estimação pode aliviar a ansiedade, reduzir a sensação de isolamento e até contribuir para a melhora clínica. Foi um momento de reencontro com o afeto, com o que dá sentido à vida dela”, explica.
A médica Cecília Soares destaca a lucidez e independência de Dona Juvita, mesmo aos 104 anos, e reforça a importância de um olhar humanizado sobre a saúde, integrando bem-estar emocional e cuidados médicos.
O Hospital São Francisco, com atendimento feito 100% pelo SUS e acreditação ONA Nível 2, fez mais de 1 milhão de atendimentos em 2024. A instituição oferece assistência em mais de 40 especialidades e está ampliando sua estrutura: 70 novos leitos de enfermaria, quatro salas cirúrgicas, ampliação da Central de Material e Esterilização, quatro consultórios ambulatoriais e uma sala de Raio-X, estão sendo construídos em parceria com o Governo de Minas.
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Mesmo diante de crises de saúde, o afeto e a companhia de Camila mostram que o amor humano ou animal é um poderoso remédio. Nos olhos de Dona Juvita, no abraço silencioso da cadelinha e no cuidado da comunidade ao redor.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Juliana Lima