Dois suspeitos foram presos pela tortura e morte de um homem em Conselheiro Lafaiete, na Região Central de Minas. Outros três envolvidos no mesmo crime ainda estão à solta. Para capturar suspeitos, a Polícia Civil e a Polícia Militar de Minas Gerais contam com uma complexa operação que mistura tecnologia de ponta com métodos tradicionais de investigação.

Longe de ser um jogo de sorte, a localização de um fugitivo é um quebra-cabeça montado peça por peça. Envolve o cruzamento de dados digitais, vigilância discreta e um profundo conhecimento do comportamento humano. As forças de segurança mineiras combinam diferentes estratégias para fechar o cerco, transformando cidades e até mesmo o ambiente virtual em um campo minado para quem tenta escapar da Justiça.

A caçada digital: o primeiro passo é on-line

Assim que uma ordem de captura é expedida, a primeira arena de busca é o mundo digital. Investigadores mergulham nas redes sociais do foragido e de seu círculo próximo, como familiares e amigos. Um deslize, como uma foto postada no lugar errado ou um comentário descuidado, pode entregar a localização ou o próximo passo do suspeito.

O rastro financeiro também é uma pista valiosa. Transações via PIX, uso de cartões de crédito ou débito e saques em caixas eletrônicos criam um mapa de movimentação. As operadoras de telefonia são acionadas para rastrear a localização de celulares, uma das ferramentas mais eficazes para determinar a área onde o fugitivo se esconde.

O trabalho de campo: inteligência nas ruas

Enquanto a equipe digital analisa os dados, policiais em campo iniciam o trabalho de inteligência humana. Conversas com informantes e membros da comunidade podem fornecer pistas cruciais sobre possíveis esconderijos ou redes de apoio que o foragido possa estar utilizando para se manter oculto.

A vigilância discreta, conhecida como "campana", é montada em locais que o suspeito costumava frequentar ou onde residem pessoas de sua confiança. Horas de observação são dedicadas a monitorar a rotina desses endereços, aguardando um movimento em falso que confirme a presença do alvo. A paciência, nesse momento, é uma das principais armas dos investigadores.

O interesse do público por suspense policial fez com que serial killers fictícios se tornassem blockbusters, como Jason (Sexta-Feira 13) e Michael Myers (Halloween). Mas as histórias de criminosos como o "Zodíaco" (foto) chocam pelo fato de serem reais e por exporem o terror ao qual as vítimas foram, de fato, submetidas. Reprodução
"Jack, o Estripador" (1988) é um filme de 1988 (na foto, o cartaz) sobre um dos mais famosos assassinos da história. Matava prostitutas em 1888, na Londres vitoriana, desafiando a Scotland Yard a identificá-lo - o que nunca aconteceu. divulgação
"To Catch a Killer" (1992) mostra a história de John Wayne Gacy, homem de negócios, vizinho prestativo e palhaço amador que divertia crianças antes de revelar uma face horripilante. Estuprou e matou cerca de 30 garotos e jovens, de 9 a 27 anos. Condenado à morte por injeção letal em 1994. divulgação Polícia
"Cidadão X" (1997) mostra o soviético Andrei Romanovich Chikatilo, conhecido como Açougueiro de Rostov. Confessou o assassinato de 53 pessoas entre 1978 e 1990. Foi condenado à morte (com um tiro), em 1994, aos 57 anos. Divulgação
"The Gray Man" (2007) fez uma viagem até as primeiras décadas do século XX para retratar os crimes hediondos de Albert Fish, pedófilo, sadomasoquista e canibal suspeito de quase 10 mil mortes. Fish foi executado em 16/01/1936, aos 65 anos, na cadeira elétrica. Domínio Público
"Dahmer - Mente Assassina" (2002) mostra os horrores praticados por Jeffrey Dahmer, assassino de 17 homens e garotos entre 1978 e 1991. Seus crimes envolviam estupro, necrofilia e canibalismo. Condenado à prisão perpétua, foi morto por outro detento na cadeia, no Wisconsin, em 1994. Divulgação Polícia
O filme "Caçada ao Assassino BTK" (2005) conta a história do psicopata autointitulado BTK (Bind-Torture-Kill) que agiu por 17 anos no Kansas. Ele mandava cartas à polícia contando sobre os crimes. Dennis Rader foi identificado, preso e condenado à prisão perpétua em 2005. divulgação Polícia
Outro filme perturbador é "Retrato de um Assassino" (1986), sobre o maníaco Henry Lee Lucas, responsável pela morte de cerca de 600 pessoas entre 1975 e 1983. Muitas vezes, agiu com um parceiro: Ottis Toole. Ambos foram condenados à prisão perpétua. divulgação Polícia
Formado em Direito e Psicologia, Bundy fazia a sua própria defesa nos julgamentos. Para alívio da sociedade, ele foi condenado à morte: executado na cadeira elétrica, na Prisão Estadual da Flórida, em 24 de janeiro de 1989. Reprodução
Preso pelos assassinatos, Ted Bundy chegou a fugir mais de uma vez da cadeia. A cada fuga, cometia novos crimes. Ele confessou o assassinato de 36 mulheres. Mas o número de vítimas pode ser bem maior. Ele dirigia o Fusca que aparece nessa foto e oferecia carona às vítimas. wikimedia commons
Sobre a relação com família e amigos, Bundy declarou: "Queremos acreditar que conseguimos identificar pessoas perigosas, mas o mais aterrador é que não podemos. As pessoas não se dão conta de que convivem com assassinos em potencial". Domínio Público
Outros crimes de serial killers também inspiraram filmes. Um dos mais impactantes é "Ted Bundy", sobre Theodore Bundy, que assassinou dezenas de mulheres nos anos 70. O filme tem a perspectiva da esposa, que nunca havia percebido o verdadeiro caráter do marido. Departamento de Polícia da Flórida - wikimedia commons
O caso foi retratado no filme "Zodíaco", com Robert Downey Jr, Jake Gyllenhaal e Mark Ruffalo em 2007. A produção mostra como jornalistas do San Francisco Chronicle, paralelamente à atuação da polícia, tentaram decifrar os enigmas do criminoso. Divulgação
Os Case Breakers afirmam que, entre outras evidências, cicatrizes na testa de Poste combinavam com as de um esboço do criminoso. E o nome completo dele era a chave para decifrar as mensagens. Poste morreu em 2018, sem pagar pelos crimes. Divulgação
Em outubro/2021, finalmente, um grupo afirmou ter desvendado o mistério. Quarenta detetives, jornalistas, analistas e oficiais da inteligência militar - os Case Breakers - apontaram Gary Francis Poste. Veterano da Força Aérea, pintor de paredes, vivia em High Sierras com mulher e enteado. Uma testemunha disse que ele recrutava jovens para uma gangue criminosa. Divulgação
Identificar o Assassino do Zodíaco era tão desafiador que detetives se interessaram em buscar elementos para investigação independente. O caso atraía a atenção na TV. Falsos criminosos deram entrevistas por telefone como se fossem o serial killer. Reprodução Portal
Um homem apontou o padrasto como Assassino do Zodíaco. O FBI (serviço de inteligência) examinou um capuz, uma faca com sangue, cartas e fotografias. Mas a suspeita não foi confirmada, por falta de provas. FBI wikimedia commons
O caso foi um dos mais intrigantes da polícia americana, pois ninguém conseguia identificar o assassino. As investigações foram arquivadas pelo Departamento de Polícia de São Francisco em abril de 2004, mas reabertas três anos depois. Surgiu uma suspeita na cidade de Sacramento. SGT 141 wikimedia commons
Duas vítimas do Zodíaco sobreviveram e, por isso, foi possível fazer o retrato falado. Em 24/04/1974, a última carta atribuída a ele foi recebida pela polícia. O assassino confessava 37 homicídios. Sete vítimas foram confirmadas. Domínio Público
Ele usava roupa preta com o símbolo, além de capuz e óculos. Em agosto de 1969, o professor de História Donald Harden e a esposa Bettye desvendaram uma mensagem, que dizia "gosto de matar porque é muito divertido" e "renascerei no paraíso e os que eu matei se tornarão meus escravos". Divulgação
O assassino desafiava jornalistas e investigadores a descobrirem sua verdadeira identidade. A assinatura nas cartas era um símbolo: uma cruz com um círculo no meio. Domínio Público
Há 56 anos, em 20/12/1968, o assassino misterioso autointitulado "Zodíaco" matou suas primeiras vítimas. David Arthur Faraday, 17 anos, e Betty Lou Jensen, 16, namoravam num carro em Lake Herman (Califórnia), quando o criminoso atirou em ambos. O bandido enviou uma carta à polícia e mensagens criptografadas. Domínio Público
A polícia americana levou cinco décadas para conseguir identificar um criminoso que deixou um rastro de vítimas. Conheça essa história curiosa que inspirou até um filme com grandes atores. WhisperToMe Domínio Público

Além disso, um alerta é emitido para todas as unidades policiais, incluindo as que atuam em rodoviárias, aeroportos e nas divisas do estado. A checagem de documentos em abordagens de rotina se torna uma ferramenta fundamental para interceptar fugitivos que tentam deixar a região.

Tecnologia a favor da lei

Minas Gerais conta com um arsenal tecnológico que auxilia diretamente nessas buscas. O sistema de monitoramento por câmeras, presente em diversas cidades, utiliza softwares de reconhecimento facial e de placas de veículos. Um carro ligado a um foragido pode acionar um alerta imediato ao passar por uma dessas câmeras.

Bancos de dados integrados também são essenciais. O Sistema de Identificação Automatizada de Impressões Digitais (AFIS, na sigla em inglês) permite cruzar digitais encontradas em locais de crime com um vasto registro de suspeitos. Da mesma forma, bancos de dados com informações criminais e mandados de prisão são consultados em tempo real durante qualquer abordagem policial.

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Como você pode ajudar a localizar um foragido?

A colaboração da população é um fator decisivo em muitas capturas. No entanto, é fundamental saber como ajudar de forma segura e eficaz. Seguir os canais corretos garante a sua segurança e a qualidade da informação que chega até a polícia.

  1. Use o Disque Denúncia Unificado (DDU)
    O principal canal é o telefone 181. A ligação é gratuita, sigilosa e o anonimato é garantido. Ao ligar, forneça o máximo de informações possíveis, como o local onde o suspeito foi visto, suas características físicas, roupas que usava e, se possível, a placa de algum veículo que ele esteja utilizando.

  2. Consulte os portais de procurados
    As polícias Civil e Militar, assim como a Polícia Federal, mantêm portais on-line com fotos e informações sobre os foragidos mais perigosos. Ficar atento a esses rostos pode ajudar na identificação casual de um suspeito em locais públicos.

  3. Observe com atenção, mas com discrição
    Se você suspeita que um vizinho novo ou alguém em seu bairro pode ser um foragido, observe a rotina de forma discreta. Movimentações estranhas, como pessoas que nunca saem de casa durante o dia ou recebem visitas em horários incomuns, podem ser um sinal. Anote os detalhes e repasse ao 181.

  4. Nunca confronte o suspeito
    Jamais tente abordar, confrontar ou deter um foragido por conta própria. Essas pessoas são consideradas perigosas e podem reagir de forma violenta. Sua função como cidadão é informar as autoridades competentes e deixar que elas realizem a abordagem com segurança.

  5. Compartilhe apenas informações oficiais
    Nas redes sociais, compartilhe apenas as publicações oficiais das forças de segurança sobre pessoas procuradas. Evite espalhar boatos ou informações não verificadas, que podem atrapalhar as investigações e colocar pessoas inocentes em risco.

Qual o primeiro passo da polícia na busca por um foragido?

Geralmente, o primeiro passo é a investigação digital.

Analistas monitoram redes sociais, rastreiam transações financeiras e solicitam a localização de celulares.

A tecnologia realmente faz diferença nas capturas?

Sim, a tecnologia é um fator decisivo.

Sistemas de reconhecimento facial e de placas de veículos, integrados a câmeras de segurança, podem emitir alertas em tempo real.

Bancos de dados de impressões digitais e informações criminais permitem a identificação rápida de suspeitos durante abordagens de rotina.

E o trabalho tradicional de investigação ainda é importante?

Sim, é fundamental. O trabalho de campo complementa a tecnologia.

A inteligência humana, por meio de informantes e vigilância discreta, continua sendo essencial para confirmar informações e localizar esconderijos.

Como um cidadão comum pode colaborar de forma segura?

A forma mais segura e eficaz é usar o Disque Denúncia, pelo telefone 181.

O sigilo é absoluto e você pode repassar informações sem se expor. Nunca tente abordar um suspeito por conta própria.

Uma ferramenta de IA foi usada para auxiliar na produção desta reportagem, sob supervisão editorial humana.

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