Faixa em protesto contra a ditadura na Faculdade de Medicina da UFMG - (crédito: Reprodução / Projeto Memória / UFMG)
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A repressão imposta pela ditadura militar no Brasil deixou cicatrizes profundas na história de Belo Horizonte. Para além dos registros oficiais, as ruas e construções da capital mineira guardam a memória viva de um período marcado pela luta por liberdade e democracia. A cidade foi palco de resistência e organização, testemunhando eventos cruciais da oposição ao regime.
Conhecer esses locais é uma forma de entender o passado e preservar a democracia. O roteiro a seguir apresenta cinco pontos de BH que foram palco da luta pela democracia e podem ser visitados. Cada um deles revela uma faceta diferente do período, desde a violência do Estado até a organização da sociedade civil.
Ocupação do Memorial dos Direitos Humanos de Minas Gerais (antigo Dops) Localizado na Avenida Afonso Pena, o prédio abrigou o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), um dos principais centros de tortura e repressão do regime. O local foi palco de interrogatórios e violações de direitos humanos. Desde abril de 2025, o local foi ocupado por movimentos sociais para lutar pela abertura definitiva daquele espaço como memória dos que tombaram na luta contra a ditadura;
Faculdade de Medicina da UFMG A Faculdade de Medicina da UFMG, com seu Diretório Acadêmico Alfredo Balena (DAAB) ativo, foi um dos epicentros da resistência estudantil ao regime militar em Belo Horizonte, especialmente na década de 1970. Mesmo sob intensa vigilância e repressão, o campus se tornou um espaço crucial para a reorganização do movimento estudantil;
Faculdade de Direito da UFMG (Praça Afonso Arinos) Em 1966, a faculdade foi cenário de um longo cerco militar que durou dias, em resposta à ocupação do prédio pelos estudantes em protesto contra o regime. A resistência ali, com barricadas, se tornou um símbolo de desafio à repressão logo nos primeiros anos do Golpe. A Faculdade de Direito também promoveu dezenas de atos políticos contra o regime e a favor da anistia política e da redemocratização do país, sendo um ponto de encontro de advogados, juristas e opositores do regime;
Praça Sete de Setembro Como coração da cidade, a Praça Sete foi o principal palco para os grandes protestos populares em Belo Horizonte. Manifestações a favor e contra o golpe de 1964 aconteceram no local. Durante os anos de chumbo, atos pela redemocratização e contra a repressão eram frequentemente organizados ali, tornando o famoso "Pirulito" um símbolo da voz do povo;
Igreja São Francisco de Chagas O templo localizado no Bairro Carlos Prates abrigou, em sua cripta, o 28º Congresso Clandestino da União Nacional dos Estudantes (UNE) em julho de 1966. O uso de um local religioso, protegido pela doutrina da Igreja e por padres engajados (muitos ligados à Ordem Dominicana), foi uma estratégia fundamental para escapar da repressão militar e dar prosseguimento à articulação política do movimento estudantil, que estava na ilegalidade.
Seu corpo nunca foi encontrado, e seu caso permanece como um símbolo das atrocidades cometidas durante a ditadura militar no Brasil.
arquivo pessoal
Após sua prisão, ele desapareceu, e as autoridades não admitiram oficialmente seu paradeiro ou destino. Anos depois, investigações apontaram que ele foi torturado e morto nas dependências militares. O filme mostra o momento em que, 25 anos depois, a família finalmente consegue o atestado de óbito do engenheiro.
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Em janeiro de 1971, Paiva foi preso em sua casa no Rio de Janeiro por agentes do DOI-CODI, um órgão de repressão da ditadura.
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Com a implantação do regime militar, ele teve seu mandato cassado e foi exilado no exterior por um período. Ao retornar ao Brasil, passou a auxiliar às escondidas pessoas que eram perseguidas pelo governo militar.
arquivo pessoal
Rubens Paiva era deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e se destacou como um dos opositores do golpe militar de 1964, que depôs o presidente João Goulart.
arquivo pessoal
Ele nasceu em 26 de dezembro de 1929, em Santos, São Paulo, e desapareceu em janeiro de 1971, após ser preso por agentes da repressão.
Comissão da Verdade do Estado de São Paulo
Tema central de "Ainda Estou Aqui", Rubens Paiva foi um engenheiro civil, empresário e político brasileiro, conhecido principalmente por sua luta contra a ditadura militar no Brasil e por ser uma das vítimas mais emblemáticas do regime.
secretaria de estado de cultura/sp
Além de "Central do Brasil", que foi indicado ao Oscar de 1999 nas categorias Melhor Filme e Melhor Atriz, Walter Salles dirigiu os elogiados "Abril Despedaçado" (2001), com Rodrigo Santoro, "Diários de Motocicleta" (2004) e "Paris, Te Amo" (2006).
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"Salles nunca se excede nas batidas emocionais do filme, confiando na atuação magnífica e excepcionalmente detalhada de Torres para dirigir a história", destacou o ScreenDaily.
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"É uma atuação que deve catapultar ela para a temporada de premiações, 25 anos depois de sua mãe ser indicada ao Oscar por Central do Brasil", disse uma crítica do Deadline, um dos maiores sites de entretenimento dos EUA.
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Além disso, o filme recebeu inúmeros elogios da imprensa internacional na época em que começou a ser exibido em festivais. Um deles direcionado à atuação de Fernanda Torres.
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O processo de realização do filme levou cerca de sete anos. O diretor Walter Salles chegou a frequentar a casa onde Rubens Paiva vivia antes de ser levado pelos militares e fez questão de conhecer sua família.
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O filme conta com um elenco de peso. Além das Fernandas Montenegro e Torres, estrelam o longa Selton Mello, Humberto Carrão e Dan Stulbach.
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A história se baseia no livro homônimo escrito pelo jornalista (filho de Eunice). "Ela virou a grande militante ativista da ditadura e da redemocratização brasileira e do chamado Brasil novo", disse ele.
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Harald Krichel
"Ainda Estou Aqui" conta a história de Eunice Paiva, mãe do jornalista Marcelo Rubens Paiva, que passou 40 anos procurando a verdade sobre o marido desaparecido, Rubens Paiva.
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Apesar disso, o longa levou para casa o prêmio de Melhor Roteiro. O filme estreou nos cinemas brasileiros em 7/11/2024 e já passou de 2 milhões de espectadores no país.
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No Festival de Veneza, em setembro/24, a produção brasileira foi aplaudida de pé por 10 minutos. O filme chegou a concorrer ao cobiçado Leão de Ouro, principal prêmio do Festival, mas acabou perdendo o prêmio para "O Quarto ao Lado", do cineasta espanhol Pedro Almodóvar.
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Um dia antes da indicação para a 82ª edição do Globo de Ouro, Fernanda Torres ficou em segundo lugar no prêmio de melhor atuação da Associação de Críticos do Cinema de Los Angeles. A brasileira apareceu ao lado de Demi Moore ("A Substância") nesse posto.
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O longa-metragem de Walter Salles, também foi indicado ao Globo de Ouro 2025 na categoria Melhor Filme de Língua Não-Inglesa, mas perdeu para "Emilia Pérez". Escrito e dirigido pelo francês Jacques Audiard, conta sobre uma traficante trans que muda de identidade.
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Em "Ainda Estou Aqui", Fernanda Montenegro faz o mesmo papel da filha, só que na fase idosa da personagem Eunice Paiva. A semelhança de mãe e filha na vida real foi levada para o telão, facilitando a composição da personagem e dando o vigor necessário à trama pela expressividade de ambas as atrizes.
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Fernanda Torres dedicou o prêmio à mãe, a atriz Fernanda Montenegro, lembrando que, 25 anos atrás, ela também foi candidata na mesma categoria em 1999 pelo filme "Central do Brasil" (do mesmo diretor de "Ainda Estou Aqui", Walter Salles).
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No domingo (5/1), Fernanda ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama graças à sua atuação. Concorriam com ela: Nicole Kidman ("Babygirl"), Angelina Jolie ("Maria Callas"), Kate Winslet ("Lee"), Tilda Swinton ("O quarto ao lado") e Pamela Anderson ("The last showgirl").
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A obra brasileira já foi o escolhida para tentar disputar uma vaga no Oscar 2025 na categoria de Melhor Filme Internacional. A lista completa dos indicados será anunciada no dia 17 de janeiro de 2025.
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No filme "Ainda Estou Aqui", protagonizado por Fernanda Torres, há uma cena emocionante envolvendo a certidão de óbito de Rubens Paiva, marido da sua personagem morto durante o regime militar.
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As novas certidões serão digitalizadas e enviadas às famílias ou, quando estas não forem localizadas, preservadas em museus e espaços de memória. Para vítimas sem registro devido ao desaparecimento dos corpos, os procedimentos seguirão critérios do local de falecimento ou nascimento.
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"A Resolução representa mais um marco importante no reconhecimento do Estado brasileiro das violações de direitos cometidas na Ditadura, assim como no dever de reparação às famílias dos desaparecidos", destacou Gustavo Fiscarelli, presidente da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen/BR).
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Os registros agora indicarão “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro”, conforme reconhecido pela Comissão Nacional da Verdade em 2014. Apenas 10 retificações haviam sido concluídas administrativamente, e a medida busca avançar nesse processo.
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Nesta terça feira (7/1), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que permite retificar as causas de óbito de 434 brasileiros mortos ou desaparecidos durante o período da ditadura militar (1964-1985).
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Uma ferramenta de IA foi usada para auxiliar na produção desta reportagem, sob supervisão editorial humana.