Livro revê história da maior prisão em massa da ditadura, ocorrida em BH
‘Se baterem, cantem! – Estudantes desafiam a ditadura em 1977’ será lançado neste sábado (11/10), no Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da UFMG
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Um episódio marcante do período final do regime militar no Brasil, ocorrido em Belo Horizonte – a prisão de 850 estudantes que participavam de um encontro nacional em 1977 –, é tratado no livro “Se baterem, cantem! – Estudantes desafiam a ditadura em 1977” (Quixote Editora), que será lançado neste sábado (11/10), no Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da UFMG.
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Organizada pela jornalista e historiadora Cândida Emília Borges Lemos, a obra é fruto de pesquisa desenvolvida ao longo de oito anos e foi escrita em conjunto pelas jornalistas Angela Drummond, Izabel Zóglio e Virgínia Castro, pela professora Samira Zaidan, que fez parte da militância estudantil na época, e pela organizadora.
Cândida Lemos observa que o episódio acabou, com o tempo, “ofuscado no fundo do palco”, a despeito de ter se tratado da maior detenção em massa dos 21 anos de ditadura militar no país. Esse foi, segundo diz, o estímulo para tratar do assunto.
“Fiz, inicialmente, um trabalho que focava apenas a parte da cobertura da imprensa brasileira sobre o que aconteceu naquele 4 de junho de 1977, a repressão ao 3º Encontro Nacional dos Estudantes em Belo Horizonte, que visava a reconstrução da UNE (União Nacional dos Estudantes). Apresentei o resultado do que tinha levantado em um congresso internacional, em Lisboa, e a pesquisa foi muito bem-aceita. Os participantes me perguntaram por que não tinha virado livro. Prometi que escreveria”, conta.
Pesquisa ampliada
A partir daí, a pesquisa foi ampliada, com uma metodologia que incluiu quatro diferentes fontes: depoimentos e entrevistas com estudantes da época e jornalistas que cobriram o 3º Encontro Nacional dos Estudantes; consultas a documentos produzidos pela comunicação estudantil, como panfletos e jornais; matérias produzidas pela imprensa da época; e documentos oficiais dos órgãos do regime, como a Polícia Federal, a Justiça Militar e o Serviço Nacional de Inteligência (SNI).
“Com relação às fontes primárias, foram 85 pessoas que conseguimos localizar. No que diz respeito às matérias publicadas na época, cabe dizer que, apesar de uma censura indireta, da pressão dos órgãos da ditadura, a imprensa fez um trabalho magnífico, principalmente o Estado de Minas, sem exagero, com uma das coberturas mais importantes, envolvendo 18 repórteres. Juntando isso com a comunicação estudantil e os documentos do regime, pudemos cruzar informações”, afirma.
A pesquisadora ressalta que são fatos muito importantes na história contemporânea brasileira e muito pouco conhecidos, pouco pesquisados e pouco apresentados ao público. “A história brasileira, principalmente no período da ditadura militar, ainda tem muitas lacunas que não foram problematizadas e trabalhadas em profundidade. Fizemos uma investigação muito meticulosa”, diz.
Estudantes vindos de outras cidades e estados foram abordados nas rodovias, outros foram detidos nas ruas da capital e houve, ainda, aqueles que estavam no Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina e também foram presos, segundo ela descreve.
Eles foram levados para o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), na Avenida Afonso Pena, e para o Parque de Exposições da Gameleira. “Todos foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional pelo crime de organização de entidade subversiva, que seria a UNE”, diz Cândida.
Mesmo depois de liberados, os estudantes seguiram sofrendo coação, com dificuldade de conseguir estágio ou emprego. “Eles persistiram até a aplicação da Lei de Anistia, em 4 de setembro de 1979. Esses estudantes não atiraram uma pedra, não soltaram uma bomba caseira, era um movimento de resistência civil totalmente pacífico”, afirma. A historiadora observa que isso garantiu uma maior adesão à luta pela redemocratização, num momento em que o regime já dava sinais de enfraquecimento.
“SE BATEREM, CANTEM! – ESTUDANTES DESAFIAM A DITADURA EM 1977”
Lançamento do livro organizado por Cândida Emília Borges Lemos, com pesquisa e textos de Angela Drummond, Izabel Zóglio, Samira Zaidan, Virgínia Castro e da própria organizadora, neste sábado (11/10), às 16h, no Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da UFMG (Av. Alfredo Balena, 190, Santa Efigênia). Entrada franca.