LITERATURA

Livro de vencedor de Nobel é bestseller em BH há três anos

László Krasznahorkai é autor de 'Sátántangó', obra mais vendida em uma livraria da capital mineira. Título é o único do escritor húngaro publicado no país

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Surpresa o Nobel da Literatura sempre é, pois não existem candidaturas e a lista de autores que merecem tal reconhecimento é global. A escolha da Academia Sueca pelo húngaro László Krasznahorkai foi uma surpresa esperada, podemos chamar assim, pois há muitos anos o autor de 71 anos era apontado como favorito.


No anúncio realizado nesta quinta-feira (9/10), início da tarde em Estocolmo, 8 da manhã no Brasil), a academia afirmou que o prêmio se deu porque Krasznahorkai tem uma “obra convincente e visionária que, em meio ao terror apocalíptico, reafirma o poder da arte".


O vencedor recebeu a boa nova em Frankfurt, na Alemanha. "Eu não esperava nada disso", disse ele, citando a resposta de Samuel Beckett em 1969, quando recebeu o Nobel. “Que catástrofe”.


"Estou muito feliz e muito orgulhoso, pois pertencer a essa linhagem que conta com tantos escritores e poetas excepcionais me dá força para usar minha língua, minha língua materna, o húngaro", acrescentou. Celebrou o Nobel em um jantar entre amigos, regado a vinho do Porto e champanhe.


A premiação, para Krasznahorkai, teve também um gosto amargo. "Sem imaginação, a vida seria completamente diferente. Ler livros nos dá mais força para sobreviver a estes momentos muito difíceis que o planeta está atravessando", disse o 122º. vencedor do Nobel desde a criação do prêmio, em 1901. Ele vai receber 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,2 milhões).


O Brasil só conhece Krasznahorkai por meio de seu romance de estreia, “Sátántangó” (1985), que chegou ao país somente em 2022 pela Companhia das Letras. A narrativa é ambientada em um vilarejo em decadência da Hungria comunista através de 12 capítulos, cada um com um único parágrafo.


Tradutor da obra para o português – trabalho que lhe valeu o Prêmio Biblioteca Nacional na categoria de Tradução – Paulo Schiller afirmou que Krasznahorkai “é o Guimarães Rosa húngaro. Só que em vez de seca, chove o tempo todo em seus livros”. Para Schiller, “Sátántangó” é “uma alegoria dos regimes populistas dos nossos dias”.

Bruno Zattar, livreiro da Quixote, segura capas de Satantango, de Laszlo Krasznahorkai, livro mais vendido, desde 2022, da livraria na Rua Fernandes Tourinho
Bruno Zattar, livreiro da Quixote, afirma que “Sátántangó” é a obra mais vendida na livraria, desde 2022: “Sou culpado com muita honra, 90% dos livros vendidos foram por minha causa”, diz ele Acervo pessoal

 

Adaptação cinematográfica

Antes de o célebre romance ser publicado, “Sátántangó” chegou ao Brasil por meio do longa-metragem homônimo do cineasta húngaro Béla Tarr. A adaptação, de 1994, foi a estrela da Retrospectiva Béla Tarr que o Indie Festival fez em sua edição de 2011, em Belo Horizonte e São Paulo.


Em BH, o longa-metragem em preto e branco e 7h19 de duração foi exibido em uma única sessão, no extinto Oi Futuro (hoje o Tribunal de Justiça de Minas Gerais). Outros longas de Tarr com roteiro de Krasznahorkai que estiveram na mostra são “Danação” (1988), “A harmonia Werckmeister” (2000, adaptação do romance “A melancolia da resistência”), “O homem de Londres” (2007) e “O cavalo de Turim” (2011), este reexibido na edição 2025 do Indie.


Krasznahorkai é o segundo escritor húngaro a receber o Nobel – o anterior foi Imre Kertesz, em 2002. Difícil e exigente, o estilo do autor foi descrito por ele mesmo como "a realidade examinada até a loucura". Sua predileção por frases longas e raros saltos de parágrafo também lhe renderam a qualificação de "obsessivo".


Comparado com o irlandês Beckett e o russo Fyodor Dostoevsky, Krasznahorkai foi qualificado pela crítica americana Susan Sontag como "o mestre húngaro contemporâneo do apocalipse, que inspira comparações com Gogol e Melville". Steve Sem-Sandberg, um dos membros do comitê da Academia Sueca, afirmou que além da "sintaxe sinuosa e ampla de Krasznahorkai, que se tornou sua marca registrada como escritor, seu estilo também deixa espaço para certa leveza e uma grande beleza lírica".


Sucesso na Quixote

Em BH, “Sátántangó” é o livro mais vendido na Quixote Livraria desde que foi lançado, há exatos três anos. “Culpa” do livreiro Bruno Zattar, fã inconteste da “literatura complexa, que exige cérebro do leitor” de Krasznahorkai. “Sou culpado com muita honra. Noventa por cento dos livros vendidos foram por minha causa”, afirma.


De acordo com Zattar, o romance é “perturbador em alguns momentos”. “Não só a história em si, que é louquíssima, mas o próprio texto”. O cenário é um assentamento onde as pessoas vivem em ruínas – física e espiritual. Um homem misterioso chega ao local anunciando a vinda de Irimiás. “Ele era dado como morto, e as pessoas depositam esperança, mas também angústia nele, pois não sabem se é um enviado de Deus ou do diabo.”


Quando Irimiás finalmente chega, o resultado é, segundo Zattar, “enlouquecedor”. Tamanha loucura que algumas pessoas não entendem o final. Muitos dos que compraram “Sátántangó” e não compreenderam a conclusão da obra procuram o livreiro. “Ele joga com uma situação meio enganosa”, comenta Zattar, que não vê a hora dos novos títulos virem a público. Cobra também pela edição brasileira de “A melancolia da resistência”, publicado originalmente em 1989. “Já passou da hora.”


Lançamentos futuros

Além de uma nova edição de “Sátántangó”, já com a nova capa que traz a referência do Nobel (foto), a Companhia das Letras vai lançar dois títulos de Krasznahorkai. O primeiro deles, previsto para o início de 2026, é “O retorno do Barão Wenckheim” (2016), com tradução da professora Zsuzsanna Spiry.

O romance acompanha o personagem-título, um nobre que volta para sua cidade natal, no interior da Hungria, depois de acumular uma grande dívida de jogo em Buenos Aires. Título mais recente do escritor, “Herscht 07769” (2021), também deve chegar ao país em 2026. O romance de mais de 400 páginas foi escrito com uma só frase, sem pontuação. (Com agência France Presse)

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