Campanha aposta no Natal para impulsionar apadrinhamento afetivo
Com 600 crianças e adolescentes em acolhimento, o Centro de Voluntariado de Apoio ao Menor (Cevam) busca voluntários na Grande BH
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Para muitas pessoas, o Natal simboliza união, amor e fraternidade. É com a esperança de que o espírito natalino toque a população da Grande BH que o Centro de Voluntariado de Apoio ao Menor (Cevam) lança a nova temporada de apadrinhamento afetivo. Com cerca de 600 crianças e adolescentes em acolhimento, a entidade anseia que pelo menos 200 desses jovens sejam apadrinhados e vivam experiências que vão além de presentes materiais.
Criado em 1999, por meio do “Programa Conviver”, o apadrinhamento afetivo possibilitou que aproximadamente 10,5 mil menores acolhidos em instituições experimentassem, no Natal ou ao longo do ano, a convivência e o afeto ao lado de famílias voluntárias, fortalecendo laços e abrindo caminhos para novas possibilidades.
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"O apadrinhamento afetivo tem como objetivo real proporcionar aos meninos e meninas o exercício de seu direito fundamental de convivência familiar e nos seus relacionamentos sociais, especialmente no Natal. É uma data propícia ao afeto, quando os corações são mais sensíveis. Mas, esse apadrinhamento pode se prolongar por todo o ano seguinte, aos fins de semana e datas comemorativas", diz o presidente do Cevam, Ananias Neves Ferreira.
Neste ano, a iniciativa traz o slogan “O melhor presente não cabe em caixas, mas se dá com o coração”. Ferreira ressalta a importância de ampliar a participação voltada aos adolescentes, que ainda enfrentam maior resistência na hora de serem apadrinhados por conta da idade. Em uma fase importante para o desenvolvimento de qualquer pessoa, a adolescência é também um momento de grandes desafios para quem vive em um abrigo.
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"São os meninos que têm mais tempo nos abrigos, que muitas vezes ficam esquecidos. Ou seja, têm um índice de carência bem maior. Então, estamos buscando mais apadrinhamentos com mais sensibilidade nesses casos. É importante que a pessoa entenda, compreenda que eles são meninos como nós fomos um dia. Apadrinhar é participar da construção do outro", afirma o presidente do Cevam.
Ao longo de mais de duas décadas, Ananias Neves Ferreira afirma que o apadrinhamento vai além do simples ato de levar uma criança ou adolescente para a casa no Natal. Segundo ele, a ação traz um impacto social importante para os menores. Também relata que os apadrinhados, quando voltam ao abrigo, chegam animados contando suas experiências.
"Quando elas (as crianças) chegam ao abrigo contam muito entusiasmo as experiências que tiveram com as famílias, uns com os outros. Isso cria referências sociais e laços duradouros que contribuem para a vida delas. Elas aprendem realidades que não conheciam, convivem socialmente, participam de atividades com padrinhos e amigos dos padrinhos", diz.
Como participar
Para se tornar padrinho ou madrinha, é preciso ter no mínimo 18 anos, com a diferença mínima de 10 anos entre padrinho e afilhado, e disponibilidade de tempo para convivência. Para se inscrever, é necessário fazer a pré-inscrição neste formulário (clique aqui para acessar) e preencher uma ficha presencialmente no escritório do Cevam, localizado na Rua dos Goitacazes, 71, Conjunto 1.407, no Hipercentro de BH, até o dia 28 de novembro.
Não se esqueça de levar CPF, RG e comprovante de residência (original e cópia), certidões negativas de antecedentes criminais (federal, estadual e policial), comprovante de estado civil e declaração de concordância de todos os moradores maiores de 18 anos do domicílio.
Quem tiver dificuldades para emitir os certificados negativos ou em qualquer outra etapa do processo pode contar com a ajuda da instituição. Após a inscrição, os candidatos vão participar de um encontro de padrinho e madrinhas com os responsáveis pelo programa, que vão explicar e orientar sobre o projeto. A instituição reforça que é imprescindível a participação de todos da família no encontro. Cada família será acompanhada de perto por profissionais da área, garantindo que todo o processo seja seguro e beneficie tanto a criança quanto o apadrinhado.
Do apadrinhamento à adoção
Para além de uma ação solidária, o projeto transforma tanto a vida das crianças quanto a das famílias que se voluntariaram. Em 2013, Sabrina Amorim Azevedo Matozo e seu marido Christian Matozo Andrade decidiram apadrinhar uma criança no Natal. Sabrina era estudante de Serviço Social quando conheceu o programa durante uma palestra na faculdade e resolveu participar junto com o esposo.
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"Já tínhamos alguns anos de casados, e eu estava com problema para engravidar e não queria continuar fazendo tratamento. Aí, juntos decidimos fazer como se fosse um teste para ver como ia ser o nosso comportamento com uma criança. Depois da palestra, procuramos o Cevam para fazermos o apadrinhamento de Natal. Para nós, era a realização de um sonho de ter um filho e, ao mesmo tempo, transformar a vida de uma criança ao fazer parte de uma família", conta Sabrina.
Aos cinco anos, Luiz chegou à família trazendo consigo muita curiosidade e energia. Sabrina conta que foi emocionante acompanhar suas primeiras experiências ao lado do casal. “No começo, tivemos muitos desafios, ele era muito bagunceiro, respondão, mas com o tempo isso foi melhorando. Levamos ele para ver o Papai Noel, passear... Foi incrível ver o brilho nos olhos dele. Ele era um menino que questionava muito as coisas. Adorava ir na casa do meu avô, achava mágico tomar benção”, recorda.
“Em janeiro, ele voltou para o abrigo, e depois conseguimos formalizar o apadrinhamento afetivo, passando a recebê-lo aos finais de semana. Com a chegada dele, a dinâmica nas nossas vidas mudou pra melhor”, completa Sabrina.
Embora o objetivo do projeto não seja a adoção, em muitos casos acabam evoluindo para famílias definitivas, como aconteceu com o casal. "Não nos falam de início que podemos adotar, porque nem todos estão para adoção, mas quando nos avisaram que ele ia entrar na fila, entramos com a documentação. Mesmo ele sendo um pouco bagunceiro, o apadrinhamento transformou totalmente a gente enquanto casal e enquanto família. Trouxemos ele para o seio da família sem distinção. Foi como uma criança nova que nasceu ali. Em vez de nascer um bebezinho, pra gente ele 'nasceu' com 5 anos", diz Sabrina.
Christian, o pai, destaca o aprendizado que tiveram. “O amor pode ser uma conquista através de muita dedicação, carinho e paciência. Apadrinhar o Luiz e, posteriormente, adotar, não foi uma convivência fácil no início. Foi um período de desconstrução de hábitos antigos e a construção de um novo ambiente familiar que valeu muito a pena quando deparamos com o rapaz educado e inteligente que é hoje."
Hoje com dois filhos, Sabrina conta que, após a chegada de Luiz, a dinâmica da família mudou. "A adoção ou apadrinhamento não é caridade. Nós nos tornamos pais por meio dele. Nossos dois filhos não têm distinção. Com o Luiz, tivemos um aprendizado de como criar um filho. Quando tivemos o Augusto em 2016 foi até mais leve. Vemos a dificuldade que muita gente passa com bebê, e a gente não enfrentou isso. A dinâmica mudou, mas para melhor. Teve perrengue, claro, mas sempre unidos. O aprendizado foi muito grande em diversas áreas".
Acolhimento e respeito
Abrir as portas da nossa casa para uma criança era um desejo antigo de Patrício Gonçalves Almeida e de sua esposa, Rosiane Cardoso da Silva. Casados há 10 anos e pais de uma menina de cinco, o casal encontrou no projeto a possibilidade de compartilhar com outra criança as vivências que a filha tem com tanta naturalidade no dia a dia.
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"Sempre tivemos essa vontade de fazer esse apadrinhamento, e esse desejo se fortaleceu bastante quando a gente teve a nossa filha. A ideia era realmente proporcionar a uma criança momentos de interação social, acolhimento familiar, algo que para a nossa filha é comum, mas a gente entende que para outras crianças não seria", conta Patrício.
No começo, as expectativas eram baixas. Ele acreditava que viveriam apenas alguns momentos de afeto. Mas, com o tempo, ele e a esposa compreenderam melhor a afilhada e perceberam suas necessidades de carinho, atenção e compreensão.
Patrício destaca que o gesto também impactou sua filha biológica. "O apego da nossa afilhada com a gente foi algo muito rápido, algo que inclusive nos surpreendeu. Ela já começou a chamar a gente de pai e mãe. Isso para minha filha foi um impacto. No início, isso gerou um certo estranhamento. Mas, hoje, a gente não só apadrinha no Natal como também faz o apadrinhamento extensivo, durante o ano todo. E isso é muito por causa da minha filha. Hoje, a minha filha chama nossa afilhada de irmã. Isso nos impulsionou a continuar o apadrinhamento, inclusive de forma extensiva.”
Para que a criança se sinta acolhida, respeitada e amada, Patrício ressalta que o respeito é o mais importante. "Sempre respeite a história dessa criança e não fique o tempo todo fazendo com que ela volte ao passado, porque pode fazer com que ela se sinta mal. E principalmente, não use essa criança como um troféu social. Não use esse ato de amor, que é o apadrinhamento afetivo, para se promover nas redes sociais, para a família, para ninguém. O que ela espera agora é ser respeitada e ter seus direitos garantidos. Isso é muito importante para qualquer família que pense em apadrinhar", diz.
Inclusão
O presidente do Centro de Voluntariado de Apoio ao Menor (Cevam), Ananias Ferreira, explica que o programa é aberto para todos que querem fazer a diferença na vida de uma criança, sem exclusão de configuração familiar. “Não importa o estado civil. Pode ser solteiro, casado, divorciado, pessoas em união estável e casal homoafetivo. O importante é ter o coração aberto e o compromisso de acolher, que o afilhado se sinta bem, seja acolhido e recebido como membro daquela família”, afirma.
“O melhor presente que podemos dar neste Natal não está nas prateleiras, mas na capacidade de oferecer amor, cuidado e pertencimento. Essa é a essência do apadrinhamento afetivo. É esse o movimento que convidamos empresas e parceiros a abraçarem conosco”, destaca a coordenação da campanha.
"O processo é simples, mas quem encontrar alguma dificuldade pode ir até o Cevam ou enviar uma mensagem pelo WhatsApp: 3224-1022. Estamos à disposição para orientar e ajudar", afirma Ananias Ferreira, presidente do Cevam.
Serviço
Apadrinhamento afetivo
Data: inscrições até 28 de novembro
Local: Cevam - Rua dos Goitacazes, 71 (Conjunto 1.407) - Centro, Belo Horizonte
Mais informações: pelo WhatsApp: (31) 3224-1022