A enfermeira Brenda Cecilia Agüero foi condenada à prisão perpétua pela morte de cinco recém-nascidos e pela tentativa de assassinato de outros oito dentro do Hospital Materno Neonatal Ramón Carrillo, em Córdoba, na Argentina. A profissional da saúde começou a ser investigada depois que emergências médicas inexplicáveis surgiram nos bebês em um curto período de tempo.

Durante o julgamento, os promotores sustentaram que Brenda Agüero injetava potássio e insulina nos bebês. A administração dessas substâncias em doses letais teria provocado arritmias cardíacas e insuficiências respiratórias.

Laudos de autópsia confirmaram hipercalemia (excesso de potássio no sangue) em duas vítimas, compatível com injeção externa. Em outros casos, os níveis de insulina encontrados eram tão elevados que superavam os registros de pacientes adultos com câncer pancreático avançado.

Segundo especialistas ouvidos pelo tribunal, não havia justificativa médica para tais aplicações, o que reforçou a acusação de homicídio doloso.

O veredicto foi anunciado depois de seis meses de julgamento e mais de dez horas de deliberação do júri. Agüero foi condenada por homicídio qualificado e tentativa de homicídio, e cumprirá pena na Penitenciária de Bouwer, com possibilidade de liberdade condicional apenas após 35 anos.

Casos ocorreram em 2022

A primeira emergência relacionada ao caso foi registrada em março de 2022, quando um bebê saudável sofreu uma súbita insuficiência cardiorrespiratória. Nas semanas seguintes, outros recém-nascidos apresentaram crises semelhantes, sem que houvesse explicação médica plausível.

As mortes chamaram a atenção de dois neonatologistas do hospital, que apresentaram uma denúncia formal às autoridades. A investigação ganhou força em junho de 2022, quando dois bebês morreram e outros dois quase perderam a vida durante um mesmo plantão noturno.

A história de Sharon Tate, uma atriz promissora, e das outras vítimas é um lembrete trágico dos danos que cultos como o de Manson podem causar e dos horrores que o fanatismo pode gerar. Divulgação
Leslie foi liberada em uma cidade próxima de Los Angeles e encaminhada para um alojamento provisório, uma instituição de reabilitação, onde reaprendeu tarefas básicas como dirigir, fazer compras em um supermercado e usar um cartão de débito. reprodução globonews
Ela se encontrava presa na Califórnia por seu envolvimento em dois homicídios. O Departamento de Correções e Reabilitação da Califórnia emitiu uma declaração informando que Van Houten "foi liberada para supervisão de liberdade condicional". reprodução tv globo
Já Leslie Van Houten, uma das seguidoras de Manson, deixou a prisão em julho de 2023. Foram mais de 50 anos de cadeia para ela. reprodução youtube
Manson morreu na prisão em 2017, mas seu nome e os horrores que ele e seus seguidores causaram continuam sendo uma lembrança sombria da capacidade humana para o mal quando combinada com ideologias distorcidas e manipulação. domínio público
O caso de Manson foi um marco na história criminal dos Estados Unidos e trouxe à tona os perigos do extremismo e da manipulação psicológica. wikimedia commons Tony Webster
Seus seguidores, como Leslie Van Houten, Tex Watson e Susan Atkins, também foram sentenciados à prisão perpétua por sua participação ativa nos assassinatos. domínio público
No entanto, a sentença foi alterada para prisão perpétua após a moratória à pena de morte na Califórnia. Manson, que havia se tornado uma figura cultuada por seus seguidores, foi condenado por incitar os assassinatos, mesmo sem ter fisicamente cometido os crimes. domínio público
O caso foi investigado com grande repercussão midiática. Manson e seus seguidores foram julgados e, inicialmente, condenados à morte. reprodução globonews
Os LaBianca foram amarrados pelo próprio Manson, mas as facadas foram dadas por seus seguidores. Manson queria criar um cenário de caos e violência para colocar em prática sua visão apocalíptica e, ao mesmo tempo, fazer com que os crimes parecessem ser cometidos por afro-americanos. domínio público
O assassinato de Sharon Tate e amigos não foi o único crime cometido pela seita. No dia seguinte, Leno e Rosemary LaBianca também foram assassinados com 41 facadas, em uma tentativa de continuar com o plano de Manson. domínio público
Este crime, aliás, serviu de inspiração para o filme "Era uma vez em Hollywood" (2019), do diretor Quentin Tarantino. O longa, porém, reconstruiu a história de maneira ficcional, alterando inclusive o desfecho do caso. Brad Pitt e Leonardo DiCaprio estrelam o filme.
Manson controlava suas seguidoras com promessas de sobrevivência durante a guerra racial que ele acreditava estar por vir. reprodução globonews
O rancho, de propriedade de um homem idoso, George Spahn, foi o cenário de muitas das pregações e práticas de Manson, que envolviam drogas como LSD e orgias, além de ensinamentos de caráter messiânico e distorcido.
Os responsáveis pelas mortes eram jovens seguidores de Manson, entre eles Tex Watson, Susan Atkins, Patricia Krenwinkel e Leslie Van Houten (foto). Eles eram parte de uma seita maior, com mais de 100 membros, que viviam em um rancho nos arredores de Los Angeles. reprodução tv globo
Ele usou a música dos Beatles, de 1968 (do "Álbum Branco"), para justificar sua visão apocalíptica, manipulando psicologicamente seus seguidores. Para Manson, matar os inocentes era uma maneira de incitar esse caos, e ele acreditava que, ao fazer isso, poderia ascender ao poder. reprodução globonews
O líder da seita, Charles Manson, convenceu seus seguidores de que ele era uma figura messiânica e pregava uma teoria distorcida sobre uma guerra racial iminente. Manson acreditava que os assassinatos iriam desencadear um conflito entre brancos e negros, o que ele chamou de "Helter Skelter", nome de uma música famosa dos Beatles.
Todos foram brutalmente espancados, esfaqueados e baleados, com o sangue das vítimas usado para escrever palavras como "Pig" (porco) e "Helter Skelter (sem tradução exata)" nas paredes da casa. California Department of Corrections and Rehabilitation - Wikimédia Commons
Os assassinatos foram cometidos na casa de Sharon, localizada na Cielo Drive, e ficaram conhecidos como os Assassinatos Tate-LaBianca. Além de Sharon, perderam a vida naquela noite o cabeleireiro Jay Sebring, o roteirista Wojciech Frykowski, a milionária Abigail Folger e o vigia Steven Parent, que estavam na residência de Tate. reprodução globonews
Na madrugada de 9 de agosto de 1969, o assassinato brutal da atriz e modelo Sharon Tate e de outras quatro pessoas abalou Hollywood e o mundo. Tate estava grávida de oito meses e foi morta a facadas por membros de uma seita criminosa liderada por Charles Manson. Wikimedia Commons

Relatos de familiares e funcionários indicavam marcas de agulha nos corpos das crianças, inclusive uma “picada nas costas” em um dos casos. Esses indícios levaram os médicos a revisarem protocolos e questionarem a aplicação de medicamentos.

Ao longo do julgamento, mães e pais das vítimas contaram como foi perder seus filhos. Uma mulher relatou ter visto Agüero pegar seu bebê, virar-se de costas e devolver a criança instantes antes de ela sofrer uma parada respiratória.

No total, oito bebês sobreviveram, mas alguns carregam sequelas irreversíveis. Um deles teve danos neurológicos graves, atribuídos à aplicação de insulina. Outro desenvolveu escoliose severa, consequência de uma injeção de potássio nas costas.

Traços narcisistas

Durante o julgamento, foram apresentados relatórios psiquiátricos que descreviam Agüero como alguém com traços narcisistas e excêntricos, falta de empatia e prazer diante do sofrimento alheio. Para o tribunal, a motivação para os crimes era o desejo de ser reconhecida e de acelerar o avanço na carreira dentro do hospital.

“Ela estava brincando de Deus. Decidia quem vivia e quem morria”, declarou uma das promotoras. Apesar das provas apresentadas, Agüero insistiu em sua inocência até o fim. Na declaração final ao tribunal, disse ser um bode expiatório das falhas sistêmicas do hospital.

“Eu não sou aquele monstro que criaram na mídia. Eu entendo a dor das mães, mas não sou a assassina em série que fizeram todo mundo acreditar”, declarou, segundo o Buenos Aires Herald.

A enfermeira foi presa preventivamente em 19 de agosto de 2022, e desde então aguardava o desfecho do processo atrás das grades.

Outras condenações

Além de Brenda Cecilia Agüero, outras cinco pessoas foram condenadas pelas mortes e respondem aos crimes de ocultação e omissão de dever.

  • Liliana Asís, ex-diretora do hospital, e Alejandro Escudero Salama, ex-subsecretário administrativo, foram condenados a 64 meses de prisão;
  • Martha Gómez Flores, ex-chefe de neonatologia, recebeu pena de cinco anos de prisão;
  • María Luisa Moralez, ex-coordenadora de segurança do paciente, foi condenada a cinco anos, mas a pena foi suspensa;
  • Pablo Carvajal, ex-secretário provincial de saúde, recebeu quatro anos de prisão, também em regime suspenso.

Todos permanecem em liberdade sob fiança enquanto aguardam o julgamento final de recursos.

Os jornais argentinos destacam que o caso expõe não só a mente criminosa de Agüero, mas também falhas graves de gestão hospitalar e fiscalização pública. O atraso em identificar os padrões das mortes, a ausência de protocolos de segurança e a demora na adoção de medidas protetivas foram apontados como fatores que contribuíram para a tragédia.

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Para a sociedade argentina, o episódio tornou-se um alerta sobre a importância de transparência e controle rigoroso em unidades de saúde, especialmente em setores tão sensíveis como o atendimento neonatal.

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