Multidões comemoram acordo de paz em Gaza e esperam retorno de reféns
Hamas e Israel assinaram acordo no Egito após quatro dias de negociações indiretas nas quais participaram os Estados Unidos, Catar e Turquia
compartilhe
SIGA

Israelenses e palestinos comemoram, nesta quinta-feira (9/10), o anúncio de um acordo de paz que deve encerrar formalmente o conflito em Gaza e garantir a libertação de reféns e prisioneiros. O pacto, mediado por países árabes e pelos Estados Unidos, representa o passo mais significativo rumo à estabilidade desde o início da guerra, em 2023.
A Praça dos Reféns, em Tel Aviv, foi tomada por bandeiras e cânticos, com pessoas visivelmente emocionadas. Centenas de israelenses se reuniram para celebrar a notícia, agitando bandeiras nacionais com fitas amarelas — símbolo dos que ainda estão em cativeiro.
Leia Mais
Familiares dos reféns falaram ao telefone com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para agradecer pela mediação.“Isso é incrível, senhor presidente. Acreditamos em você. Sabemos o quanto o senhor fez por nós desde que assumiu o cargo”, disse um dos familiares a Trump, de acordo com a CNN.
“Cuidem-se. Os reféns vão voltar na segunda-feira”, respondeu o americano. A fala provocou aplausos e gritos de alegria entre os presentes.
Entre os que comemoravam estava Einav Zangauker, mãe do refém Matan Zangauker, ainda mantido em cativeiro pelo Hamas. Emocionada, ela se juntou aos cânticos que diziam “Traremos Matan de volta”, entoados pela Frente Rosa, movimento que se opõe ao governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. “Depois de tanto sofrimento, é como se o mundo voltasse a respirar”, resumiu Hila Ramati-Harel, participante das celebrações em Israel, à CNN.
Com roupas e faixas cor-de-rosa, o grupo batia tambores e dançava enquanto tentava transmitir força e otimismo à mãe. “Hoje, o som das explosões foi substituído por aplausos”, disse um dos manifestantes ao NY Times, com os olhos marejados.
Em Khan Younis, no sul de Gaza, centenas de palestinos saíram às ruas após o anúncio do acordo. Perto do Hospital Nasser, moradores entoaram orações, soltaram fogos e borrifaram espuma festiva, enquanto crianças desfilavam fazendo o sinal de vitória.
“Depois de tanta dor, é a primeira vez que sentimos esperança”, disse Amina Abu Salem, de 42 anos, moradora local, ao repórter da CNN.
Declaração formal encerrará a guerra
Em entrevista à Al-Araby TV, do Catar, Osama Hamdan, alto funcionário do Hamas, afirmou que a libertação dos reféns só ocorrerá após uma declaração formal que encerre a guerra em Gaza. “O principal ponto que nos permitiu entrar neste acordo é que ele encerra a guerra. Deve ser anunciado formalmente. Isto não é um cessar-fogo — é uma declaração pelo fim da guerra”, disse.
O dirigente confirmou que o acordo prevê a libertação de 250 prisioneiros palestinos condenados à prisão perpétua, além de 1.700 detidos em prisões israelenses. O Hamas também declarou estar satisfeito com as garantias americanas e anunciou a abertura de cinco cruzamentos para entrada de ajuda humanitária, com 400 caminhões no primeiro dia e 600 diariamente nos seguintes, supervisionados por agências internacionais.
De acordo com a imprensa internacional, Israel deverá ainda se retirar de áreas densamente povoadas, como Cidade de Gaza, Rafah, Khan Younis e o norte da Faixa de Gaza, a partir da manhã de sexta-feira, para permitir a movimentação segura dos militantes que organizarão a libertação dos reféns.
Segundo o Hamas, Gaza passará a ser governada por um comitê de palestinos independentes, formado por 40 líderes indicados por diferentes facções, sem interferência de Israel. Questionado sobre o futuro das armas do grupo, Hamdan disse que o assunto não foi tratado no acordo de paz. “Essas armas não estão em discussão. Precisamos de um acordo sobre nosso projeto nacional e de libertação”, declarou.
Corpos de líderes do Hamas não serão devolvidos
Apesar do avanço diplomático, os corpos dos líderes militares do Hamas mortos — Yahya e Mohammed Sinwar — não serão incluídos no acordo de cessar-fogo, informou uma autoridade israelense à CNN. Yahya Sinwar, considerado o homem mais procurado de Israel por ter planejado o ataque de 7 de outubro de 2023, foi morto em Gaza em outubro de 2024.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
O irmão mais novo, Mohammed Sinwar, sucedeu no comando das Brigadas Al-Qassam, braço armado do Hamas, e também foi morto por forças israelenses em 2025. O corpo foi recuperado em junho deste ano. Segundo a fonte, Israel não pretende liberar os corpos dos irmãos, considerados responsáveis por “crimes de guerra e massacres” durante o ataque de 2023.