Diante da expectativa de receber cerca de 50 mil visitantes para a COP30, que acontecerá em novembro de 2025, a cidade de Belém (PA) enfrenta uma corrida contra o tempo para ampliar sua capacidade hoteleira. A escassez de leitos e a disparada nos preços de hospedagem levaram a soluções pouco convencionais, e uma delas ganhou destaque na imprensa internacional: a adaptação de motéis brasileiros para abrigar diplomatas, cientistas, ativistas e representantes de mais de 190 países.

No último domingo, o The New York Times publicou uma reportagem que surpreendeu leitores ao apresentar os esforços dos proprietários de motéis para remodelar os quartos originalmente decorados com apelo erótico.

Em um dos estabelecimentos visitados pelo jornal, camas foram trocadas, espelhos do teto cobertos por madeira e mastros de pole dance removidos - tudo para garantir um ambiente mais neutro e funcional. Em outro motel, o Love Lomas, a gerência informou que oferecerá a opção de retirada da cadeira erótica e estuda mudanças nos cardápios, que ainda incluem cervejas, hambúrgueres e até o aluguel de brinquedos sexuais.

Apesar das adaptações, o estigma em torno desses locais persiste. "As pessoas acham que é como um bordel. Mas é apenas um espaço como qualquer outro", declarou o administrador de um motel ao NYT. A publicação classificou a situação como curiosa, especialmente para estrangeiros pouco familiarizados com a cultura dos motéis no Brasil, onde esses estabelecimentos são populares entre casais em busca de privacidade e costumam cobrar por hora.

Além do esforço para transformar quartos sensuais em ambientes mais neutros, os preços também se tornaram um fator polêmico. Segundo o NYT, diárias que antes custavam cerca de US$ 150 subiram para até US$ 650 (cerca de R$ 3.640). Hotéis convencionais, por sua vez, chegam a cobrar mais de US$ 1.000 (R$ 5.542,50) por noite, o que tem causado desconforto entre países em desenvolvimento e insulares - justamente os mais impactados pelas mudanças climáticas e que esperam participação na COP com custos acessíveis.

A possibilidade de uma crise diplomática não passou despercebida pelas autoridades brasileiras. O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, revelou que houve pressão internacional para que o Brasil transferisse o evento de Belém para outra cidade, devido aos preços abusivos. Ele alertou que parte do setor hoteleiro local ainda não entendeu a gravidade da situação.

Para tentar conter os danos, o governo anunciou medidas emergenciais, como o aluguel de dois navios de cruzeiro com 6 mil leitos, voltados especialmente para delegações de países em desenvolvimento, com diárias subsidiadas de até US$ 220 (R$ 1.219).

Escolas públicas estão sendo adaptadas com camas, clubes esportivos estão sendo convertidos em alojamentos e moradores da cidade têm reformado suas casas para aluguel temporário. Além disso, uma plataforma oficial de hospedagens foi criada para organizar as reservas, inicialmente restrita a delegações diplomáticas, com mais de 2 mil imóveis cadastrados.

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Mesmo com todas essas iniciativas, grande parte das obras ainda não foi finalizada, e a cidade segue com déficit de milhares de leitos. A adaptação dos cerca de 2.500 quartos de motéis da cidade surge, assim, como uma resposta prática, ainda que controversa, à urgência da demanda.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice

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