O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o vice-governador Mateus Simões (Novo) deram sinais, ontem, em Belo Horizonte, de que um acordo em torno de uma candidatura única da direita ao Executivo mineiro pode ser selado. Bolsonaro esteve na capital mineira para um evento do PL e foi acompanhado, em toda sua agenda, por Simões, pré-candidato ao governo do estado em 2026. Sucessor natural de Romeu Zema (Novo), que está em missão oficial na Ásia, Simões trabalha nos bastidores para unificar os nomes à direita em torno de sua candidatura.
Os dois estiveram juntos na Cidade Administrativa, sede do governo de Minas, depois almoçaram e seguiram para um evento do PL na Pampulha. Mais cedo, em rápida conversa com a imprensa sobre a pauta da reunião com Simões na sede do governo, Bolsonaro disse que foi apenas um bate-papo. Mas nos discursos durante o evento, Bolsonaro, Simões e o presidente do PL mineiro, deputado federal Domingos Sávio, pregaram, tanto no plano nacional quanto no estadual, união em 2026 para derrotar o PT.
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“Vamos conversar com Mateus Simões, com Zema, com outros partidos. Não podemos perder essa última chance que nós temos de mudar o nosso Brasil. A gente sempre fala, o Brasil é fantástico, ninguém tem o que temos”, afirmou Bolsonaro. O ex-presidente também defendeu que os parlamentares mais jovens aguardem mais um pouco para adquirir experiência antes de tentar uma vaga no Executivo. “Eu vejo os mais jovens se arvorando, se acotovelando para serem candidatos a cargos no Executivo. Espere um pouco mais, a experiência vai fazer você pensar melhor sobre aquilo que você quer. Não podemos deixar que esses jovens se queimem”, afirmou.
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“MEDALHA 3Is”
Simões chegou a ser agraciado pelo ex-presidente com a “medalha 3is”, que significa “imbrochável”, “imorrível” e “incomível”, criada por Bolsonaro para agraciar apoiadores e aliados próximos. “Queria ofertar a medalha 3is ao nosso vice-governador Mateus Simões. Olha a responsabilidade, hein?”, brincou o ex-presidente ao entregar a insígnia a Simões. Durante todo o evento do PL, realizado em uma casa de festas na Pampulha, Simões ficou ao lado do ex-presidente e cantarolou timidamente “Volta, Bolsonaro”.
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O ex-presidente está inelegível após ser condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político e econômico. Simões também ofereceu ajuda ao ex-presidente em alguns momentos em que ele parecia não estar se sentindo bem. Bastante magro e um pouco afônico, Bolsonaro soluçou durante todo o evento.
“EXTIRPAR O PT”
Escalado para discursar antes de Bolsonaro, Simões defendeu “união para garantir PT nunca mais”. “Que o Lula seja extirpado da história de Minas Gerais e do Brasil. Conte conosco para que a gente mantenha o PT e a esquerda longe do poder porque eles destroem tudo por onde passam”, afirmou Simões. O vice-governador também agradeceu os discursos anteriores e chegou a citar pessoalmente a fala do deputado estadual Eduardo Azevedo (PL), irmão do senador Cleitinho (Republicanos), que aparece em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para o governo de Minas. Anunciado como um dos participantes do evento, Cleitinho não compareceu.
Azevedo foi um dos que defenderam a união do centro e da direita em Minas. Simões tenta convencer Cleitinho a não disputar o governo do estado e compor com ele, que pode até mudar para o PSD, numa articulação que envolveria uma aliança para a disputa presidencial e no estado. No entanto, isso só seria possível se o senador Rodrigo Pacheco, também pré-candidato ao governo de Minas, deixar a legenda. Simões já disse que se Pacheco sair da legenda, quer ser o primeiro a conversar com o PSD.
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No discurso, Simões lançou um alerta aos apoiadores de Bolsonaro. Afirmou que os votos são suficientes para recolocar a direita no poder. Segundo o vice-governador, não é necessário nenhum tipo de subterfúgio para voltar a comandar o país.“A união [da direita] vai garantir que vamos tomar de volta o Brasil no voto. Não há necessidade de fazer nada diferente do que ir às ruas e às urnas votar", afirmou. Bolsonaro e outros integrantes do seu governo são réus por tentativa de golpe de Estado após serem derrotados na eleição presidencial de 2022.
DIÁLOGO
Bolsonaro não deu entrevista durante sua passagem pela capital e escalou Domingos Sávio para falar. O presidente do PL mineiro reforçou a necessidade de união. Segundo ele, Bolsonaro delegou à legenda no estado a tarefa de unir centro, “centro-direita e direita”. “Nós, em Minas Gerais, temos a tarefa de unir centro, centro-direita e direita. Temos que dialogar. Portanto, a ida do presidente Bolsonaro à Cidade Administrativa, além de tratar da derrubada, através do PL, dos vetos que prejudicam Minas através do Propag, é claro que também foi um gesto de abrir um diálogo político mais propositivo”, afirmou Sávio, se referindo ao Programa de Pleno Pagamento das Dívidas dos Estados (Propag). Zema trabalha para derrubar os vetos de Lula a esse programa.
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E, de acordo com o parlamentar, a presença do vice-governador, acompanhando o ex-presidente durante todo o dia, é um aceno também de Zema. “E que ele também compreende que é preciso fazer um esforço de união em Minas Gerais”, afirmou Domingos Sávio, que é um dos pré-candidatos do PL a uma das duas vagas ao Senado que estarão em disputa ano que vem.