Efeitos do tarifaço são classificados como imensuráveis pelo Agro mineiro
Café é o principal produto exportado por Minas para os Estados Unidos. Faemg avalia que cenário também tende a encarecer insumos importados
compartilhe
Siga noO setor agropecuário mineiro vê com preocupação a tarifa de 50% anunciada para as exportações brasileiras aos Estados Unidos, medida que foi divulgada nessa quarta-feira (9/7) pelo presidente Donald Trump. E a preocupação é justificada, já que, em 2024, pela primeira vez, as exportações do agronegócio mineiro ultrapassaram o setor de mineração em Minas Gerais.
Leia Mais
“O aumento das tarifas afeta diretamente o setor produtivo, especialmente as exportações do agronegócio brasileiro, com destaque para carnes, produtos florestais, café, suco de laranja, açúcar e etanol, que são os principais itens da pauta exportadora do Brasil para aquele mercado”, posicionou, em nota, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), que representa o setor.
O produto mineiro mais exportado para os Estados Unidos é o café. Para se ter ideia, de janeiro de 2021 a junho de 2025, o grão rendeu US$ 5.673.607.648 (R$ 31,5 bilhões) ao estado em exportação para os americanos. Para se ter ideia de como o café é importante, o segundo colocado na lista é o ferro-gusa, usado na produção de aço e ferro fundido, que somou US$ 3.996.790.696 (R$ 22 bilhões).
De acordo com Antônio de Salvo, presidente da Faemg, o café realmente é muito importante na pauta de importações mineiras para os Estados Unidos: “Minas é o maior produtor do Brasil e o maior exportador. E os Estados Unidos são um grande comprador. Se isso se consolidar, vamos ter muitos problemas. Eles também, porque não vão ter de quem comprar”. Ele ainda aponta produtos agropecuários de Minas Gerais muito consumidos pelos Estados Unidos: a celulose, o açúcar, o etanol e o suco laranja.
O estado ainda é relevante na exportação de carnes para os americanos. No primeiro semestre de 2025, Minas Gerais foi o terceiro estado brasileiro que mais exportou “carnes e miudezas comestíveis” para os Estados Unidos, somando 18.796 toneladas e faturando US$ 103.806.417 (R$ 575 milhões). Os Estados Unidos são um cliente importante nesse setor. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), em 2024 o país foi o segundo maior comprador de carne bovina do Brasil, com 229.808 toneladas. Desse total, Minas Gerais exportou 26.604 toneladas.
Para o presidente da Faemg, a perda de um mercado como o dos Estados Unidos tem consequências sérias. “Você vai entupir o mercado interno, porque nenhum mercado absorve esse volume de produção, e você despenca o preço. Com isso, o produtor deixa de produzir e dispensa gente. E Minas Gerais vira um problemaço, porque temos hoje como principal atividade econômica de exportação os produtos da agricultura e da pecuária. Outra possibilidade é conseguir outro comprador, que vai pagar 1/3 do que pagava, que também dá no mesmo problema. Então, você desestrutura as cadeias comerciais com tarifas”, avaliou.
De Salvo criticou o posicionamento do governo brasileiro que resultou na alta da tarifa americana aos produtos exportados pelo Brasil. Na visão do presidente da Faemg, o Brasil deixou misturar um posicionamento com relação aos BRICS e atrapalhou a vida dos setores produtivos do país que governa. Para ele, se o governo federal não negociar essa tarifa com os Estados Unidos, alguém do setor produtivo, seja ele da indústria ou da agricultura, vai ter que negociar.
A Faemg ainda afirmou que esse cenário tende a encarecer insumos importados e comprometer o desempenho das cadeias produtivas, prejudicando produtores e consumidores. Na visão de De Salvo, o setor agropecuário vive um momento delicado, se referindo ao Plano Safra do governo Federal, e que é preciso continuar tendo juízo para não piorar a situação. Ele ressalta a importância de ter um ambiente estável para que o produtor possa investir na sua próxima safra.
E explica que, se o produtor optar por não investir, milhões de toneladas de adubo, defensivos agrícolas, de sementes, óleo diesel, horas de trator e mão de obra deixarão de ser consumidos.
Para o presidente da Faemg, o efeito dessa taxação é “catastrófico” e “no mínimo, imensurável”. “Isso não é uma vendinha, onde você pode perder um ou dois clientes e vai eventualmente achar outros ali na outra esquina. É um negócio muito grande. Nossa relação comercial com os Estados Unidos tem mais de 200 anos e ela é de mão dupla.”
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia