Damião sobre tarifaço: 'Não tô do lado de ninguém, tô do lado do povo'
Para Damião, disputa política não deveria ser o foco da discussão neste momento. Trump impôs tarifas de 50% a produtos importados brasileiros
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Siga noO prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União Brasil), voltou a tecer críticas a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% a produtos importados do Brasil. Em entrevista à Rádio Tupi, do Diários Associados, nesta quarta-feira (24/7), Damião afirmou que a medida afeta negativamente o país como um todo e condenou o uso político do episódio. "Não tô do lado de ninguém, tô do lado do povo", disparou.
Para o prefeito da capital mineira, "não tem ninguém ganhando" com o tarifaço imposto pelo governo estadunidense. "Eu não consigo entender quem é que vai ganhar com isso no Brasil. Não tem ninguém ganhando com isso. O país todo vai perder. Belo Horizonte está perdendo, o Rio, o Estado de Minas Gerais por um todo está perdendo. São Paulo está perdendo muito. O Brasil todo perde com isso”, afirmou o prefeito.
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A medida anunciada por Trump no início de julho tem gerado fortes reações no meio político e intensificado ainda mais a polarização do país. Para Damião, no entanto, a disputa política não deveria ser o foco neste momento.
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"A discussão política, a gente não tinha que estar envolvido nisso não. A senhora que está me ouvindo aí em Belfort Roxo, em Santa Cruz, em Madureira... a senhora não tem nada a ver com briga política, briga de família política, um contra o outro. Não tem nada a ver isso com a história do país e com a economia do país".
O prefeito evitou comentar diretamente se a medida é correta ou não, mas criticou os efeitos práticos da tarifa. "Eu não vou falar se é certo ou se é errado a forma como foi feito, porque aí você já entra numa seara política. Quem falar que é certo, está do lado cá, quem falar que é errado, está do lado de lá. Eu não tô do lado de ninguém. Eu tô do lado do povo brasileiro", afirmou.
Segundo Damião, a decisão do governo americano impacta diretamente os consumidores, especialmente os mais pobres. "É muito ruim você ver que o país, pra resolver um problema político, ataca o país inteiro. Sem saber se essa senhora pode ou não pode pagar uma carne mais cara lá no Nordeste brasileiro", concluiu.
Confira a entrevista na íntegra
Tarifaço
As declarações de Damião vêm na esteira da decisão de Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos importados brasileiros. Além disso, o governo estadunidense anunciou a abertura de uma investigação formal sobre atos, políticas e práticas do governo brasileiro em relação ao comércio digital e sistemas de pagamento eletrônico, o que inclui o Pix.
Trump, ao anunciar as tarifas, enviou uma carta ao governo brasileiro na qual associa as medidas à "repressão à liberdade de expressão" no país. O republicano também classificou a relação comercial com o Brasil como "desequilibrada" e citou o tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro como um dos principais motivos para a medida.
Inicialmente, o próprio deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, afirmou que a decisão era fruto de um lobby pessoal que ele promovia junto a autoridades norte-americanas desde o início do ano. Após inúmeras críticas a conduta do parlamentar, Eduardo passou a negar o envolvimento com o tarifaço e sustenta que sua atuação visava apenas sanções individuais contra Moraes.
Em reação à ofensiva norte-americana, Lula assinou na semana passada o decreto que regulamenta a Lei da Reciprocidade. A medida estabelece que o Brasil poderá aplicar, de forma proporcional, sanções a cidadãos e governos estrangeiros que adotarem barreiras comerciais, restrições diplomáticas ou qualquer medida que afete interesses nacionais. O instrumento permite, por exemplo, a retaliação na concessão de vistos ou nas relações econômicas.
Leia a carta de Trump que comunica a decisão na íntegra:
Prezado Sr. Bolsonaro:
Tenho visto o tratamento terrível que você está recebendo pelas mãos de um sistema injusto voltado contra você. Esse julgamento deve acabar imediatamente! Não me surpreende vê-lo liderando nas pesquisas; você foi um líder altamente respeitado e forte, que serviu bem ao seu país.
Compartilho seu compromisso de ouvir a voz do povo e estou muito preocupado com os ataques à liberdade de expressão — tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos — provenientes do governo atual. Tenho manifestado fortemente minha desaprovação tanto publicamente quanto por meio da nossa política tarifária.
É minha sincera esperança que o Governo do Brasil mude de rumo, pare de atacar os opositores políticos e acabe com esse regime ridículo de censura. Estarei observando de perto.
Sinceramente,
Donald J. Trump"