Tempo de TV e fundo partidário são desafios do Novo na campanha de Zema
Lançamento da pré-candidatura antecipada tem como objetivo tornar o governador conhecido e "driblar" a cláusula de barreira
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Siga noO partido Novo aposta na candidatura do governador Romeu Zema (Novo) à Presidência da República para manter o crescimento dos seus quadros. No sábado (16/8), o chefe do Executivo Mineiro foi lançado na corrida pelo Palácio do Planalto faltando pouco mais de um ano e dois meses para o pleito, tempo que deve ser usado para consolidar o nome de Zema e trabalhar alianças que ajudem a contornar as limitações da chamada “cláusula de barreira”.
Instituído pela Emenda Constitucional 97 de outubro de 2017, o mecanismo cria duas condições para que os partidos tenham acesso ao fundo partidário e, principalmente, o tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão: um percentual mínimo de 2% dos votos válidos para a Câmara dos Deputados; ou a eleição de 11 deputados distribuídos em um terço das unidades da Federação. Em 2022, a legenda não atingiu nenhum desses critérios.
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Em coletiva de imprensa, o presidente nacional do Novo, Eduardo Ribeiro, minimizou os impedimentos da legislação eleitoral. “Não tenho preocupação com a cláusula de barreira. Hoje, nós já temos uma nominata para deputado federal que vai bater com facilidade a cláusula. Nós com certeza vamos chegar em um padrão de um partido médio para grande já nas próximas eleições”, disse.
Ribeiro destacou a candidatura de Zema como um trunfo para o partido, ressaltando a fase de maior experiência em relação às últimas duas eleições presidenciais. Em 2018, o Novo lançou o empresário João Amoedo, que terminou o primeiro turno em quinto com 2,6 milhões de votos. Já em 2022, a aposta foi no cientista político Felipe D’Avila, dono de apenas 559 mil votos.
Para o presidente do Novo, o momento de indefinição nos outros partidos sobre quem será o candidato propicia uma largada na frente para tornar Zema conhecido. “É o governador reeleito do segundo maior colégio eleitoral e nosso principal líder. Então, acho que a gente tem essa condição de largar na frente, apresentar Zema para o resto do Brasil e vencer essa dificuldade de ser desconhecido. Ele é muito bem votado e a gente tem pesquisas que mostram a capacidade dele de converter conhecimento em intenção de voto. Nosso trabalho é torná-lo conhecido”, destacou.
Tempo de TV e rádio
Se no momento da pré-campanha a cláusula de barreira não tem impacto, a escassez de tempo na televisão e rádio pode dificultar a empreitada em 2026. Tomando como exemplo as eleições municipais de 2024, o Novo se alinhou ao Republicanos na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte. Na ocasião, sem a contribuição do partido de Zema, a campanha do deputado estadual Mauro Tramonte teve apenas três minutos e meio de inserções diárias.
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Em comparação, a coligação vitoriosa do prefeito Fuad Noman (1947-2025), com seis partidos e um total de 138 deputados na Câmara, teve 10min49s de inserções. A campanha do deputado estadual Bruno Engler (PL), que contou com o apoio do PP, rendeu 146 representantes e 11min25s de propaganda eleitoral gratuita.
Questionado sobre como negociar alianças que possam aumentar o tamanho da campanha do governador mineiro, Eduardo Ribeiro disse que as articulações vão ocorrer no “momento oportuno”. “O primeiro passo é colocar a pré-candidatura de Zema na rua. Depois começar a conversar com partidos que concordem com as nossas pautas, que tenham essa vontade de caminhar conosco, para aí sim a gente aumentar essa estrutura de campanha em 2026”, completou.
Futuro do Novo
Bater a cláusula de barreira é ainda visto como essencial para a sobrevivência do Novo. Nos últimos anos, as restrições impostas pela legislação ao acesso do fundo partidário fizeram com que as siglas buscassem alianças em forma de incorporações, fusões e federações. Em 2023, por exemplo, a fusão entre o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Patriota fez surgir o Partido Renovação Democrática (PRD).
O fundo partidário, além de poder ser usado para financiar campanhas eleitorais, tem como principal objetivo custear as atividades rotineiras das legendas, como pagamento de água, luz, aluguel e passagens aéreas. Em julho, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, foram distribuídos R$ 88 milhões - o PL e PT receberam a maior parte devido ao tamanho de suas bancadas, com R$ 15 milhões e R$ 11 milhões respectivamente
Em entrevista ao Estado de Minas, o presidente do Novo em Minas Gerais, Christopher Laguna, disse que o partido planeja eleger 15 deputados federais. No estado, os planos são para três representantes na Câmara dos Deputados. Apesar de Zema ter sido reeleito em primeiro turno com seis milhões de votos, o Novo-MG não conseguiu eleger parlamentares no Congresso.
“A importância da gente ter um presidenciável é, principalmente, bater a cláusula de barreira. E o Zema vai ser o grande puxador disso. Obviamente, é uma campanha que ainda tem um ano pela frente. Pode ser que lá na frente o Bolsonaro, recuperando os direitos dele, a gente não dispute. Mas, de certa forma, precisa ter um presidenciável para ter bons candidatos, para apresentar esses candidatos para os mineiros e para o Brasil, e a gente conseguir bater as barreiras, o que é importantíssimo para continuação do Novo”, disse.
Outro empecilho que o Novo pode ter na empreitada é a distribuição de recursos do Fundo Eleitoral, criado após o fim das doações de pessoas jurídicas para as campanhas. O mecanismo não depende da cláusula de barreira, mas limita os valores enviados aos partidos de acordo com a representação no Congresso.
Em 2024, foram distribuídos R$ 4,9 bilhões, mas o Novo teve apenas R$ 37,1 milhões, cerca de 0,75% da fatia. O PL e o PT novamente abocanham uma parte considerável do fundo. A legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu R$ 886,8 milhões (17,87%), enquanto os petistas levaram R$ 619,8 milhões (12,49%).