Aprovação da urgência da anistia acirra disputa nas redes
A disputa pelo tema é também nas redes sociais. De um lado, bolsonaristas celebram a aprovação da urgência. Do outro, a esquerda já mobiliza manifestações
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As redes sociais se transformaram em palco de confronto logo após a Câmara dos Deputados aprovar, na quarta-feira (17/9), o requerimento de urgência do projeto de anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos.
De um lado, bolsonaristas celebraram em letras maiúsculas com a tag #AnistiaJá e frases como “grande dia” e “chega de injustiça”. Do outro, opositores reagiram em tom de indignação com o #SemAnistia, acompanhando fotos de parlamentares que votaram a favor da proposta com mensagens como “lembre sempre” e “a cara do Congresso”.
Vídeos circularam com o verso “sua piscina está cheia de ratos”, da música O Tempo Não Para, de Cazuza, embalando a mobilização digital.
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Entre apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), as mensagens comemoraram a votação como vitória contra o Judiciário e exaltaram o ex-presidente. O vídeo publicado pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) em homenagem a Bolsonaro foi amplamente compartilhado, com usuários afirmando que poderia “furar a bolha e chegar a 1 bilhão de visualizações”. O deputado mineiro, inclusive, ganhou destaque entre internautas mais à direita. Em algumas postagens, até mesmo a tag #NikolasPresidente foi utilizada.
Na oposição, o tom foi de raiva pela aprovação da urgência. Internautas afirmaram que “a anistia não vai passar” e convocaram manifestações em todo o país. Circularam montagens com Jair Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) chorando, usadas em tom de ironia, além de imagens do ministro Alexandre de Moraes, o “Xandão”, exaltado como símbolo da resistência ao perdão.
Também ganharam espaço cards com frases como “sem anistia” sobrepostas a fotos do plenário lotado e vídeos que transformavam manchetes da votação em charges críticas. Em grupos ligados a movimentos de esquerda, a palavra de ordem foi intensificada por montagens que buscavam fixar a lembrança do resultado e convocar para os atos do fim de semana.
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O clima de disputa também se refletiu nas declarações no plenário. Entre os favoráveis à urgência, Nikolas Ferreira disse que a votação mostrou que “agir com prudência e firmeza permite atingir objetivos antes considerados impossíveis”.
O deputado Eros Biondini (PL-MG) afirmou que pais e mães de família receberam penas que, segundo ele, “nem traficantes ou estupradores têm”. Junio Amaral (PL-MG) reforçou: “obviamente, votei sim”.
Em oposição, Duda Salabert (PDT-MG) chamou a aprovação de “vergonha nacional” e declarou que “a anistia não vai passar”. Rogério Correia (PT-MG) afirmou que, enquanto o presidente Lula (PT) sancionava a Lei Felca, a Câmara promovia “um show de horrores”. O líder do PT na Casa, Reginaldo Lopes (PT-MG), classificou a decisão como “crime contra o Estado Democrático de Direito”.
De volta às ruas
A mobilização contra a proposta ganhou o reforço da classe artística. Nomes como Caetano Veloso, Sandra de Sá, Anitta, Marcos Palmeira, Mateus Solano, Fernanda Abreu e outros se somaram à convocação de protestos marcada para domingo (21/9), que já havia sido anunciada por deputados do PSOL, como Guilherme Boulos, Erika Hilton e Tarcísio Motta.
Os artistas pedem reação nas ruas contra o que chamam de tentativa de institucionalizar a impunidade, e suas falas foram amplamente reproduzidas em vídeos e posts. Em Belo Horizonte, até agora não há horário definido para o ato.
Fora das redes
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) disse ontem, quinta-feira (18), que a anistia é tema do Legislativo, mas lembrou que “ninguém está acima da lei” e que cabe ao Judiciário a palavra final. Em Fortaleza, após evento da Coalizão Global para Alimentação Escolar, também defendeu a reforma do Imposto de Renda como prioridade do governo.
Na Câmara, o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) escolheu Paulinho da Força (Solidariedade-SP) como relator do projeto. A indicação dividiu a base bolsonarista: enquanto o líder do PL, Sóstenes Cavalcante, elogiou o nome, apoiadores criticaram vídeos antigos de Paulinho em defesa de Alexandre de Moraes e do governo Lula. A expectativa é de que ele apresente, nas próximas semanas, um parecer moderado, prevendo redução de penas, mas não o perdão amplo desejado por bolsonaristas.
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O requerimento de urgência foi aprovado por 311 votos a 163, permitindo que o texto siga direto ao plenário. O projeto trata de anistiar crimes ligados a manifestações e ataques às instituições desde 30 de outubro de 2022, data do segundo turno que levou Lula ao Planalto pela terceira vez. PT, PCdoB, PV, PSOL, MDB e PDT votaram contra.