OPERAÇÃO REJEITO

Duda vê dificuldade para CPI e diz que rejeição revela 'rabo preso'

Deputada aponta que ausência de assinaturas é sinal de alinhamento com interesses do esquema investigado; Operação Rejeito já expôs conexões entre políticos

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A deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) reconhece que terá dificuldade para reunir as 171 assinaturas exigidas para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a investigar fraudes e corrupção ligadas ao lobby da mineração e às licenças ambientais no setor. Para ela, no entanto, a recusa dos colegas em apoiar a iniciativa será, por si só, reveladora. “Quem não assinar estará dando um atestado de que tem rabo preso com essa máfia”, afirmou em entrevista ao Estado de Minas.

O pedido foi protocolado na Câmara nessa quarta-feira (17/9), em meio à forte repercussão da Operação Rejeito, da Polícia Federal, que desmontou um esquema de corrupção bilionário envolvendo fraudes no licenciamento ambiental para mineradoras em Minas Gerais. Duda avalia que a eventual rejeição da CPI significará, na prática, a confirmação de que o Parlamento está capturado pelos interesses daquilo que ela chama de “máfia da mineração”.

“Nós sabemos que essa máfia da mineração tem grande influência no Congresso, seja no Senado, seja na Câmara dos Deputados. Teremos dificuldades para conseguir todas as assinaturas. Mas, se a gente não conseguir, já é uma assinatura, porque a sociedade vai saber quais deputados têm rabo preso”, afirmou.

Ela classifica Minas Gerais como “o epicentro da corrupção que rouba minério, financia campanhas e desmonta a legislação ambiental”. A parlamentar reforça que a investigação é urgente para “romper a captura de órgãos públicos por interesses privados”, raiz de tragédias como os rompimentos das barragens em Mariana e Brumadinho.

“O que a gente percebe é que há uma estrutura de corrupção que roubou minério da Serra do Curral e de outras serras de Minas. Com esse dinheiro do mineiro roubado, patrocinou campanhas eleitorais, e esses políticos eleitos, por meio do dinheiro ilícito, estão desmontando a legislação ambiental e fraudando o licenciamento ambiental”, disse.

Para a deputada, o alcance da operação mostra que os presos até agora “são peixes pequenos”. “Urge fazer essa CPI e, digo, se ela avançar, veremos deputados estaduais e federais sendo presos”, disparou.

Impacto político da Operação Rejeito

Deflagrada na quarta-feira (17/9), a operação resultou em 22 prisões e 79 mandados de busca e apreensão. A PF aponta que o grupo envolvia empresários, ex-dirigentes ambientais, consultorias, empresas de fachada e até um ex-superintendente da própria corporação. O esquema teria movimentado R$ 1,5 bilhão e articulava projetos avaliados em R$ 18 bilhões.

Entre os investigados está Gilberto Henrique Horta de Carvalho, preso preventivamente e descrito como “lobista político” da organização. Ligado ao PL, ele teve apoio de Nikolas Ferreira e de Jair Bolsonaro em sua campanha fracassada à presidência do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG), em 2023. Geógrafo, Carvalho foi assessor do vereador Uner Augusto (PL) até o início deste mês e aparece em registros ao lado de outros bolsonaristas de destaque em Belo Horizonte.

Interceptações telefônicas mostram que Carvalho atuava na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para barrar o Projeto de Lei 1449/23, da deputada Beatriz Cerqueira (PT), que pretendia tombar a Serra do Curral. Ele chegou a avisar que estava no gabinete do deputado Bruno Engler (PL), integrante da CCJ, para interceder contra a proposta.

Também foi preso o advogado e ex-deputado estadual João Alberto Paixão Lages, acusado de ser articulador político e institucional da organização, intermediando contatos com o poder público e elaborando contratos fraudulentos. O despacho judicial aponta que Lages mantinha influência junto a Marília Carvalho, secretária de Meio Ambiente do governo Zema, que assinou despachos afastando servidores logo após a operação.

Respingos no governo Zema

A Operação Rejeito atingiu diretamente o governo de Romeu Zema (Novo). O ex-presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Rodrigo Franco, exonerado quatro dias antes da operação, aparece como responsável por conduzir mudanças no decreto estadual nº 47.749/2019. Ele foi exonerado pelo governo sob a justificativa de “burburinho” em torno de sua conduta.

A alteração citada pela PF, feita em novembro de 2024, retirou a exigência de quitação de multas ambientais como condição para novos licenciamentos, medida que beneficiou a Patrimônio Mineração Ltda, investigada pela PF. As mensagens interceptadas indicam que Franco articulou a mudança ao lado de João Alberto Lages. A modificação abriu caminho para a liberação de uma lavra que havia sido autuada por irregularidades ambientais.

Em coletiva de imprensa realizada na quarta, o secretário de Comunicação do governo estadual, Bernardo Santos, ressaltou que parte dos servidores já respondia a processos administrativos instaurados pela Controladoria-Geral do Estado, ainda que os indícios fossem preliminares. Esses procedimentos, no entanto, corriam em sigilo e ainda não tinham produzido responsabilizações efetivas. “A gente só tem poder administrativo e, obviamente, tem que apurar as coisas com a profundidade necessária para não ser injusto com ninguém. Mas o poder de polícia, de investigar e prender as pessoas, só a Polícia Federal tem”, disse.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de novos nomes surgirem nas apurações, Santos preferiu não antecipar informações e voltou a reiterar que os processos administrativos tramitam em sigilo. Reforçou ainda que o governo não compactua com práticas lesivas ao Estado e que qualquer irregularidade identificada será investigada.

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