Lula na ONU defende democracia, paz, proteção digital e justiça social
Presidente do Brasil discursou hoje na abertura da 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York
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Siga noO presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou nesta terça-feira (23/9) na 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, abordando temas centrais da agenda internacional, como a defesa da democracia, a proteção da infância, a regulação das redes sociais, o combate à fome, a crise climática, conflitos internacionais e o multilateralismo.
Em tom firme, Lula criticou sanções unilaterais, o avanço do autoritarismo e a desordem internacional, além de cobrar ações concretas da comunidade global para enfrentar desigualdades, proteger direitos fundamentais e promover soluções pacíficas de conflitos.
“O multilateralismo está diante de nova encruzilhada. Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra [...]. Mesmo sob ataques sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia. Nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”, disse.
Confira os principais pontos discutidos por Lula
Defesa da democracia e críticas ao autoritarismo
Lula destacou que o enfraquecimento das instituições democráticas no mundo está associado ao avanço de forças autoritárias e à violência política. Citou a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro como exemplo de funcionamento do Estado de Direito no Brasil.
“Há poucos dias e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito. Foi investigado, indiciado e julgado com amplo direito de defesa. Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam”, disse.
Combate à fome e desigualdade
O presidente ressaltou que a pobreza é tão inimiga da democracia quanto o extremismo. Citou a saída do Brasil do Mapa da Fome em 2025 e defendeu a Aliança Global contra a fome, lançada no G20 e apoiada por 103 países. Lula propôs que a comunidade internacional priorize o desenvolvimento sustentável, alivie a dívida externa dos países mais pobres e aumente a tributação sobre os super-ricos. “A única guerra de que todos podem sair vencedores é a que travamos contra a fome e a pobreza”, disse.
Regulação das plataformas digitais e proteção da infância
Lula alertou para os riscos da internet, que, segundo ele, tem sido usada para disseminar intolerância, misoginia e desinformação. Defendeu leis que protejam crianças e adolescentes, destacando a legislação recentemente sancionada no Brasil, e projetos para fomentar a concorrência digital e instalar datacenters sustentáveis.
“As plataformas digitais trazem possibilidades de nos aproximar como jamais havíamos imaginado. Mas têm sido usadas para semear intolerância, misoginia, xenofobia e desinformação. A internet não pode ser uma ‘terra sem lei'. Cabe ao poder público proteger os mais vulneráveis”, afirmou.
Lula ressaltou ainda que a regulação das redes sociais não significa restringir a liberdade de expressão, mas sim “garantir que o que já é ilegal no mundo real seja tratado assim no ambiente virtual.”. “Ataques à regulação servem para encobrir interesses escusos e dar guarida a crimes, como fraudes, tráfico de pessoas, pedofilia e investidas contra a democracia”, completou.
Paz na América Latina
O presidente afirmou que a América Latina é livre de conflitos étnicos ou religiosos e criticou a equiparação entre criminalidade e terrorismo. Cobrou diálogo na Venezuela e no Haiti e disse ser inadmissível que Cuba seja listada como país que patrocina o terrorismo.
“E é inadmissível que Cuba seja listada como país que patrocina o terrorismo”, afirmou o presidente, acrescentando que a região vive um momento de crescente polarização e instabilidade, mas que manter o continente como zona de paz continua sendo uma prioridade para o Brasil.
“Usar força letal em situações que não constituem conflitos armados equivale a executar pessoas sem julgamento. Outras partes do planeta já testemunharam intervenções que causaram danos maiores do que se pretendia evitar, com graves consequências humanitárias”, afirmou.
Conflitos internacionais e defesa do multilateralismo
Lula também alertou para o genocídio em Gaza e reiterou a necessidade de um Estado Palestino independente. “Os atentados terroristas perpetrados pelo Hamas são indefensáveis sob qualquer ângulo. Mas nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza. Ali, sob toneladas de escombros, estão enterradas dezenas de milhares de mulheres e crianças inocentes. Ali também estão sepultados o Direito Internacional Humanitário e o mito da superioridade ética do Ocidente”, afirmou.
Mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável
O presidente brasileiro defendeu maior ambição internacional no combate às mudanças climáticas, citou a COP30 em Belém como “a COP da verdade” e anunciou medidas para preservar a Amazônia, como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que visa remunerar países que mantêm suas florestas em pé.
“Nações em desenvolvimento enfrentam a mudança do clima ao mesmo tempo em que lutam contra outros desafios. Enquanto isso, países ricos usufruem de padrão de vida obtido às custas de duzentos anos de emissões. Exigir maior ambição e maior acesso a recursos e tecnologias não é uma questão de caridade, mas de justiça. A corrida por minerais críticos, essenciais para a transição energética, não pode reproduzir a lógica predatória que marcou os últimos séculos”.
Reformas internacionais e nova ordem global
Lula também propôs a reforma da ONU, incluindo um Conselho de Segurança ampliado, e a modernização da Organização Mundial do Comércio (OMC). Destacou que o século 21 será multipolar e que a voz do Sul Global deve ser ouvida.
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“Precisamos de lideranças com clareza de visão, que entendam que a ordem internacional não é um 'jogo de soma zero'. O século 21 será cada vez mais multipolar. Para se manter pacífico, não pode deixar de ser multilateral. O Brasil confere crescente importância à União Europeia, à União Africana, à ASEAN, à CELAC, aos BRICS e ao G20. A voz do Sul Global deve ser ouvida. A ONU tem hoje quase quatro vezes mais membros do que os 51 que estiveram na sua fundação. Nossa missão histórica é a de torná-la novamente portadora de esperança e promotora da igualdade, da paz, do desenvolvimento sustentável, da diversidade e da tolerância”.