DINHEIRO PÚBLICO

Políticos que mais enviaram emendas para shows em MG são de 10 partidos

No total, 21 parlamentares tiveram verbas indicadas em seu nome financiando apresentações musicais em Minas. Confira relação

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São 21 os parlamentares mineiros que enviaram emendas Pix para pagar a realização de shows musicais no estado desde 2023. Juntos, eles destinaram a municípios de várias regiões R$ 9,8 milhões para financiamento de apresentações de cantores. A lista conta com políticos de 10 partidos, entre legendas de esquerda, direita e centro.

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As emendas Pix são enviadas às cidades sem uma destinação pré-definida. Ou seja, o deputado manda o recurso federal ao município, e o prefeito é quem decide, em teoria, a área de aplicação da verba. No entanto, como os deputados e senadores costumam agradar suas bases eleitorais com essas emendas, é comum um acordo prévio nos bastidores para aplicação do dinheiro. Cabe ao gabinete do parlamentar acompanhar para onde vai essa verba.

Esse acordo entre deputado e prefeito é muito comum. Tanto é assim que o cruzamento de informações feito pelo Núcleo de Dados do Estado de Minas mostra que os parlamentares financiam, em muitos casos, mais de um show em uma mesma cidade, em anos consecutivos. Ou seja, se o parlamentar apresentasse algum descontentamento com a aplicação daquela emenda Pix em apresentações musicais, ele, em tese, poderia não voltar a premiar aquela gestão municipal em exercícios posteriores.

O deputado federal responsável pelo maior volume de emendas Pix para shows em Minas é Paulo Guedes (PT). Ele enviou aos municípios R$ 1,79 milhão desde 2023 para financiamento de eventos do tipo. Manga, no Norte de Minas, aparece na lista dos municípios beneficiados pelo parlamentar tanto em 2023 quanto em 2024. A cidade tem como prefeito o irmão do deputado, Anastácio Guedes (PT).

Entre os shows pagos pelo petista estão apresentações de alto custo de nomes conhecidos da música nacional. Em São João da Ponte (24 mil habitantes), uma emenda dele pagou um show do cantor Nattan, também conhecido como Nattanzinho, orçado em R$ 550 mil em 2023. Um ano depois, outro envio do parlamentar contratou o músico Zé Felipe, filho da estrela sertaneja Leonardo, para tocar em Juvenília (6 mil pessoas), com preço de R$ 280 mil. O mesmo valor foi encaminhado por ele para financiar a performance do piseiro Vitor Fernandes em Espinosa (30 mil).

Todas essas cidades estão no Norte do estado, berço eleitoral de Paulo Guedes, que se autointitula “o legítimo Leão do Norte” em suas redes sociais. Ele foi um dos deputados mineiros que votaram a favor da PEC da Blindagem em setembro, texto que estabelecia que investigações e medidas cautelares contra parlamentares só poderiam ocorrer com autorização prévia do Congresso Nacional. O Senado derrubou a matéria após a repercussão negativa na sociedade.

Em conversa com a reportagem, Paulo Guedes justificou o envio de emendas para Manga, administrada por seu irmão. "Foi uma festa que precisava de uma comemoração acima do normal, porque fazer 100 anos para uma cidade é um marco muito importante. O povo esperava uma festa grande”, disse.

Sobre as outras cidades, Guedes afirma que as recentes medidas tomadas pelo Supremo, a partir do ministro Flávio Dino, darão maior transparência e controle aos deputados. "Antes você colocava o recurso, e ele era livre. O prefeito que definia o plano de trabalho. A partir deste ano, mudou. Agora, quando a gente indica a emenda, já tem que indicar com o plano de trabalho", afirmou.

Repasses milionários

Não é só Paulo Guedes que ultrapassou a marca do milhão em financiamento de shows com emendas Pix na bancada mineira. Também ligado à esquerda, o deputado federal André Janones (Avante-MG) financiou quatro apresentações em sua cidade natal, Ituiutaba, no Triângulo. O valor é parecido com o do petista: R$ 1,75 milhão.

Todo o recurso foi gasto em único evento: a Expopec 2023, quando verba enviada por Janones foi alocada para a contratação de quatro shows de nomes conhecidos da música nacional. O dinheiro pagou apresentações da dupla sertaneja Jorge & Mateus (R$ 650 mil); do DJ Alok (R$ 450 mil); da cantora Simone Mendes (R$ 420 mil); e da expoente da MPB Ana Carolina (R$ 230 mil). Procurado pelo EM, Janones não se posicionou até esta publicação.

Correligionário dele, o deputado federal Luis Tibé financiou nove shows com emendas Pix, com custo total de R$ 1,05 milhão aos cofres públicos. Algumas dessas apresentações tiveram um cachê abaixo dos R$ 100 mil, mas em Carmésia, no Vale do Rio Doce, ele financiou R$ 200 mil para o cantor Eduardo Costa e R$ 180 mil para a dupla Guilherme & Santiago. Na mesma toada, em Formoso (Noroeste), o repasse foi de R$ 160 mil para Cézar & Paulinho agitarem a população.

Mas o que Carmésia (2 mil habitantes, uma das menores cidades do estado) e Formoso (8 mil habitantes) têm em comum? As duas cidades têm como prefeitos Atos Tácio e Dinarte, respectivamente. O primeiro é filiado ao Avante, partido presidido por Tibé nacionalmente. O segundo, do PL, contou com a presença da legenda do deputado em sua coligação. Os shows, inclusive, aconteceram em 2024, antes das eleições municipais.

Eduardo Costa e Guilherme & Santiago soltaram a voz 43 dias antes da eleição em Carmésia, portanto semanas antes da vitória de Atos Tácio nas urnas. Já Cézar & Paulinho foram a Formoso em 20 de julho, 78 dias antes do primeiro turno. Assim como Janones, Tibé foi procurado, mas não respondeu até esta publicação. O presidente nacional do Avante também votou favorável à PEC da Blindagem.

Veja, abaixo, a lista completa:

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Especialista analisa

O cientista político e professor da ESPM, Paulo Ramirez, chama atenção para o que chama de “absoluta falta de transparência” na administração desses recursos. “Essa mudança constitucional aconteceu com o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. A falta de acompanhamento das emendas Pix abre possibilidades de superfaturamento e desvios desses recursos. Usar as verbas parlamentares para promover shows não é nada coerente”, diz.

Ele compara a prática à política de pão e circo adotada pelos romanos. “É uma medida eleitoreira que não tem a função de atender as demandas imediatas da sociedade. Temos obras públicas muito mais emergenciais, por exemplo”, afirma.

O professor defende as medidas tomadas pelo ministro Flávio Dino para aumentar a transparência e o controle das emendas Pix. “Até porque é dever do STF acatar determinadas denúncias, até mesmo aprofundar as investigações provocando a Polícia Federal. É uma pauta fundamental, uma questão democrática. Esse é o momento tanto do STF quanto do Congresso mostrarem quais são suas funções na sociedade”, avalia.

Outro lado

Em nota, o deputado federal Mário Heringer (PDT), que destinou R$ 600 mil em emendas Pix para financiamento de shows, informou que as verbas "foram alocadas respeitando a legislação vigente e as indicações legítimas dos municípios mineiros. Em um exercício de total transparência, é fundamental ressaltar que os planos de trabalho detalhados dessas transferências estão devidamente registrados e disponíveis publicamente na Plataforma TransfereGov, atestando a legalidade e o planejamento dos gastos".

Ainda segundo o gabinete, "a destinação de recursos para eventos e shows é uma forma legal de fomentar a cultura, o turismo e a economia local. O investimento em festas e tradições apoia a infraestrutura e a realização de eventos que movimentam a rede hoteleira, o comércio e a geração de renda, beneficiando diretamente a população de cidades de menor porte".

O deputado ainda ressalta "que o papel do parlamentar é destinar os recursos, mas a fiscalização e a execução legal e correta dos gastos (incluindo licitações) são responsabilidade exclusiva dos municípios".

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