Alckmin vê avanço em redução tarifária dos EUA: 'Um pequeno passo'
Vice-presidente classifica decisão de Donald Trump como passo importante para destravar exportações brasileiras
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O vice-presidente Geraldo Alckmin aproveitou a manhã deste sábado (15/11) para detalhar, no Planalto, o que considera um “passo relevante” nas negociações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. A redução de tarifas anunciada na véspera por Donald Trump, embora limitada, foi recebida por ele como um sinal concreto de que o clima político e econômico entre os dois países começa a ganhar temperatura positiva. Mas o governo brasileiro não dá o assunto por encerrado.
“É positivo e está na direção correta”, afirmou, ao comentar a decisão norte-americana de retirar a taxa global de 10%, aplicada desde abril, sobre cerca de 200 produtos, incluindo café, carne, açaí e manga. A mudança vale desde a madrugada de quinta-feira (13/11) e tem efeito retroativo.
O problema, destacou Alckmin, é que a sobretaxa de 40% imposta especificamente ao Brasil continua firme, preservando parte do tarifaço que atingiu em cheio itens-chave da pauta exportadora nacional.
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O vice-presidente explicou que, antes da nova ordem executiva, 23% das exportações brasileiras para os EUA circulavam sem tarifa. Agora, esse índice passa para 26%, o equivalente a R$ 9,7 bilhões em produtos que deixam de pagar imposto para entrar no mercado norte-americano.
Ele chamou esse quadro de “avanços sucessivos”, mas enfatizou que parte relevante das mercadorias continua enfrentando barreiras elevadas. “Ainda temos 33% das exportações no tarifaço. É isso que precisamos corrigir”, disse.
Café avança pouco
Entre os vários setores afetados, o café permanece como o exemplo mais emblemático do impasse. A tarifa, que antes era de 50% e agora recua para 40%, segue extremamente alta para o maior fornecedor da bebida aos Estados Unidos. “Não faz sentido”, resumiu Alckmin.
Enquanto o Brasil amargou apenas 10 pontos de redução, concorrentes diretos receberam alívios mais generosos, caso do Vietnã, cuja taxa caiu de 20% para zero.
Para ele, essa discrepância representa uma distorção que precisa ser resolvida politicamente. E reforça o argumento brasileiro de que as sobretaxas acabam prejudicando também o consumidor americano, que já pagou quase 20% a mais pelo café em setembro, em relação ao ano anterior. “Se reduzirmos essa tarifa, os custos caem para todo mundo. É uma linha de diálogo importante”, afirmou.
Item de grande relevância para exportadores brasileiros, o suco de laranja, por outro lado, teve a alíquota totalmente zerada. Antes, pagava 10%. Manga, açaí, abacaxi, goiaba e banana também entram na lista dos beneficiados com a retirada da tarifa.
Produtos como celulose, ferroníquel, madeira serrada e alguns móveis já haviam sido contemplados por reduções anteriores e continuam com cenário favorável.
Diplomacia acelerada
A movimentação ocorreu após semanas de articulação diplomática intensa. A agenda ganhou força após o encontro entre Lula e Trump, em outubro, na Malásia. Dias depois, o chanceler brasileiro Mauro Vieira e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, voltaram a discutir o tema em Washington.
Alckmin não descartou uma missão brasileira aos Estados Unidos ainda neste ano, embora tenha dito que não há data marcada. O tom, no entanto, foi de confiança de que novos avanços são possíveis após a COP30. “Temos uma avenida pela frente”, disse ele, repetindo a expressão usada diversas vezes ao longo da entrevista.
Além das negociações políticas, ele ressaltou o papel da iniciativa privada dos dois países, que, segundo ele, tem sido “fundamental” para destravar o diálogo e ajustar expectativas. O anúncio de Trump, por sua vez, foi descrito como resultado das recomendações de sua equipe econômica e também da pressão doméstica gerada pelo aumento persistente dos preços dos alimentos nos EUA.
Na entrevista, o vice-presidente voltou a destacar o bom momento do comércio exterior brasileiro. Entre janeiro e outubro, as exportações somaram US$ 290 bilhões e só em outubro houve crescimento de 9,1% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Alckmin também mencionou a abertura de quase 500 novos mercados e a assinatura de novos acordos comerciais, no esforço de ampliar o alcance da produção brasileira.
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Ao final, apesar da cautela, ele reforçou que o gesto de Trump abre espaço para um redesenho da relação comercial entre os dois países. “O Brasil não é problema, é solução. Quando o produto americano chega aqui, quase tudo entra com tarifa zero. Queremos equilíbrio”, disse.
Com informações de Agência Gov