Dias depois de vir a público a carta em que o Secretariado da ONU aponta falhas de segurança, mobilidade e infraestrutura na COP30, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, reagiu defendendo o evento e afirmando que a conferência em Belém “é um sucesso”. Em entrevista ao Voz do Brasil, concedida no estúdio montado no centro da conferência, Tebet disse estar “absolutamente encantada” com o funcionamento da COP e classificou o clima entre as delegações como de “satisfação”.

O relatório, revelado pelo Estadão, foi enviado ao governo brasileiro na terça-feira e lista uma série de preocupações da organização internacional. O documento cita atrasos em obras previstas para a conferência, gargalos no transporte de delegações, problemas de credenciamento, áreas com alagamento após a forte chuva de quarta-feira e falhas pontuais em equipamentos de segurança. O Secretariado também demonstra preocupação com a disponibilidade de hotéis, alimentação e rotas de deslocamento em horários de pico.

Apesar das críticas, Tebet minimizou a avaliação da ONU. Ela disse que encontrou delegações “encantadas com o povo do Pará” e com a dinâmica do evento. “Está todo mundo feliz da vida, todo mundo aqui de tênis. Acho que eu nunca apareci de tênis na televisão. As pessoas elogiam a hospitalidade, a comida, a organização”, afirmou. “Eu saio absolutamente convencida de que a COP, pensando no Brasil, é um sucesso.”

A ministra ponderou que episódios como chuva intensa e vazamentos não deveriam ser interpretados como falhas estruturais. “Que bom que está chovendo. Chove porque tem floresta. Se não tivesse floresta, nós morreríamos de sede”, disse, após comentar o ponto da carta que descrevia alagamentos em áreas de circulação.

Entregas anunciadas

Tebet destacou que, na avaliação interna do governo, esta é a “COP da entrega” — expressão usada também pelo presidente Lula para reforçar que o país quer apresentar resultados concretos. A ministra lançou, ao lado do BNDES e do BID, o Programa Amazônia Sempre, instrumento regional que prevê mobilizar mais de US$ 1 bilhão para projetos de segurança hídrica, energia limpa e infraestrutura urbana resiliente nos países amazônicos.

Segundo ela, já estão prontos para o mercado R$ 20 bilhões em linhas de financiamento voltadas ao setor privado interessado em investir em bioeconomia e economia verde, com juros reduzidos e carência ampliada. O foco, diz a ministra, é atingir desde microempreendedores e agricultura familiar até indústria e agronegócio em áreas urbanas e rurais.

Outra entrega anunciada é uma linha de R$ 1 bilhão para infraestrutura nas cidades amazônicas. “Falamos muito em preservar a floresta, mas 70% a 80% da população dos estados amazônicos vive nas cidades. Elas precisam de emprego, água, saneamento, moradia. A infraestrutura também é preservação”, afirmou Tebet.

Há ainda um novo modelo de Parceria Público-Privada para restaurar áreas da Amazônia já devastadas. O plano-piloto prevê 10 mil hectares, com plantio de 2 milhões de mudas, geração de 2 mil empregos diretos e concessão para exploração ecológica por 30 anos. Investidores terão garantias financeiras do BID e, em último caso, da União.

Clima interno da COP

A ministra também destacou que outras pastas têm feito anúncios diários relacionados à pauta climática, da política indígena à igualdade racial e de gênero. “Não estou nem tendo tempo de acompanhar todas as entregas. É transversal”, disse.

Sobre a logística, Tebet afirmou que as equipes do governo federal e do estado têm trabalhado para ajustar fluxos e ampliar o atendimento. “Não está faltando comida, não está faltando água. Mesmo na mobilidade, está todo mundo se encontrando, porque tem a mesma pauta: sustentabilidade com desenvolvimento”, afirmou.

O que diz a ONU

A carta enviada ao governo por representantes da COP30 não propõe suspensões ou sanções, mas alerta para riscos à experiência e à segurança das delegações. O documento recomenda reforço de rotas de transporte, ampliação de equipes de apoio, revisão de acessos ao pavilhão e monitoramento contínuo de pontos suscetíveis a alagamento.

A ONU também lembra que eventos de grande porte, como COPs anteriores, costumam demandar respostas rápidas a problemas logísticos e que a adoção de medidas urgentes pode evitar repercussões negativas na imagem do país anfitrião.

Previsões para o encerramento

A COP30 segue até o fim da próxima semana. Tebet disse esperar que a ata final tenha “mais ambição”, mas reconheceu que o histórico das conferências aponta para textos negociados até o limite do consenso. “O importante é que estamos dando passos para frente, não para trás”, afirmou.

A expectativa é de que esta COP marque menos debates teóricos e mais foco em implementação de políticas e compromissos concretos, transformando declarações em ações palpáveis. John Cameron/Unsplash
Entre as pautas centrais da COP30 estão a redução das emissões de gases de efeito estufa, adaptação às mudanças climáticas e preservação de florestas e biodiversidade. Peggychoucair/Pixabay
A escolha tem como objetivo colocar a Amazônia e suas comunidades — incluindo povos indígenas e ribeirinhos — diretamente no centro dos debates globais sobre o clima. Pexels/Tom Fisk
Esta é a primeira vez que o evento ocorre na região amazônica, mais especificamente na cidade de Belém do Pará. Wikimedia Commons/Cayambe
O manifesto acontece em meio à COP30, evento que visa avaliar o progresso global no enfrentamento das mudanças climáticas. Autor Desconhecido/Wikimedia Commons/Creative Commons
Além disso, o descarte inadequado pode entupir bueiros e agravar enchentes nas cidades. Reduzir o consumo, reutilizar e reciclar são ações essenciais para diminuir seus impactos ambientais. Flickr Marahalim Siagian
A produção e incineração de plástico também emitem gases de efeito estufa, contribuindo para as mudanças climáticas. Hans/Pixabay
Ele alega que essa proteção dura apenas até o consumidor abrir o produto, enquanto o impacto ambiental persiste por muito tempo. Reproduc?a?o/YouTube
O gestor também contesta a justificativa das editoras de que o plástico protege o livro contra danos, alegando que essa proteção é meramente temporária. Divulgac?a?o
"Um material de baixo valor de reciclagem, que quase sempre termina em aterros sanitários e, irremediavelmente, no mar, contribuindo para o pior dos mundos: os microplásticos", criticou Afonso. Flickr/OregonStateUniversity
Como cada filme plástico pesa entre 1,4 e 2,7 gramas, o descarte geraria algo entre 360 e 700 toneladas por ano. Freepik/wirestock
Desses, aproximadamente 70% teriam sido plastificados, o que pode ter gerado cerca de 256 milhões de embalagens de plástico no meio ambiente. Luisa Brimble/Unsplash
Segundo cálculos feitos pelo próprio gestor, somente em 2024 o país produziu 366 milhões de exemplares. Divulgac?a?o
"Aparentemente inofensiva, essa película é, na verdade, o símbolo de uma indústria que produz cultura e conhecimento, mas ainda não aprendeu a lidar com o impacto ambiental que causa", defendeu. Divulgac?a?o
O gestor cultural Afonso Borges, líder do movimento, critica o invólucro plástico como um símbolo de uma grave contradição. Reprodução
Os jornalistas Ana Maria Machado e André Trigueiro, as atrizes Bruna Lombardi e Patricia Pillar, e o cantor e compositor Chico Buarque são algumas das pessoas que assinaram a petição. Divulgação
Diversas figuras conhecidas brasileiras aderiram a um manifesto que pede o fim das embalagens plásticas usadas para envolver livros antes da venda. Divulgac?a?o

O governo brasileiro mantém a avaliação de que a conferência, apesar dos pontos a corrigir, tem fortalecido a posição do país como liderança climática e ampliado compromissos financeiros para a região amazônica.

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