O Ministério da Saúde anunciou recentemente a adoção de uma nova linha de cuidado no Sistema Único de Saúde (SUS) que prevê a triagem precoce para identificação de sinais de transtorno do espectro autista (TEA). O protocolo inclui a aplicação rotineira do teste M-Chat, já incorporado à Caderneta Digital da Criança e ao prontuário eletrônico E-SUS, em todas as consultas de crianças de 16 a 30 meses.

Segundo especialistas, a medida pode representar um marco para a saúde pública. A psicóloga Thalita Possmoser, da Genial Care, destaca que o M-Chat é de fácil aplicação, barato e rápido, permitindo que sinais sejam identificados antes dos três anos de idade. “Quando os indícios aparecem cedo, a família não precisa esperar anos por uma resposta. A criança já pode ser encaminhada para avaliação especializada e iniciar terapias nos primeiros anos de vida, quando o cérebro apresenta maior plasticidade para aprender”, afirma.

Thalita lembra que o impacto também ocorre no núcleo familiar. “Receber um diagnóstico claro e ter para onde ser encaminhada reduz a angústia, o estigma e a sensação de estar perdido. Isso se traduz em mais qualidade de vida para a criança e para a família”, reforça.

Para a psicóloga Alice Tufolo, também da Genial Care, a intervenção precoce atua diretamente na fase de maior plasticidade cerebral, quando o sistema nervoso está em formação e as conexões neurais podem ser moduladas com mais intensidade. “Isso amplia as oportunidades de participação da criança nos contextos do dia a dia, potencializa a aprendizagem e favorece o desenvolvimento de autorregulação. O início precoce das terapias permite que a criança aprenda novas formas de comunicação, interação e brincadeira antes que comportamentos menos funcionais se consolidem”, explica.

A especialista defende ainda que a análise comportamental aplicada (ABA), prática baseada em evidências reconhecida internacionalmente, seja integrada às políticas públicas do SUS para garantir assistência eficaz. “É necessário capacitar profissionais da rede nos princípios da análise do comportamento, desenvolver protocolos clínicos embasados cientificamente e oferecer suporte aos cuidadores. Só assim será possível assegurar avanços consistentes e acessíveis”, diz Alice.

Os dados do Ministério da Saúde estimam que 1% da população brasileira viva com TEA. Informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 71% deste público ainda apresenta outras deficiências associadas, o que reforça, segundo especialistas, a importância de uma intervenção cada vez mais estruturada e abrangente no âmbito do SUS.

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