CORRIDA EM ALTA

O que acontece com o cérebro durante uma maratona?

Neurocirurgião e fisiologista explicam como o cérebro recorre à camada protetora de neurônios como combustível emergencial durante exercícios extremos

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A corrida se consolidou como uma das práticas de saúde mais populares entre os brasileiros. De acordo com um levantamento da Associação Brasileira de Organizadores de Corridas de Rua e Esportes Outdoor (Abraceo), o país registrou um aumento de 29% no número de corridas de rua no último ano, totalizando mais de 2,8 mil eventos oficiais.

Uma pesquisa publicada em março de 2025 na revista Nature Metabolism analisou o cérebro de maratonistas através de ressonância magnética antes e depois de uma corrida e descobriu um mecanismo de sobrevivência extremo: quando as reservas de glicose do corpo se esgotam, o cérebro começa a consumir sua própria mielina (camada protetora dos neurônios) como fonte de energia de emergência. Essa redução da mielina, observada em áreas ligadas ao controle motor, demonstrou ser um processo temporário e totalmente reversível, com os níveis voltando ao normal cerca de dois meses após o esforço.

O neurocirurgião da Afya Montes Claros, Marcelo José da Silva de Magalhães, explica que, em situações extremas de estresse, a mielina pode ser consumida pelos próprios oligodendrócitos, células encarregadas de sua produção no cérebro, como fonte alternativa de energia. "Esse fenômeno é interpretado como uma forma de adaptação do sistema nervoso, ou, mais precisamente, uma expressão de plasticidade cerebral diante de condições clínicas severas".

O especialista destaca ainda que o tecido cerebral é capaz de recorrer a diferentes fontes energéticas, como a glicose e os corpos cetônicos, normalmente produzidos pelo fígado. "A mielina precisa estar íntegra para garantir o funcionamento adequado do cérebro e dos nervos, pois sua estrutura, com baixa quantidade de água e alto teor de gordura, permite que os estímulos nervosos sejam transmitidos em altíssima velocidade, podendo atingir dezenas de metros por segundo", diz Marcelo José.

"Após o cérebro não necessitar mais de se adaptar às condições extremas como o exercício físico vigoroso do maratonista, ele volta a sintetizar a mielina para deixar as fibras axonais em estado mais fisiológico. No entanto, esse processo de síntese da mielina se prolonga por várias semanas após o indivíduo suspender o exercício físico", complementa o neurocirurgião.

Corpo e mente dos maratonistas

O Brasil já é o segundo país com mais atletas na plataforma de rastreamento Strava, com mais de 19 milhões de usuários, evidenciando a dimensão massiva deste movimento.

A especialista em fisiologia da Afya Ipatinga, Melissa Ulhôa, comenta que o corpo de um maratonista é altamente adaptado para lidar com demandas extremas. "Durante uma corrida tão longa, a fisiologia do organismo se prepara por meio de treinamentos intensos e progressivos, que envolvem não apenas a melhora da resistência muscular, mas também ajustes no sono, alimentação e recuperação."

"No entanto, à medida que o exercício se prolonga e os estoques de carboidratos diminuem, o corpo passa a utilizar outras fontes metabólicas, como os corpos cetônicos produzidos no fígado, que servem como fontes alternativas de energia para o cérebro e os músculos. No exercício extenuante, os músculos produzem lactato que serve para fornecer energia rápida quando o oxigênio é insuficiente", explica Melissa.

Segundo a fisiologista, a pesquisa pode abrir caminho para novas estratégias de treinamento e nutrição voltadas a atletas de alta performance. “Estudos indicam que é possível melhorar a eficiência energética do cérebro de forma indireta, por meio do exercício aeróbico regular, que promove melhor circulação e perfusão cerebral, adaptações mitocondriais e maior flexibilidade metabólica”, conta a especialista.

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