'Shinobi: Art of Vengeance' combina combate intenso e design moderno
Gráficos detalhados e combate ágil renovam a experiência para veteranos e novos jogadores
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Siga noQuem cresceu entre os anos 80 e 90 guarda lembranças que vão além das saudosas fitas, como a espera para soprar cartuchos, o barulho da TV de tubo e a sensação de enfrentar chefes impossíveis sem senha de salvamento.
Foi nesse cenário que "The Revenge of Shinobi" marcou uma geração no Mega Drive. Mais que um jogo, ele simbolizava disciplina, silêncio e honra, mostrando que cada pixel de um ninja carregava o peso de uma linhagem.
Em 2025, a Lizardcube anunciou "Shinobi: Art of Vengeance", reabrindo um pacto histórico da franquia. Não se tratava de nostalgia barata, mas de um resgate do legado. O reboot, desenvolvido pelo estúdio e publicado pela Sega, chega em 29 de agosto para PC, PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series e Nintendo Switch, prometendo ser uma reinvenção fiel dos clássicos de ação 2D, unindo a agressividade tátil dos arcades à exploração profunda de um estilo moderno de progressão. Este retorno não é um simples tributo, mas a reencarnação definitiva de Joe Musashi, um jogo que marca a história com a precisão de uma kunai.
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Histórico da Franquia
A série "Shinobi" é um pilar da Sega, com uma linhagem que se estende dos arcades de 1987 até o aclamado "Shinobi III: Return of the Ninja Master" (1993) no Mega Drive. Ao longo dos anos, a franquia transitou por fases bidimensionais e tridimensionais, mas sua alma sempre residiu no 2D ágil e punitivo dos videogames clássicos.
A expectativa era real. A Lizardcube, após revitalizar "Wonder Boy" e "Streets of Rage", tornou-se a guardiã moderna do legado retrô. O "buzz" indicava que este seria o título que os fãs dos anos 90 sempre sonharam, mas com a linguagem de design do século XXI.
A narrativa do desenvolvimento mostra um estúdio indie-AA com orçamento e talento para dialogar de igual para igual com os mitos que o inspiraram, prometendo uma experiência que combina nostalgia e inovação.
Enredo e Personagens
A corporação ENE destrói a vila de Joe e transforma seu clã em pedra, levando-o a uma missão de vingança. O enredo segue um modelo clássico do gênero de ação, focando na jornada emocional do protagonista em vez de reviravoltas surpreendentes. Por meio de flashbacks e cenas ilustradas, acompanhamos o conflito interno entre seu desejo de vingança e a honra do clã.
Lorde Ruse surge como um vilão exagerado, mas cumpre seu papel na história. Os diálogos são curtos e objetivos, com opção de dublagem em japonês, recomendada, ou em inglês de qualidade. A vingança, apresentada como uma espada de dois gumes, evoca as lendas do folclore japonês e poderia facilmente fazer parte de uma narrativa de Miyazaki, do Estúdio Ghibli.
Arte e Gráficos 2D
O estilo artístico aposta no traço manual, criando identidade própria. A Lizardcube aplica uma abordagem semelhante à de "Streets of Rage 4", mas com sua assinatura visual. O visual não é anime genérico, lembrando pinturas em movimento como em "Okami", com estética de ukiyo-e contemporânea.
A Floresta de Bambu do trailer inicial mostra profundidade e atmosfera, com camadas de parallax que tornam o mundo vívido. Joe Musashi, em seu amarelo icônico, se destaca perfeitamente dos fundos, e os efeitos de Ninjutsu, como explosões de fogo e relâmpagos em vermelho vibrante, impactam visualmente sem poluir a tela.
A trilha sonora é resultado da colaboração entre o lendário Yuzo Koshiro e o compositor português Tee Lopes, conhecido por "Sonic Mania". A combinação de sintetizadores clássicos com instrumentos tradicionais japoneses cria uma ambientação sonora que equilibra nostalgia e inovação.
A performance técnica é sólida, com o jogo rodando a 60 fps estáveis em 4K, sem interrupções ou falhas perceptíveis. Cada elemento contribui para uma experiência completa no universo do ninja Joe Musashi.
Combate e Controles
Os controles respondem imediatamente e apresentam fluidez impressionante. Joe Musashi desliza pela tela com movimentos que incluem ataques leves e pesados combináveis, duplo salto, rolagem evasiva e o "Ninja Flip", uma mecânica que permite iniciar um novo combo ao cancelar a recuperação de qualquer animação. Essa combinação eleva o combate de um simples hack in slash lateral para uma dança estratégica de alto risco e alta recompensa, lembrando a profundidade de um hack n’ slash em 2D.
O design de níveis é linear na progressão principal, mas inclui áreas secretas e caminhos bloqueados que exigem habilidades adquiridas posteriormente. A exploração é recompensada com moedas para upgrades e amuletos que modificam a gameplay, como aumento de dano ou regeneração de vida. A inovação está na fusão entre a velocidade arcade clássica e sistemas modernos de progressão.
A dificuldade é desafiadora, mas justa. Inimigos com padrões de ataque distintos exigem o uso de todas as ferramentas. A barra de Ninpo, recarregada ao acertar golpes, incentiva agressividade. Os chefes quebram a repetição de inimigos comuns com duelos que testam reflexos e aprendizado. O jogo é difícil, mas raramente frustrante, graças aos checkpoints generosos e à sensação de que cada morte foi um erro do jogador, não do título.
Emoção e Legado
O retorno do ninja provoca uma conexão duradoura. Não se trata apenas da nostalgia de ver Joe Musashi de volta, mas da oportunidade de sentir a mesma adrenalina e maestria de décadas atrás, agora refinada. O jogo prova que franquias adormecidas podem ser revividas com respeito, arte e jogabilidade de qualidade, sem depender de live services ou microtransações.
Prós e Contras
Destaques:
- Combate fluido, profundo e visceral, com o excelente sistema de "Ninja Flip";
- Direção de arte detalhada, com animação hand-drawn de qualidade;
- Trilha sonora que honra e expande o legado de Koshiro;
- Chefes memoráveis e desafiadores;
- Progressão de metroidvania bem implementada, incentivando replay.
Pontos a Melhorar:
- A variedade de inimigos comuns poderia ser maior, levando a certa repetição na campanha;
- Algumas seções de plataforma são tão punitivas que quebram o ritmo frenético do combate.
Custo-benefício
Com cerca de 15h para a campanha principal e conteúdo extra substancial, como modo Arcade, Boss Rush e desafios "Ankou Trials", o jogo oferece uma experiência robusta e de alta qualidade que vale cada centavo.
Comparativo e Referência
O título ocupa um lugar único. Evoca a agressividade clássica de "Ninja Gaiden" (NES) e a fluidez de "Shinobi III", mas sua estrutura de exploração e progressão o coloca ao lado de lançamentos modernos como "Ori and the Will of the Wisps" e "Grime". Sua identidade é própria: mais brutal e focado em combate que "Ori" e mais ágil e estilizado que "Grime". É um novo benchmark para reviver uma franquia clássica.
Veredicto
O jogo é mais do que um lançamento; é uma afirmação. A Lizardcube não apenas resgatou Joe Musashi do esquecimento, mas forjou uma experiência ainda mais afiada. Honra o passado enquanto reinventa a jogabilidade para um novo padrão de excelência, combinando alma arcade e design moderno em uma experiência profunda e satisfatória.
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Recomendação
Esta obra é essencial para entusiastas de ação 2D, fãs de jogos clássicos e apreciadores de design visual refinado. A proposta desafiadora exige dedicação, mas a recompensa está na profundidade da jogabilidade. Para novatos, a curva de aprendizado é acentuada, mas cada desafio superado vale a pena.
Nota Final: 9 / 10 – IMPERDÍVEL
*Esta análise foi feita com uma cópia do game cedida pela SEGA Brasil