
Um homem com hist�rico de viol�ncia discute com a funcion�ria do supermercado, e chega a seguran�a; ele d� um murro em um dos vigilantes e eles revidam. O homem morre. Tem pele diferente dos dois seguran�as e � v�spera do Dia da Consci�ncia Negra. Pronto, est� armada a narrativa de que dois brancos mataram um negro. H� quem gostaria de poder transferir para o Brasil os protestos antirraciais de um pa�s diferente do nosso, os Estados Unidos. Seria como, em 6 de setembro de 2018, noticiassem: “Um negro d� facada em branco”, no epis�dio com fundamento pol�tico e n�o racial, da agress�o de Ad�lio a Bolsonaro.
Com a vontade de espalhar racismo para dividir os brasileiros, esqueceram a frequente viol�ncia em supermercados, praticada por seguran�as despreparados para agir em crise. No caso de Porto Alegre, o que tinham de fazer � imobilizar o agressor e encaminh�-lo � delegacia. No Carrefour, um parapl�gico que abrira uma latinha de cerveja foi espancado no banheiro; um cliente com pele mais escura foi tratado como ladr�o de carro quando ia entrar no seu autom�vel. E o chef�o do Carrefour ainda d� uma nota de desculpas alegando que a trag�dia est� al�m de sua compreens�o, “como homem branco privilegiado que sou”. Agora sim, apartheid.
Racismo, sim, � separar as pessoas pela cor da pele. Cor da pele n�o � m�rito. Nem dem�rito. Temos que nos prevenir daqueles que semeiam o �dio, por diferen�as de renda, de cor da pele, de sexo, de prefer�ncias sexuais e pol�ticas. Civilizados n�o aceitam isso. H� preconceitos, sim, em todos esses aspectos de diferen�as, que n�o podem justificar atitudes. Todos s�o livres para gostar ou n�o gostar; s� n�o podem agredir os outros por causa disso. Todos s�o livres para ter seus gostos, desde que tamb�m respeitem os direitos alheios. Para a viol�ncia, o rem�dio � a lei, n�o a viol�ncia no sentido contr�rio.
No epis�dio de Porto Alegre h� evidente excesso dos seguran�as e omiss�o dos circunstantes; em parte do notici�rio que se seguiu h� sinais de conclus�es apressadas de prega��o de racismo e nem ruborizamos com isso. Na escola de jornalismo que foi o Jornal do Brasil, por dez anos recebi li��es de que nosso papel � retratar fatos e n�o modific�-los. Nossa credibilidade � avaliada todos os dias. Esperar as conclus�es do inqu�rito � n�o se julgar acima dos fatos e da intelig�ncia do p�blico.
