
Tenho um sobrinho – mais um, vejam s� – que � um proctologista de m�o cheia, David Lanna. Ele � um craque porque sabe tamb�m avaliar se vale a pena ou n�o operar hemorroidas. Amiga minha, que morria de medo e estava mais do que aconselhada a se operar, foi se consultar com ele e voltou aliviada com suas recomenda��es – e com a falta de necessidade dela de operar. A doen�a n�o � brincadeira e sei hist�rias curiosas sobre o tratamento. Antigamente, uma boa recomenda��o era assentar-se numa fenda feita em um tronco de bananeira, a seiva fazia a hemorroida recolher-se prontamente. Outra recomenda��o era usar o vapor da �gua fervente, colocada junto com uma colher de creolina. N�o era para se assentar, mas apenas para aproveitar o calor do vapor com o produto de limpeza. Quem assentava, pagava um mico e tanto.
O problema n�o � raro. Estima-se que at� 7% das pessoas v�o ter sintomas de hemorroidas pelo menos uma vez ao longo de sua vida. Isso pode ocorrer em ambos os sexos e � mais comum em indiv�duos mais velhos, podendo atingir 50% dos adultos com mais de 50 anos. Por se tratar de uma doen�a do �nus, gera-se muito tabu em torno do tema, o que impede as pessoas de procurar ajuda, por medo ou vergonha.

Plexo hemorroid�rio � o nome dado �s veias da parte superior do canal anal, portanto, s�o estruturas normais da anatomia humana, presentes em todas as pessoas. Em alguns casos, os tecidos que seguram esses vasos podem se deteriorar, causando os sintomas – dor, sangramento, coceira e caro�os no �nus. “Al�m da drenagem venosa, as hemorroidas auxiliam tamb�m no amortecimento durante a passagem das fezes e no controle da contin�ncia, o que permite ao ser humano conseguir segurar as fezes quando est� em um momento inadequado para evacuar”, explica a proctologista Ra�ssa Reis de Carvalho, da equipe multidisciplinar da Cl�nica Blues.
Especialista em dist�rbios de motilidade intestinal e do assoalho p�lvico, coloproctologia adulta e pedi�trica, cirurgia geral e endoscopia, a m�dica elenca modernas t�cnicas desenvolvidas com o objetivo de curar a doen�a hemorroid�ria, garantindo menos dor no p�s-operat�rio e retorno mais r�pido �s atividades habituais. “Um dos avan�os da medicina nesta �rea � a cirurgia por radiofrequ�ncia, que n�o envolve cortes e sim uma abla��o dos vasos por um aparelho espec�fico. J� o PPH � um tratamento por meio de grampeamento das hemorroidas com o uso de um grampeador circular. E tem ainda o THD – desarterializa��o hemorroid�ria transanal –,- t�cnica em que o m�dico usa um aparelho de ultrassom para identificar os vasos sangu�neos e realizar uma sutura dos mesmos para interromper a chegada de sangue �s hemorroidas, causando necrose.
Para a proctologista, uma quest�o que dificulta a identifica��o da doen�a � que existem muitas fantasias sobre a consulta proctol�gica, que � feita por um m�dico como em qualquer outra especialidade da medicina. “O profissional far� perguntas a respeito dos sintomas, o padr�o de evacua��o da pessoa, doen�as existentes, hist�rico familiar de c�ncer e cirurgias realizadas. Depois, far� um exame f�sico, que consiste na avalia��o abdominal, na inspe��o do �nus e no toque retal, que dura menos de 10 segundos e � muito bem tolerado. Caso seja necess�ria avalia��o mais detalhada, solicitamos exames de imagem, que consistem em verificar a parte interna do �nus, usando aparelhos que n�o machucam e podem causar desconforto leve, como numa consulta com o ginecologista”, explica a especialista.
Alguns fatores de risco podem desencadear a doen�a, entre eles hist�ria familiar de hemorroidas, obesidade, ressecamento intestinal, alimenta��o errada, fumo, gravidez, longo per�odo sentado ou em p� e envelhecimento. A doen�a hemorroid�ria � uma patologia benigna e n�o causa c�ncer. Por isso, o paciente deve ser examinado por um m�dico especialista, pois s� ele � capaz de avaliar se os sintomas citados s�o, de fato, causados por hemorroidas, uma vez que outras doen�as – inclusive o pr�prio c�ncer – tamb�m podem causar dor, sangramento e nodula��es anais.
O tratamento deve ser iniciado com orienta��es comportamentais e dieta. O paciente deve evitar permanecer longos per�odos de tempo sentado no vaso sanit�rio, adotar a correta postura para evacuar (com os p�s acima de um banquinho de 10cm e o tronco inclinado para frente) e evitar o uso de papel higi�nico (o ideal � fazer a lavagem do �nus ap�s cada evacua��o). “Existem v�rias t�cnicas de cirurgia poss�veis – como a hemorroidectomia, que somente 10% dos pacientes necessitar�o; todas com bom resultado e baixo �ndice de recidiva e de complica��es, em torno de 2,7%. A cicatriza��o completa ocorre em torno de quatro a oito semanas, mas bem antes disso o paciente consegue retomar suas atividades habituais. Lembrando que somente o especialista pode indicar o melhor tratamento e solu��o da hemorroida”, completa Ra�ssa Reis.