
Conviver com enxaqueca n�o � algo f�cil. Isso porque, al�m das crises que podem durar at� 72 horas e apresentar sintomas como dor intensa, n�useas, v�mitos e sensibilidade � luz ou ao som, n�o h� uma medica��o espec�fica para a doen�a, de forma que o tratamento � geralmente feito com medicamentos anti-hipertensivos, antidepressivos e antipsic�ticos, al�m da toxina botul�nica. Mas um tratamento novo pode mudar essa realidade que afeta cerca de 15% da popula��o brasileira, segundo estat�sticas.
“A cirurgia de enxaqueca � hoje realizada por diversos grupos de cirurgi�es pl�sticos ao redor do mundo e em mais de uma dezena das principais universidades americanas, como Harvard. Os resultados positivos e semelhantes das publica��es dos diferentes grupos comprovam a efic�cia e a reprodutibilidade do tratamento”, afirma o cirurgi�o pl�stico Paolo Rubez, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Pl�stica e especialista em cirurgia de enxaqueca pela Case Western University.
Segundo o m�dico, a cirurgia para enxaqueca pode ser feita em qualquer paciente que tenha diagn�stico de migr�nea (enxaqueca) feito por um neurologista, e que sofra com duas ou mais crises severas de dor por m�s, que n�o consigam ser controladas por medica��es; ou em pacientes que sofram com efeitos colaterais das medica��es para dor ou que tenham intoler�ncia a essas medica��es; ou ainda em pacientes que desejam realizar o procedimento devido ao grande comprometimento que as dores causam em sua vida pessoal e profissional.
Pouco invasiva, a cirurgia tem o objetivo de descomprimir e liberar os ramos dos nervos trig�meo e occipital, envolvidos nos pontos de dor. “Os ramos perif�ricos desses nervos, respons�veis pela sensibilidade da face, pesco�o e couro cabeludo, podem sofrer compress�es das estruturas ao seu redor, como m�sculos, vasos, ossos e f�scias. Isso gera a libera��o de subst�ncias (neurotoxinas) que desencadeiam uma cascata de eventos respons�veis pela inflama��o dos nervos e membranas ao redor do c�rebro, que causar�o os sintomas de dor intensa, n�useas, v�mitos, sensibilidade � luz a ao som”, diz o especialista.
As cirurgias para migr�nea podem ser de sete tipos principais nas seguintes regi�es: frontal, temporal e occipital (nuca). Segundo o cirurgi�o, para cada um dos tipos de dor existe um acesso diferente para tratar os ramos dos nervos, sendo todos nas �reas superficiais da face ou couro cabeludo, ou ainda na cavidade nasal. O m�dico explica que cada cirurgia foi desenvolvida para gerar a menor altera��o poss�vel na fisiologia local. “Em todos esses tipos, o princ�pio � o mesmo: descomprimir e liberar os ramos do nervo trig�meo ou occipital, que s�o irritados pelas estruturas adjacentes ao longo de seu trajeto”.
Paolo Rubez enfatiza que as cirurgias s�o realizadas em ambiente hospitalar e sob anestesia geral e, em alguns casos, sob anestesia local. “A dura��o da cirurgia para cada nervo � de cerca de uma a duas horas, e o paciente tem alta no mesmo dia ou no dia seguinte”, explica. A cirurgia para enxaqueca foi criada e desenvolvida, a partir de 2000, pelo cirurgi�o pl�stico Bahman Guyuron, em Cleveland, nos EUA. Desde ent�o, diversas equipes ao redor de todo o mundo v�m realizando este tipo de cirurgia com sucesso.
�nico m�dico a realizar a cirurgia em S�o Paulo, Paolo Rubez aprendeu detalhes das t�cnicas cir�rgicas desse procedimento com Bahman Guyuron, por meio de sete est�gios entre os anos de 2014 e 2019. Segundo o cirurgi�o pl�stico, o procedimento foi criado a partir de cirurgias est�ticas para a regi�o frontal ou superior da face, de forma que Guyuron notou que seus pacientes melhoravam das dores de enxaqueca quando sofriam com o problema.
Em 2005, Guyuron e sua equipe publicaram estudo prospectivo com randomiza��o entre um grupo tratado e um controle sem cirurgia, envolvendo no total 125 pacientes. Do grupo tratado, 92% dos pacientes obtiveram sucesso com a cirurgia, sendo que 35% apresentaram elimina��o completa dos quadros de enxaqueca. “Nos trabalhos cient�ficos sobre a cirurgia de enxaqueca, o sucesso do procedimento � definido como uma melhora de no m�nimo 50% na intensidade, dura��o e frequ�ncia das crises. Este mesmo grupo de pacientes foi acompanhado por cinco anos e, em nova publica��o de 2011, comprovou-se a manuten��o da melhora dos pacientes operados”, finaliza.