Historicamente, a cirurgia pl�stica � mais realizada em per�odos de f�rias, uma vez que repousar � necess�rio para o melhor resultado. Por conta da pandemia, o per�odo de novembro a janeiro foi mais aquecido, com aumento da procura por esse tipo de procedimento, pois o turismo de lazer sofreu grande impacto com as recomenda��es de isolamento social. Automaticamente, mudou a lista de prioridades das pessoas de maior poder socioecon�mico: saem as viagens, entra o bisturi.
O m�dico Paolo Rubez, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Pl�stica e especialista em rinoplastia est�tica e reparadora pela Case Western University, informa que com a possibilidade da vacina, mas a indefini��o sobre quando se poder� voltar a viajar, muitas pessoas decidiram se operar.
H� outros motivos para o aumento da demanda. “Embora a pandemia dificilmente se qualifique como f�rias, ela, ao exigir trabalho em casa, garantiu, sem querer, um per�odo perfeito para a recupera��o, sem precisar de afastamento e sem que as outras pessoas saibam do procedimento”, diz o m�dico.
“Al�m disso, cada vez mais se busca tratar os sinais do envelhecimento e tamb�m os efeitos do isolamento na pele, � procura de um 'efeito antiquarentena', ou seja, do tratamento para a apar�ncia cansada”, acrescenta. Al�m disso, as m�scaras faciais exigidas neste per�odo podem perfeitamente esconder curativos, incha�os e olheiras.
Mas ser� que a pandemia – nosso “novo normal” de cabe�a para baixo – agu�a o apetite por procedimentos cir�rgicos? Talvez. “Em meio a todo o estresse e ansiedade, pacientes relatam crises com a pr�pria apar�ncia f�sica. Al�m disso, muitos foram for�ados a passar horas em videoconfer�ncias com ilumina��o ruim, �ngulos infelizes e recortes estranhos, expondo caracter�sticas que eles nunca notaram antes”, diz o m�dico. “Ningu�m jamais se olhou dessa maneira por tanto tempo ou com tanta frequ�ncia. Acho que isso gera grande parte da demanda.”
Essa “epidemia global” de procura por procedimentos pl�sticos invasivos, na opini�o de Paolo Rubez, � uma forma de recuperar algum controle pelo menos sobre a apar�ncia, nesta �poca de terr�veis incertezas a respeito do futuro. “Muitos est�o confinados em casa, com dificuldades de lazer e impossibilitados de viajar”, observa.
Para alguns, pode parecer bobagem se envolver em buscas superficiais durante uma pandemia, mas h� motivos para isso. “Sabemos h� muito tempo, por meio de relatos de pacientes, que procedimentos est�ticos podem melhorar a autoestima, proporcionando maior confian�a e qualidade de vida”, observa. E quem n�o precisa de um pequeno est�mulo agora?
Tamb�m aumentou a busca pelo autocuidado. “As pessoas est�o alocando recursos e tempo para cuidar de si mesmas, priorizando coisas que podem ter deixado de lado at� ent�o”, diz o m�dico. “Pacientes que costumavam pedir procedimentos injet�veis, ou seja, n�o invasivos, agora querem definitivamente uma cirurgia pl�stica.”
O fen�meno, segundo ele, tamb�m se explica pelo fato de muitas pessoas terem conseguido manter uma renda est�vel. “Elas percebem que (por meses) n�o fizeram compras, n�o tiraram f�rias, n�o foram jantar com os amigos. Quando pensam em todo o dinheiro que economizaram, h� um pouco menos de culpa associada a gastar em cirurgia pl�stica. Busca-se isso como uma forma de realiza��o pessoal e de obter algum prazer”, acredita o especialista.
Um dos destaques continua sendo a rinoplastia, que, no pico da pandemia, apresentou aumento vertiginoso de buscas no Google (4.800%). “Os hospitais seguem protocolo muito rigoroso para evitar o cont�gio por COVID-19, inclusive testando os pacientes e a equipe respons�vel pela cirurgia”, afirma Rubez. Como h� novidades menos traum�ticas, como a rinoplastia ultrass�nica, h� maior procura por esse tipo de procedimento.
“O procedimento visa tratar a parte �ssea do nariz com um aparelho que, por meio de vibra��es, permite ao cirurgi�o realizar a fratura nasal de forma menos traum�tica”, explica o m�dico. “Realizada sob o efeito de anestesia geral, a rinoplastia ultrass�nica tem as mesmas indica��es da t�cnica tradicional, recomendada a qualquer paciente que tenha necessidade de tratar a parte �ssea do nariz. A vantagem � o fato de ser mais precisa e menos traum�tica, resultando em menos incha�o, sangramento e hematoma no per�odo p�s-operat�rio”, observa. “Isso faz com que o processo de recupera��o do procedimento seja mais r�pido e tranquilo, permitindo ao paciente retornar �s atividades rotineiras mais rapidamente.”
Cirurgias para proje��o ou diminui��o do queixo (mentoplastia) e para p�lpebras ca�das (blefaroplastia) tamb�m impulsionam a nova demanda. Apesar das facilidades e do momento prop�cio, o m�dico enfatiza que � importante conversar com o cirurgi�o pl�stico especialista para a indica��o do melhor tratamento.