
Nesta quarta-feira de cinzas, sem cinzas, posso lavar minha alma e chegar ao fim sem me arrepender de n�o ter aproveitado enquanto pude o carnaval. Menina ainda, sou do tempo do corso, que era feito de carro, em torno da Avenida Afonso Pena. Ia no carro do meu tio, Henrique Tamm, e meus primos. D�vamos voltas e voltas na avenida, encarapitados nas laterais do carro, fantasiados, com lan�a-perfume, serpentinas e confetes na m�o.
Depois de muito rodar, a parada era no Autom�vel Clube, onde aproveit�vamos o baile infantil no Sal�o Dourado, longe est�vamos do luxo das fantasias da meninada que por l� estava. Ciganas e princesas, piratas e her�is de quadrinhos eram os principais, algumas fantasias eram t�o elaboradas que n�o dava nem para brincar carnaval.
Depois de muito rodar, a parada era no Autom�vel Clube, onde aproveit�vamos o baile infantil no Sal�o Dourado, longe est�vamos do luxo das fantasias da meninada que por l� estava. Ciganas e princesas, piratas e her�is de quadrinhos eram os principais, algumas fantasias eram t�o elaboradas que n�o dava nem para brincar carnaval.
Crescida, levei minha anima��o por onde dava. Alguns anos estive no Rio, na casa de minha irm�, e as festas eram no Clube da Aeron�utica, bem-comportadas, cheias de vetos (contra nudez, pernas de fora e por a� vai). Em outros anos, quando n�o �amos a festas, v�amos os desfiles das escolas de samba que estavam come�ando a aparecer na TV. Em Belo Horizonte, a anima��o come�ava nas tardes passadas na porta da confeitaria Elite, onde toda a sociedade ficava esperando a noite chegar.
Na Afonso Pena, a mo�ada se fantasiava e fazia o footing para l� e para c�, n�o havia mais corso motorizado. � noite, a festa era sem d�vida no Autom�vel Clube. Na noite de s�bado, t�nhamos o baile de gala, que ocupava at� o espa�o onde, anos depois, foi criada a boate Pr�ncipe de Gales. Outro baile importante era o do Marinheiro, no Iate T�nis Clube, onde a fantasia era obrigat�ria e, de certa forma, nivelava os foli�es. Anos depois apareceu tamb�m o carnaval do PIC, onde nunca fui, nem sei bem a raz�o.
Mas, em compensa��o, n�o perdi um s� Baile do Galo, onde a sociedade deixava os preconceitos de lado e fervia a noite toda. N�o me esque�o de um, que teve como estrela m�xima a Xuxa, que hoje brilha tanto e que, na �poca, namorava o Pel�. Preparou-se na casa de Terezinha Dolabela Sim�o e n�o me esque�o do tanto de creme que os maquiladores passavam em suas pernas, para parecer bem bronzeada.
Fui ao Rio duas vezes para ver os desfiles, e em um deles estive na pista, desfilando na ala pobre das baianas, na Mangueira, que no ano anterior tinha conquistado o primeiro lugar. N�o ganhamos nada e voltar para o camarote onde est�vamos, de fantasia, e saindo do ponto final do desfile foi uma batalha para conseguir o caminho sem me perder, n�o existia nenhuma indica��o. Gostei da hist�ria e aqui participei do desfile da Canto da Alvorada.
N�o tenho um retrato sequer do meu feito heroico, porque o fot�grafo encarregado de eternizar a cena n�o me fotografou. Depois disso, estive sempre que poss�vel nos camarotes que assistiam aos desfiles da Afonso Pena, sempre com um grupo grande de amigos e alguns adeptos com lan�a-perfume, que vinha da Argen- tina. Quando entrei para este jornal, a Rodouro nos mandava caixas de lan�a-perfume, daqueles bacanas, de metal dourado. Foram proibidos, acho que no governo Dutra, n�o me recordo bem. E os que consegu�amos depois eram de vidro, um perigo s�.
Em alguns desses camarotes faz�amos nosso carnaval. Em um deles levamos um bom estoque de champagne, os brindes viravam a noite. Ningu�m pensava em clube, ningu�m pensava em fantasia, mas era uma alegria e tanto, lav�vamos a alma com o som que vinha dos blocos que passavam na rua. Perdemos tudo isso por causa da pandemia – mas a idade j� havia me impedido de entrar na folia –, tradi��o mantida por alguns sobrinhos, que herdaram nosso DNA carnavalesco.