A idade me pegou completamente cuidadosa a respeito dessas novidades que os mais jovens gostam. Na semana em que meu marido se foi, apaguei de vez meu celular, pioneira que fui desse meio de comunica��o. Quando F�bio de Castro, filho da minha grande e querida amiga Helena Castro, me contou sobre o celular, aconselhou-me que comprasse o aparelho que estava chegando � cidade: “Se n�o prestar, voc� n�o gasta mais de CR$ 260, que � o que custa uma linha”.
Aderi logo, o aparelho tinha quase o tamanho de um tijolo, mas me serviu muito, at� quando foi levado para os States. Gostava de novidades. Para contar pouco, n�o me gabar muito, a primeira mat�ria produzida em computador aqui no jornal foi de minha autoria. T�nhamos ido � Europa e visitado v�rios jornais em busca de conhecimento. Valeu pra burro, porque a novidade era t�o grande que o JB, que era o mais famoso jornal do Rio de Janeiro, deixou de sair um dia por n�o conseguir adotar integralmente o uso do computador na edi��o. Muitos n�o v�o se lembrar disso, mas h� alguns fatos profissionais que n�o consigo esquecer.
S� que, com a idade, passei a n�o encarar com calma e conhecimento total os sucessos da tecnologia que tomou conta do mundo. Para evitar problemas, n�o consigo comprar nada por qualquer desses meios de venda que as pessoas adotam para fazer at� sacol�o. Sem falar em roupas, sapatos, acess�rios e outras necessidades cotidianas.
As poucas vezes em que n�o resisti � necessidade de fazer uma compra por pagamento antecipado por cart�o de cr�dito, usei o favor de uma prima. Junto a isso, outra mania: n�o compro nada faturado, n�o divido compra nenhuma – prefiro adiar a compra se n�o posso pagar de uma s� vez e por a� vai. Quem segue os ditames do com�rcio atual acha que sou doida ou totalmente prejudicada.
O que, vejam voc�s, n�o me livra dessa praga de receber e-mails sem conta envolvendo dinheiro, di�vida, protesto e outras doideiras. Antes da pandemia, o que chegava cotidianamente eram doa��es de d�lares. Vinham sempre da �frica ou da China e eram oferecidas por vi�vas cheias de dinheiro, sem herdeiros e nas �ltimas de uma doen�a fatal. Os e-mails davam todas as indica��es de como deveria proceder para ganhar essa grana, por pura doa��o de uma fada madrinha. �s vezes, fico querendo saber se algu�m j� caiu nesse golpe, do jeito que as coisas est�o, em mat�ria de falta de dinheiro, e bem poss�vel que um menos favorecido embarque nesse golpe.
Fico pensando tamb�m quem � que tem tempo para montar esses golpes, muitos deles criados a partir de vidas que s�o colocadas au grand complet no celular. Pessoas que gostam de divulgar aos sete ventos como levam sua vida, desde o doce que ganharam de presente de uma amiga at� campanhas pedindo contribui��o para isso ou aquilo – ajudar o pr�ximo sempre, que � mais comovente. O que recebo desses e-mails n�o est� no gibi.
O �ltimo mais constante � de um t�tulo protestado em meu nome no Recife, cidade que adorei conhecer, mas aonde n�o vou h� mais de 20 anos. Como � que algu�m se lembrou de montar esse golpe? Pode ser gente que n�o me conhece nem de longe, que n�o sabe da minha mania de s� comprar � vista, de n�o dar cheques antecipados, de colocar minha vida econ�mica al�m de minhas possibilidades. Mas a mania dos desocupados n�o tem mesmo tamanho.
Outro golpe que deve ser irresist�vel para alguns � o ligado � doa��o de produtos que est�o sendo lan�ados no com�rcio. Para receber suas amostras, � preciso remeter ao doador todos os seus dados pessoais – de telefone e endere�o at� CPF, e mais outros detalhes. Tem de tudo um pouco: desde produtos de beleza at� alimentos. Ser� que tem gente que ainda cai nesse golpe?