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Estado de Minas

Setembro � m�s das flores e tamb�m de preven��o contra suic�dio

O comportamento suicida � composto por uma s�rie de fatores biol�gicos, emocionais, socioculturais e at� religiosos


02/09/2021 04:00
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Agosto – m�s do desgosto – l� se foi e setembro chegou trazendo flores antecipadas. Mesmo sendo o m�s dedicado ao combate ao suic�dio. Dois dos meus cinco p�s de jabuticabas est�o cobertos de flores, anunciando safra recorde da minha fruta preferida desde a inf�ncia, e o meu p� de ip�-branco abriu seu v�u de noiva no jardim. E como a cada dia os avassaladores notici�rios da epidemia trazem queda significativa, o que nos espera devem ser tempos melhores.

Mas setembro me faz lembrar de todas as pessoas que conheci que se foram por vontade pr�pria, num momento de descr�dito da vida. Ter� valido a pena? O primeiro caso que soube, na inf�ncia ainda, sussurrado em baixo tom de voz pelos adultos, foi de uma prima. Abandonada pelo noivo, que a trocou por outra, resolveu sair da vida de modo bem dif�cil. Como n�o tinha acesso a nada que a matasse com pressa, revolveu morrer de fome. Fechou a boca at� que o organismo n�o aguentasse mais. Para enganar a fam�lia, comia um ou outro biscoito de polvilho. O noivo se casou com outra e foi muito feliz pelo resto da vida.

Morte por depress�o n�o � dif�cil. Outro suic�dio, na fam�lia, foi de prima que se atirou do pr�dio onde morava e ningu�m entendeu a raz�o. Mas como estava deprimida, tinha acompanhamento constante. Pediu um suco, uma �gua, quando foram pegar ela abriu a janela e se jogou do alto do pr�dio. Foi um suic�dio t�o significativo que n�o se fala nele, em tempo nenhum. Sei de todos os detalhes porque minha irm� que atendeu a desesperada tamb�m j� se foi. Mas de doen�a, n�o de desespero.

� claro que as fam�lias dos suicidas evitam de todos os modos definir a causa da morte de quem se foi. H� casos insuspeitados, provocados por excessos de medica��o, o que � mais comum, mas at� por enforcamento, o que � o mais constrangedor. E sofrido. O suic�dio � visto, muitas vezes, como um ato de covardia. Na realidade, trata-se de um sintoma perigoso de uma sociedade que evita falar e discutir abertamente sobre problemas como depress�o, ansiedade e s�ndrome do p�nico.

Estima-se que 90% das pessoas que se matam ou tentam se matar sofrem de algum transtorno mental. Por outro lado, a maioria das pessoas que t�m problemas do tipo n�o tenta colocar fim � pr�pria vida. Logo, os dist�rbios mentais t�m, sim, papel fundamental em grande parte dos casos, mas o que leva ao suic�dio � uma combina��o fatal com outras circunst�ncias pessoais e ambientais adversas.

Mas, afinal, quem tem o maior risco de cometer suic�dio? Quem s�o as pessoas que tentaram se matar, mas superam o desejo de morrer? No Brasil, o grupo mais sujeito ao ato � o de homens com idade entre 15 e 34 anos. O problema, no entanto, atinge mais os idosos. De acordo com dados do Minist�rio da Sa�de, a mortalidade por suic�dio � maior em homens com mais de 70 anos.

Para cada homem que tira a pr�pria vida, h�, pelo menos, tr�s mulheres que tentaram e n�o conseguiram. Isso acontece por conta dos m�todos mais diretos que s�o, geralmente, usados pelo sexo masculino, como armas de fogo. As mulheres optam por meios que proporcionem menos dor, como a ingest�o de rem�dios. Quando falamos sobre suic�dio, � comum ouvirmos que h� quem se veja em situa��o de grande desespero ou solid�o e, mesmo assim, n�o tenta tirar a pr�pria vida. Qual � a diferen�a de quem realmente tenta se matar?

Na realidade, n�o h� um perfil definido de “suicida”. H� a fragilidade emocional, que pode ser trabalhada com o apoio de familiares, amigos pr�ximos e, principalmente, com o psicoterapeuta. Especialistas avaliam a tentativa ou o ato de se matar a partir de duas vari�veis. A primeira diz respeito � intencionalidade, ou seja, � consci�ncia e � voluntariedade no planejamento e preparo do ato. A segunda, por sua vez, � sobre a letalidade. Ou melhor, o grau de preju�zo f�sico que a pessoa se inflige. Por que as pessoas tentam se matar? Por ser um ato completamente particular, justificar as raz�es que levam uma pessoa a tirar a pr�pria vida � quase imposs�vel. Cada indiv�duo tem a sua pr�pria hist�ria, suas ang�stias, frustra��es e dores.

Faz parte do pensamento humano cogitar a morte como uma sa�da para escapar do sofrimento, chamar a aten��o ou, at� mesmo, para ficar na hist�ria. Algumas pessoas, no entanto, resolvem continuar vivas e melhorar as condi��es de vida. A pergunta que resta �: por que algumas desistem do suic�dio e outras n�o?. O comportamento suicida � composto por uma s�rie de fatores biol�gicos, emocionais, socioculturais e at� religiosos que, em jun��o, resultam em uma manifesta��o intensa contra si mesmo.

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