Recentemente, estudo publicado no peri�dico cient�fico The Lancet fez a previs�o de que haver� uma queda not�vel no n�mero da popula��o ap�s um pico que ser� alcan�ado em 2064. Agora, pesquisa da maior e mais antiga organiza��o de cientistas do mundo dedicada a estudos hormonais, a Endocrine Society, destaca que o estresse das rela��es sociais de menor qualidade est� no centro desse decl�nio populacional.
“Os pesquisadores preveem um pico no n�mero da popula��o em 2064, seguido por uma queda de 50% at� o final do s�culo devido �s mudan�as no comportamento e fun��o reprodutiva humana. Houve uma redu��o de 50% na contagem de espermatozoides nos �ltimos 50 anos. O aumento do n�mero da popula��o contribui para intera��es sociais menos significativas, retraimento social e estresse cr�nico, que subsequentemente suprime a reprodu��o, diminuindo a contagem de espermatozoides, a ovula��o e a atividade sexual”, explica o Rodrigo Rosa, especialista em reprodu��o humana e diretor cl�nico da Cl�nica Mater Prime, em S�o Paulo.
Segundo o estudo, uma caracter�stica �nica da queda populacional que se aproxima � que ser� quase exclusivamente causada pela diminui��o da reprodu��o, em vez de fatores que aumentam as taxas de mortalidade. “Altos n�veis de estresse podem tornar as chances de um casal engravidar menores. Isso porque o estresse causa processos fisiol�gicos que podem interferir na produ��o de horm�nios reprodutivos importantes, al�m de no homem favorecer o surgimento de prote�nas inflamat�rias que prejudicam a qualidade do esperma”, acrescenta.
Segundo o especialista, os pesquisadores descobriram que as raz�es para a diminui��o da reprodu��o tamb�m s�o �nicas, pois, ao contr�rio dos s�culos anteriores, hoje, a reprodu��o limitada dificilmente se deve � escassez de recursos. “Em outras palavras, a queda populacional prevista deve-se quase exclusivamente a mudan�as no comportamento reprodutivo e na fisiologia reprodutiva. Hoje, as mudan�as globais no comportamento reprodutivo s�o explicadas principalmente pelas ci�ncias sociais em uma estrutura de hip�teses de transi��o demogr�fica, enquanto as mudan�as na fisiologia reprodutiva s�o geralmente atribu�das a efeitos de poluentes desreguladores end�crinos, que afetam a qualidade e a quantidade de espermatozoides e �vulos. Esse estudo, no entanto, descreve uma hip�tese complementar ou alternativa, que conecta tend�ncias reprodutivas com densidades populacionais, tendo como ponto principal a quest�o do estresse nas intera��es sociais de m� qualidade”, explica o m�dico.
O trabalho diz que numerosos estudos experimentais e de vida selvagem de uma ampla gama de esp�cies animais demonstraram que o comportamento reprodutivo e a fisiologia reprodutiva s�o controlados negativamente por meio de sinaliza��o end�crina e neural em resposta ao aumento da densidade populacional. H� uma explica��o t�cnica para isso: a cadeia causal desse sistema de controle, embora n�o totalmente compreendida, inclui a supress�o de todos os n�veis da cascata hipot�lamo-pituit�ria-gonadal (HPG) pelo eixo hipot�lamo-pituit�ria-adrenal (HPA), ativado em resposta ao estresse crescente das intera��es sociais.
Em outras palavras, o organismo reage ao estresse com a libera��o de horm�nios que alteram as fun��es reprodutivas, inclusive interferindo na libera��o do horm�nio fol�culo estimulante (FSH), que tem como fun��o regular a produ��o de espermatozoides e a matura��o dos �vulos durante a idade f�rtil. “O comportamento que contribui para a queda da popula��o inclui mais casais jovens que optam por ficar 'sem filhos', pessoas com menos filhos e casais que esperam mais para come�ar uma fam�lia”, diz o especialista.
Os pesquisadores encontraram uma conex�o entre n�meros populacionais, estresse e reprodu��o revisando v�rios estudos e fazendo as seguintes perguntas: por que as pessoas se recusam a ter filhos quando o acesso a todos os recursos vitais est� se tornando melhor do que a humanidade jamais teve? Por que houve uma redu��o de 50% nas contagens de esperma nos �ltimos 50 anos? Por que est�o surgindo diferentes formas de retraimento social?.
A partir dessas quest�es, eles chegaram � hip�tese de que o decl�nio da reprodu��o pode ser devido ao estresse de menos intera��es sociais de qualidade e mudan�as no comportamento reprodutivo, como um aumento de casais "sem filhos" e paternidade tardia. “Numerosos estudos de vida selvagem e de laborat�rio demonstraram que os picos populacionais s�o sempre seguidos por aumento do estresse e reprodu��o reprimida. Essa revis�o fornece evid�ncias de v�rias disciplinas de que os mesmos mecanismos anteriormente observados em esp�cies selvagens podem funcionar em humanos tamb�m”, finaliza Rodrigo Rosa.