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Estado de Minas MEM�RIA

Nunca fui � �ndia, mas ela faz parte da minha vida

As cinzas de minha irm� ser�o jogadas no Rio Ganges, quando a pandemia passar. Assim como ocorreu com Gandhi, a quem admiro profundamente


31/01/2022 04:00 - atualizado 03/02/2022 10:56

ilustração Gandhi

Tarde dessas, de t�dio, resolvi assistir ao filme “Gandhi”, com mais de tr�s horas de dura��o. N�o podia ter feito escolha melhor, porque h� anos sou admiradora de Mahatma Gandhi (1869-1948), sobre cuja vida j� li e reli em livros, vi e revi em outros filmes. N�o foi sem raz�o que Ben Kingsley ganhou um Oscar por seu desempenho.

O filme � uma maravilha, o melhor que j� vi sobre o assunto. E como sou muito enfronhada na hist�ria, ia sacando o que ia acontecer, porque o roteiro n�o furta � realidade da hist�ria. At� que a vida de Gandhi terminou, com suas cinzas jogadas no Rio Ganges.

Nunca fui � �ndia. Mas admirava minha irm�, mais velha do que eu, que se foi no segundo ano da COVID, deixando a recomenda��o de que suas cinzas fossem lan�adas no rio indiano. Deixou por escrito, ela era firme em suas inten��es. E tinha pela �ndia admira��o cultural e social imensa.

Ocorreu com ela um acontecimento com o qual a fam�lia sempre implicou, mas confirmado por alguns de seus companheiros de viagem. Algumas vezes em que chegou por l�, um indiano se aproximou dela e falou que estava ali esperando a sua chegada. E gostaria, se n�o se importasse, de acompanh�-la em seus passeios tur�sticos. Minha irm� nunca tinha visto o homem, n�o conhecia ningu�m na cidade, mas como era diferente, ligada aos acontecimentos inesperados da vida, concordou com a oferta.

O indiano foi seu acompanhante neste primeiro encontro e em v�rios outros, pois ela n�o ia para o outro lado do mundo sem passar pela �ndia. Toda vez que chegava, ele estava l� para acompanh�-la, como se tivesse sido avisado. Ela contava como ele se comportava e como a guiava por lugares que n�o apareciam nos programas tur�sticos.

Conto isso como pura verdade, n�o estou inventando nada e ela tamb�m n�o inventava. Por causa disso, a fam�lia achou normal que minha irm� tivesse recomendado que levassem suas cinzas para serem jogadas no Ganges.

Criado o problema, ficou a d�vida: como passar por diversas alf�ndegas at� desembarcar na �ndia carregando uma bagagem de cinzas? A solu��o proposta foi aceita. Fizemos o enterro de parte das cinzas no fundo da casa da fam�lia que ela escolheu para morar, durante v�rios anos, em Santa Luzia, revivendo a moradia que estava em p�ssimo estado, na rua principal da cidade, logo abaixo da igreja.

Nesta casa singela, que funcionou durante muitos e muitos anos como ag�ncia dos Correios, morou minha tia Aramita Vianna com o irm�o Raul. Ela tomava conta da ag�ncia e quando o irm�o morreu, abriu m�o da profiss�o para morar com a fam�lia. Ficou algum tempo em nossa casa, onde come�ou a se tratar de um c�ncer, at� que se mudou para o Rio de Janeiro, onde foi morar com a irm�, Elisa Gon�alves, m�e da prima internacionalmente famosa Elisinha Gon�alves Moreira Salles. L� morreu e l� foi enterrada.

Quanto � divis�o das cinzas da minha irm�, elas est�o aguardando a caravana familiar que vai cumprir as vontades desta mulher que sabia o que queria. Quando resolveu ser artista pl�stica, abriu uma escola na cidade, de onde surgiram artistas conhecidos at� hoje. Cansou-se da escola e foi morar em Santa Luzia. Viajada pelo mundo inteiro, reviveu os padr�es luzienses, visitando e recebendo parentes e amigos. Tentou at� abrir uma lojinha de artesanato na �rea que originalmente funcionava como os Correios.

N�o deu certo. E ela mudou sua a��o para fazer quantidade incont�vel de compotas, recuperar a casa, enfeitar as paredes com muitos e muitos quadros. O que ela n�o podia era parar.

Agora, os sobrinhos est�o esperando a pandemia acabar para levar suas cinzas para jogar no Ganges. Fico s� imaginando se o amigo dela vai aparecer para a despedida final.

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