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Estado de Minas LUTA PELA EXIST�NCIA

Um corpo negro e trans em ambientes p�blicos � lido como p�blico

"N�s, pessoas negras e transexuais, existimos e resistimos!"


06/08/2021 08:51 - atualizado 06/08/2021 10:20

Mj Rodriguez, mulher trans que protagoniza a série Pose da Netflix, foi indicada ao Emmy
Mj Rodriguez, mulher trans que protagoniza a s�rie Pose da Netflix, foi indicada ao Emmy (foto: Netflix)

 
Desde muito cedo, a crian�a negra j� sente o gosto amargo do racismo: ouvimos piadas com nossos cabelos e nossos tra�os. Somos alvo de m�sicas e “brincadeiras” que s� refor�am estere�tipos da comunidade negra. Desde crian�a, lidamos com rejei��es e a falta de refer�ncias para constru��o da nossa autoestima.
 
Infelizmente, essas e outras situa��es racistas ainda atravessam nossas vidas tamb�m na fase adulta. Ou seja, a vida inteira n�s sentimos o peso do racismo. E o pior: desde que iniciei a transi��o -- e principalmente quando iniciei a terapia hormonal e passei a exteriorizar minha identidade de g�nero --, passei a vivenciar ainda mais agress�es e discrimina��es. 


Posso afirmar que homens negros em ambientes p�blicos s�o tratados com muita agressividade e, ao mesmo tempo, as pessoas t�m receio e medo de se aproximar. Ou seja, nossa presen�a quase sempre � lida como perigo, algo que as pessoas precisam temer ou “atacarem antes”. E,  como sou um homem negro retinto e transexual, toda essa agresividade � elevada ao quadrado.Sabe por qu�?
 
Acredite: para muitas pessoas, minha transexualidade e meu corpo negro permitem que eu seja tocado, questionado e agredido. Tudo ao mesmo tempo. J� perdi as contas de quantas vezes pessoas me encararam na rua com um semblante fechado e, logo em seguida, vieram para cima de mim, tentando me agredir. Pessoas que nunca vi na vida me questionam com um tom bravo se sou “homem ou mulher”.
 
Algumas pessoas d�o risada, fazendo piadas. Uma vez, durante uma viagem, uma mulher falou: “voc� est� tentando me enganar, n�?" e tocou e apertou meu corpo sem a minha permiss�o. Na cabe�a dessa senhora e de tantas outras pessoas que j� cruzaram meu caminho, meu um corpo negro e trans � um corpo p�blico. Sem falar no olhar zool�gico.
  

'Acredite: para muitas pessoas, minha transexualidade e meu corpo negro permitem que eu seja tocado, questionado e agredido. Tudo ao mesmo tempo. J� perdi as contas de quantas vezes pessoas me encararam na rua com um semblante fechado e, logo em seguida, vieram para cima de mim, tentando me agredir. Pessoas que nunca vi na vida me questionam com um tom bravo se sou 'homem ou mulher'.'

 
 
"Um corpo negro e trans em ambientes publicos � lido como um corpo p�blico”.  Essa frase que � t�tulo desse artigo, conhecei por causa da Giovana Heliodoro, mulher trans, afrotransfeminista e historiadora, durante uma palestra e eu me identifiquei na mesma hora com as palavras dela.

Infelizmente, � isso que ainda acontece no Brasil. Corpos que n�o se encaixam no “padr�o”, que n�o performam uma cis-heterormatividade ou que n�o s�o brancos, muitas vezes, s�o marginalizados sumariamente. Como se n�o tivessem valor, fossem descart�veis ou que n�o devessem existir. Corpos que podem ser violentados, abusados, tocados. Ou ent�o corpos que foram feitos para serem alvos de chacota.

Na pr�tica, n�o existe como��o ou solidariedade, quando nossos corpos negros e trans  passam por essas viol�ncias. Tanto que, quando estou na rua, a sensa��o que tenho � que algumas pessoas querem pegar um graveto e me cutucarem para ver minha rea��o, como se n�o houvesse humanidade em mim. Para essas pessoas, n�o existe a necessidade de nos tratar com respeito, amor, compaix�o e  dignidade, afinal, nossos corpos n�o merecem isso. N�s n�o somos lidos como seres humanos.

Sem falar nas pessoas transexuais que,  infelizmente, perderam suas vidas por serem quem s�o. O Brasil se mant�m na vergonhosa lideran�a do ranking de pa�ses que mais matam pessoas trans no mundo. S� em 2020, foram 175 travestis e mulheres transexuais assassinadas. N�mero 41% maior do que em 2019, quando foram registrados 124 homic�dios. Os dados s�o da Associa��o Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). 
 

'Na pr�tica, n�o existe como��o ou solidariedade, quando nossos corpos negros e trans passam por essas viol�ncias. Tanto que, quando estou na rua, a sensa��o que tenho � que algumas pessoas querem pegar um graveto e me cutucarem para ver minha rea��o, como se n�o houvesse humanidade em mim. Para essas pessoas, n�o existe a necessidade de nos tratar com respeito, amor, compaix�o e dignidade, afinal, nossos corpos n�o merecem isso. N�s n�o somos lidos como seres humanos.'

 
A barb�rie � tamanha que, de acordo com esse relat�rio, a v�tima mais jovem tinha apenas 15 anos de idade; a mais velha, 29. Outros alarmantes dados tamb�m refor�am o t�tulo desse artigo: Segundo a Antra, 71% dos crimes contra pessoas trans aconteceram em locais p�blicos. Al�m disso, ao menos 78% das v�timas foram identificadas como pessoas negras (pretas e pardas).
 
Assim como s�o as negras as que t�m a menor escolaridade, menor acesso ao mercado formal de trabalho e a pol�ticas p�blicas. Em metade dos casos, as mortes foram por armas de fogo e 77% dos crimes tiveram requintes de crueldade. Ainda de acordo com a Antra, a expectativa de vida de Travestis e Mulheres transexuais � de 35 anos. Menos da metade que a expectativa de vida da popula��o brasileira, que � de 74,96 anos.
 

'Segundo a Antra, 71% dos crimes contra pessoas trans aconteceram em locais p�blicos. Al�m disso, ao menos 78% das v�timas foram identificadas como pessoas negras (pretas e pardas).'

 
 
Infelizmente, por essa barb�rie se repetir ano ap�s ano, muitas pessoas olham para essa pesquisa apenas como n�meros frios e distantes. Esquecem que essas pessoas s�o seres humanos com hist�ria. Tinham m�es, irm�os, amigos, sonhos profissionais, projetos, desejos e apenas queriam viver suas vidas como s�o. 

Deixo uma dica para te ajudar a se aproximar da realidade das pessoas negras e transexuais: confira a excelente s�rie Pose da Netflix. Ela se passa durante a d�cada de 1980 e in�cio da 1990, mergulhada na cultura ballroom. Nela, voc� vai conhecer a protagonista Blanca Evangelista (Mj Rodriguez), uma mulher negra e transexual que acolhe pessoas LGBTQIA+ em situa��o de vulnerabilidade em Nova York.
 
Voc� n�o tem ideia da for�a, sensibilidade e amor que essa mulher tem! %u2800 A s�rie traz o maior elenco transg�nero da hist�ria da televis�o norte-americana e, com certeza, pode te ajudar a mudar seu olhar sobre nossos corpos negros e transexuais. 

“It is necessary to constantly remind ourselves that we are not an abomination” (“� necess�rio nos lembrar constantemente que n�o somos uma abomina��o”), Marlon Riggs, 1957-1994

Pessoas negras e transexuais. N�s existimos e resistimos! 

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