
Amanda, de 11 anos, estuprada pelo seu professor no vesti�rio do clube de classe m�dia alta. Durante o ato de extrema viol�ncia, ele a amea�ava, faria pior se ela contasse a algu�m. Ela passou anos com medo, anos sem falar nada. Anos sem ningu�m procurar saber por que ela havia mudado tanto depois daquele dia. (Essa hist�ria real voc� l� no meu livro Sem para�so e sem ma��).
Bernadete, de 9 anos, estuprada pelos filhos adolescentes dos amigos dos seus pais. Eles a amea�am e ela n�o conta nada. Se sente culpada, n�o consegue entender o que fez para que eles fizessem aquilo com ela.
Cristina, de 7 anos, molestada pelo tioz�o amigo da fam�lia enquanto ele brinca com ela na piscina. Ela sente nojo e conta � m�e, havia di�logo entre as duas. A m�e acreditou nela. O ped�filo foi condenado e preso, e depois disso muitas v�timas dele tiveram coragem de contar que tamb�m haviam sido abusadas.
Diana, de 3 anos, na casa de um amiguinho que morava no mesmo pr�dio, ficou sozinha com o pai do garoto enquanto a m�e dava banho nele com a porta do banheiro fechada. O homem baixa as cal�as, ela se assusta, bate na porta do banheiro, mas a m�e do menino n�o abre, porque ela n�o podia ver o garoto nu.
Ela corre para a entrada do apartamento, consegue sair porque a porta estava aberta. A m�e, psic�loga infantil, se assusta com ela chegando sozinha em casa, escuta a filha, entende a situa��o e dias depois se muda para um bairro bem afastado.
Ela corre para a entrada do apartamento, consegue sair porque a porta estava aberta. A m�e, psic�loga infantil, se assusta com ela chegando sozinha em casa, escuta a filha, entende a situa��o e dias depois se muda para um bairro bem afastado.
Eva, de 6 anos, abusada pelo pr�prio tio. Um pai de fam�lia normal. Ela estava dormindo quando ele apareceu. Ela tremia e fingia que dormia, tinha medo. Inoc�ncia perdida. Os horrores do mundo revelados por um abusador. Medo. Terror. Pavor.
Ela se cala. Ele a obriga a ficar calada. Ele continua a estupr�-la, ano ap�s ano. Ela sente vergonha, nojo, culpa. O que ele faz � tortura. Tortura f�sica e psicol�gica.
Ela se cala. Ele a obriga a ficar calada. Ele continua a estupr�-la, ano ap�s ano. Ela sente vergonha, nojo, culpa. O que ele faz � tortura. Tortura f�sica e psicol�gica.
F�tima, de 12 anos, gr�vida do pai da melhor amiga e colega da escola particular. N�o estava preparada para ser m�e de uma crian�a gerada num ato de viol�ncia. Gr�vida de um criminoso ped�filo estuprador.
Gl�ucia, de 11 anos, gr�vida do padastro. Uma crian�a gerando outra crian�a. Uma gesta��o n�o planejada. Uma inf�ncia violada. Seu corpo n�o est� pronto para gerar aquele beb�. Seu corpo n�o estava pronto para ter rela��es sexuais. Alma dilacerada. N�o quer carregar em seu vente o filho de um estuprador. O fruto de um ato violento. Fruto de sofrimento e dor.
Todas essas hist�rias s�o reais, os nomes s�o fict�cios. Essas crian�as hoje s�o mulheres adultas, m�es. Nenhuma delas superou a viol�ncia sofrida. Esses s�o apenas alguns das centenas de depoimentos que recebi em 10 anos trabalhando com mulheres.
Tantas hist�rias tristes nos levaram a fazer dois workshops de preven��o e combate ao abuso sexual infantil, um em 2013, outro em 2015. E como voc�s sabem, crian�as continuam sendo abusadas sexualmente. Crian�as continuam engravidando dos estupradores. Crian�as continuam sendo silenciadas.
O que podemos fazer para prevenir os abusos?
Precisamos conversar sobre consentimento. As crian�as (meninos tamb�m s�o abusados) precisam aprender que o corpo � delas, e que nenhum adulto pode tocar suas partes �ntimas. Elas devem aprender isso em casa e na escola.
N�o pode haver segredos, crian�a tem que saber que, se algu�m diz que n�o � para contar para a mam�e, ou para o papai, aquilo est� errado. E tem que contar sim. Para isso, � preciso haver abertura e di�logo em casa. Na falta do di�logo em casa, � importante a educa��o sexual nas escolas.
Educa��o sexual n�o serve para ensinar as crian�as a fazer sexo, serve para prevenir que elas sejam abusadas sexualmente. Serve para evitar que elas engravidem na adolesc�ncia. Serve para que n�o contraiam uma doen�a.
Evitar tocar no assunto s� favorece os criminosos ped�filos.
A infantiliza��o dos corpos femininos
As meninas entram na puberdade, os pelos come�am a aparecer e as m�es j� pensam em depila��o. N�o nos lembramos de deixar a crian�a escolher se quer ou n�o manter seus pelos no corpo.
Higiene, dizem que � quest�o de higiene. Mas os homens seguem peludos, bem mais peludos, e tudo bem.
Pelo n�o � anti-higi�nico. A est�tica � uma quest�o cultural. A gente escolhe baseada em padr�es. Mas ser� que esses padr�es n�o favorecem a cultura do estupro e a pedofilia?
N�s, mulheres, seguimos depilando nossos corpos, pernas, axilas, e a depila��o �ntima, que tira todos os pelos e deixa aquela apar�ncia infantilizada. Esse padr�o legitima o desejo por corpos infantis?
Eu n�o tenho a resposta, mas venho me fazendo muitas perguntas.
O criminoso ped�filo deve ser punido. Mas o que n�s podemos fazer para que as v�timas n�o sejam culpabilizadas? Leis e puni��o s�o suficientes quando tornamos corpos infantis desej�veis, quando hipersexualizamos crian�as e infantilizamos mulheres?
Livros intanfis para ajudar a prevenir o abuso sexual infantil
Pipo e Fifi – https://www.pipoefifi.org.br/ (infantil)
A m�o boa e a m�o boba – Renata Emrich e Erica Ianni (infantil)
Ant�nio – Hugo Monteiro Ferreira (infantil)
O segredo segred�ssimo – Od�via Barros (infantil)
Todos contra a pedofilia – Cas� Fortes (adulto)