(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas Padecendo

Aprendendo a viver no isolamento social

Foi como se tiv�ssemos passado um longo per�odo em outra dimens�o depois de passarmos quatro meses vivendo o mesmo dia, repetindo as mesmas coisas


(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)

Desde o dia 14 de mar�o, quando o primeiro caso de na escola do meu filho foi confirmado, ficamos em isolamento social. Sem sair de casa para nada.

No primeiro m�s meu marido ainda sa�a para trabalhar, ent�o apareceu o primeiro caso na empresa onde ele trabalha e todos foram trabalhar em casa. Ele passou a sair apenas para fazer supermercado. Mas no �ltimo m�s passamos a fazer supermercado on-line.

T�nhamos uma rotina cheia de atividades, �amos e volt�vamos a p� para o col�gio todos os dias, s�o mil e duzentos metros de casa at� a escola. Dois dias por semana caminhada para o ingl�s que fica a 900 metros.

Nos fins de semana and�vamos de bicicleta, visit�vamos parques e museus. Todas as atividades ao ar livre foram suspensas por tempo indeterminado. Com as aulas on-line, o tempo de tela que era de uma hora di�ria, passou para oito horas.

Em quatro meses, a crian�a que fez 11 anos durante o isolamento e teve festa on-line, perdeu oito dentes de leite, cresceu muitos cent�metros e passou a comer muito mais do que comia antes.

O sono tamb�m foi prejudicado. Nas �ltimas semanas de aula antes das f�rias comecei a receber notifica��es do col�gio sobre atividades que ele deveria ter feito, mas n�o fez.

Eu s� tenho um filho, ele j� est� numa fase bem independente, meu escrit�rio � em casa onde tamb�m fa�o almo�o, limpo, lavo.

Eu n�o consigo acompanhar as aulas on-line. Imposs�vel controlar tudo que a crian�a est� fazendo enquanto assiste aula no computador.

Imagine as m�es que t�m mais filhos, que t�m filhos menores, que n�o t�m marido. Que perderam o emprego. � enlouquecedor.

Ser� que neste momento as escolas devem cobrar tanto dos alunos? Ser� que deve sobrar tanto para os pais nessas aulas on-line? Que tipo de conte�do � realmente relevante quando n�o se pode encontrar os amigos? Quando um parente est� doente. Quando temos que lidar com o luto.

As f�rias escolares chegaram e nos demos ao luxo de passar uma semana com meus pais que moram na zona rural. Tem tantas coisas que as crian�as podem aprender longe da cidade, longe do celular, do computador, da TV, do tablet.

Numa caminhada, n�s passamos por uma planta��o de abobrinha e berinjela, vimos o sistema de irriga��o, vimos como eles plantam. Como � a flor da abobrinha e a flor da berinjela, e como aquelas flores v�o dando origem aos frutos.

Colhemos mexerica no p�. Salvamos aranhas do afogamento na piscina. Pegamos ovos no galinheiro. Jogamos fub� para os canarinhos da terra que vivem soltos em bandos por l�. Pegamos a flor do cip�-de-S�o-jo�o para chupar o melzinho que tem dentro.

Andar de bicicleta na estrada de terra. Passear montado num cavalo. Fazer massinha com farinha de trigo sem se preocupar com a sujeira. Dar milho para as galinhas. Ouvir o canto do p�ssaro preto.

Observar o fogo no fog�o de lenha. Derreter marshmellow. Subir em �rvore. Se balan�ar na rede. Observar as nuvens, as estrelas, o p�r do sol. Ver como cada passarinho faz um ninho diferente. Ouvir o canto das siriemas.

Quando voltamos para casa, a sensa��o era que t�nhamos ficado na ro�a por muito mais que uma semana, porque o tempo passa mais devagar por l�. Foi como se tiv�ssemos passado um longo per�odo em outra dimens�o depois de passarmos quatro meses vivendo o mesmo dia, repetindo as mesmas coisas.

Quando foi que a gente come�ou a achar bonito morar amontoado? Empilhados em apartamentos, espremidos nas cidades, respirando esse ar polu�do, correndo para l� e para c�? Olho pela minha janela e vejo essa quantidade de pr�dio e s� consigo pensar que estou louca, viver assim n�o faz sentido!

As aulas on-line v�o voltar, a rotina ser� a mesma, os dias ser�o todos iguais. A conviv�ncia com os amigos ainda � invi�vel. A escola � importante, n�o s� pelo conte�do, mas tamb�m pela conviv�ncia com outras crian�as.

Aprender a escrever, a calcular. Aprender geografia, hist�ria e biologia. Mas neste momento de pandemia, com tantas incertezas, a sa�de mental agradece se a gente conseguir um tempinho para aprender a viver.


*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)