O mundo diz: n�o envelhe�a. Mas eu teimo em aceitar a passagem dos anos. Passei dos 40 sem medo nenhum de ser trocada por duas de 20. N�o sou objeto para ser descartado, nem tenho prazo de validade. Fui feita para durar.
Garanti meu atestado de velhice em 2019, quando entrei na menopausa. Aos 44 anos, naquela mesa de cirurgia, eu me livrava de um c�ncer de mama, e recebia aquela visita pela �ltima vez. Ela me visitou, se despediu alguns dias depois e n�o voltou mais. Meu �ltimo ciclo. Meu recome�o. Cedo demais? N�o, na hora que tinha que ser.
Me libertei daquele sangrar de todo m�s, o sagrado feminino. Sagrada passagem para a liberdade de n�o me preocupar mais com o fluxo, ou com uma gravidez indesejada. Me despedi do meu coletor menstrual e fui apresentada �s ondas de calor.
Me desapeguei do dress code para mulheres maduras. Barriga de fora, shortinho, decote, saia curta, cabelo comprido. Eu posso tudo. Bom mesmo � roupa solta e p�s no ch�o. Nada me apertando, que eu n�o sou obrigada!
Celulite, estrias, flacidez, rugas e cicatrizes de quem viveu o bastante para ter muita hist�ria para contar.
O caf� da manh� vem acompanhado de comprimidos. Um para evitar a recidiva do c�ncer. Um para a depress�o. Vitamina B12 para reposi��o. Col�geno para a dor no joelho, gasto de tanto caminhar.
Para o envelhecimento: respeito.
Para as rugas: preenchimento.
Para os cabelos brancos: hidrata��o.
Para a flacidez: carinho.
Para a dor na coluna: ioga.
Para dias dif�ceis: paci�ncia.
Para a paz do esp�rito: medita��o.
Para o machismo: um basta.
Para a rotina: boa m�sica.
Para filho adolescente: cuidado.
Para marido: paix�o.
Para casamento: equil�brio.
Para a cura: ci�ncia.
Para a COVID-19: vacina.
Para a alma: natureza.
Para tudo o que importa: amor.
Dito minhas regras. Amo as imperfei��es do meu corpo. Como n�o amava h� 20 anos. S� n�o fica velho quem se despede cedo demais. Um dia a gente se olha no espelho, v� os cabelos brancos, v� as rugas, v� a pele fl�cida, e pensa: que perfei��o envelhecer!