
Diziam que ela era madura para a idade, novinha, com corpo de mo�a. Adolescente como todas as outras. Mas ele dizia que ela era diferente, e ela acreditada. Na inoc�ncia de quem pensa que sabe tudo, ela se sentiu orgulhosa com o elogio.
Ele era mais velho, melhor assim. A fam�lia aprovava o relacionamento. Que mal tem um homem de 30 com uma menina de 14? Meninas amadurecem mais cedo.
Ele era mais velho, melhor assim. A fam�lia aprovava o relacionamento. Que mal tem um homem de 30 com uma menina de 14? Meninas amadurecem mais cedo.
Conveniente cultura da pedofilia. Cultura do estupro. A pedofiliza��o social. A est�tica feminina que busca a juventude eterna. A naturaliza��o dos relacionamentos entre homens e meninas. Mais f�cil dominar uma menina do que dominar uma mulher.
Ela acreditou que poderia mud�-lo. Acreditou nas promessas. Aceitou o relacionamento abusivo. Ele pedia desculpas, ela perdoava. O ciclo persistia. As brigas, as ofensas, o estupro.
Por ele, ela se afastou da fam�lia, das amigas. S� ele bastava. Se ele sentia ci�mes era porque amava demais. Se gritava com ela, era porque ela tinha feito algo errado.
Engravidou e foi descartada. Como m�e solteira, era vista como concorrente pelas outras m�es. Ningu�m queria fazer amizade. Quando cobrava a pens�o atrasada, era tratada como interesseira. Se brigava pelo direito do filho, era louca. Ningu�m o questionava.
Entre os homens, existe um pacto, eles se apoiam. Eles acreditam uns nos outros. Enquanto n�s fazemos o oposto. Nos desacreditamos. Nos desvalorizamos. Buscamos a aprova��o masculina. Somos facilitadoras do patriarcado.
Aprendemos a nos ver como manequins em vitrines. O tempo todo competindo pela aprova��o masculina. Nos objetificamos para ser escolhidas. Geramos inseguran�a entre nossas iguais. Baixamos nossa autoestima. Acreditamos que nossa felicidade est� em ser de um homem.
N�o responsabilizamos os homens pelo abandono paterno. Ela engravidou porque quis. Deu o golpe da barriga. O sujeito que deixou seu esperma depositado naquele �tero acredita e faz acreditar que ele � a v�tima. Mesmo se ele o fez sem consentimento.
Refor�amos a cultura do estupro quando n�o acreditamos na palavra da mulher, ou a culpamos pelo ocorrido. N�o deveria estar usando aquela roupa. N�o deveria estar naquele lugar. Nos esquecemos de que estupro acontece com quem usa minissaia, mas tamb�m acontece com quem usa burca, e at� com quem usa fraldas. Estupro acontece at� dentro do casamento, pelo marido que entende que casamento � consentimento vital�cio para uso do corpo da esposa.
Nos julgamos pela roupa, pelo corte de cabelo, pela cor do esmalte, ou pelas unhas sem fazer. Pelo peso. Pelo tamanho do quadril ou da cintura. Cabelo grisalho em mulher � desleixo, em homem � charme. Homem pode envelhecer. Mulher que envelhece perde seu valor.
Refor�amos a cultura da pedofilia, a cultura machista e a misoginia quando naturalizamos e reproduzimos a rivalidade feminina. As mensagens negativas que passamos de uma para a outra. Quando aceitamos a ideia de que mulher precisa se manter jovem. Alimentamos o etarismo. Nos submetemos a procedimentos est�ticos que padronizam nosso rosto e nosso corpo. Morremos em busca de atingir um padr�o inating�vel.
Entender a perfei��o de envelhecer n�o � inoc�ncia, � necessidade. A mudan�a que queremos para o mundo come�a em n�s. Deixe a rivalidade de lado. Sejamos aliadas. N�o alimente o que nos destr�i. Fa�a as pazes com o espelho. Deixe de lado o inating�vel. Nossa beleza n�o tem padr�o. Nossa sororidade nos fortalece. A rivalidade feminina precisa ficar no passado.
#oamor�oquenosune