
Esperar nossa m�sica favorita tocar na r�dio. Ficar sentada com a fita K7 virgem esperando a m�sica tocar para grav�-la. E quando finalmente a m�sica tocava, no meio da grava��o vinha a propaganda da r�dio, ou a m�sica era cortada pela voz do locutor antes de terminar. E a fita ficava assim, com a m�sica favorita, e a propaganda de brinde cortando a onda.
Esperar pelas fotos. Comprar um rolo de filme de 36 poses e levar para uma viagem, esperar 6 meses para mandar revelar, porque ainda tinha 4 negativos virgens que n�o podiam ser desperdi�ados. E, quando finalmente as fotos eram reveladas, o frio na barriga para v�-las. Seguido da frustra��o de perceber que, das 36, s� 22 ficaram boas.
Esperar pela carta do amigo que foi fazer interc�mbio em outro pa�s.
Esperar o jornal chegar para ler as not�cias.
Esperar horas para jogar Snake, aquele jogo da cobrinha que, na d�cada de 1980, quem tinha computador em casa era muito privilegiado. E quem olha o computador daquela �poca v� uma m�quina de escrever acoplada a uma TV com imagem em preto e branco e a um gravador com fita k7. Mouse? Ainda n�o tinha sido inventado.
Esperar encher o cofrinho para conseguir comprar um disco de vinil que seu artista favorito tinha acabado de lan�ar. A emo��o de sentar na frente do som para ouvi-lo e, muitas vezes, se frustrar porque s� gostou de duas m�sicas.
Esperar o s�bado chegar para assistir na TV �quele programa de videoclipe que durava uma hora e, muitas vezes, nem passava o clipe da sua banda favorita.
Esperar a amiga que tinha ido passar um ano nos EUA trazer os CDs daquelas bandas novas que n�o tinham chegado ao Brasil e grav�-los para voc�.
Esperar o fim de semana para o encontro na casa da amiga que tinha MTV, para assistir na casa dela com as amigas.
Esperar a segunda para assistir a um filme no “Tela quente”. Esperar a quarta-feira para ver o novo epis�dio da sua s�rie favorita.
Esperar o motor do carro a �lcool esquentar para ir para a escola naquela manh� fria.
Meu tempo � hoje, mas naquele outro tempo, que tamb�m j� foi meu, muita coisa era diferente. �s vezes a gente queria ter uma varinha de cond�o para acelerar as coisas, diminuindo a espera. A tecnologia � essa varinha m�gica, mas ela deixa a lacuna da espera, saber esperar faz falta. Esse atalho que a gente pega tira a emo��o.
Tudo est� a um clique de dist�ncia. Tudo ali na palma da m�o, num celular. As not�cias do dia, as fotos das viagens dos amigos, o joguinho que n�o precisa mais da espera para ser carregado, o portal de pesquisa. O aplicativo de m�sicas. Os v�deos. � como comer miojo porque n�o pode esperar pela massa fresca.
Adoro os recursos de hoje, mas a espera faz falta. Na falta de saber esperar, sucumbimos � urg�ncia. A vida nos cobra a falta desse aprendizado. Essa espera necess�ria que muita gente ignora. A espera pelo fim da pandemia do coronav�rus. O que urge agora � a vacina, todo o resto precisa saber esperar.