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Estado de Minas PADECENDO

A m�e e a mis�ria de um pa�s

Enquanto tem milion�rios fazendo fila para comprar jatinhos tem uma multid�o fazendo fila querendo casa e comida


01/05/2022 10:45 - atualizado 01/05/2022 10:52

Mulher negra
Racismo na sociedade brasileira (foto: Depositphotos)

 
Manh� de s�bado, sa� a p� com meu marido para um passeio. Entramos numa chocolateria para tomar um cappuccino. Enquanto o chocolate derretia na x�cara de caf�, uma mulher preta com uma crian�a de 3 anos no colo entrou na loja e pediu para comprarmos um ovo para o garoto.
 
Confesso que no primeiro momento eu pensei: “Mas que saco, a gente n�o pode sentar um minuto que j� tem gente pedindo?” Um segundo depois eu j� estava saindo do meu universo umbigo e caindo na real. “� uma m�e pedindo ajuda, Isabela!”. Depois de conhecer tantas hist�rias, justo eu, n�o iria ter empatia por aquela mulher?
 
Meu marido disse que iria comprar o chocolate para o garoto, que s� ia terminar a bebida. Enquanto isso algu�m chamou o seguran�a da loja. O mo�o pediu para ela sair, com educa��o. Ela respondeu que n�o ia sair. Me surpreendi com a coragem.
 
Alexandre se levantou e foi ver o que comprar para o menino. Enquanto isso continuei tomando meu cappuccino e puxando papo com ela que me contou que tem seis filhos, dois j� casados, um de quase 18 anos e tr�s menores. O pequeno que estava no colo dela tem 3 anos e se chama Davi.

Ela me contou que mora em um barraco, numa favela e que estava ali para conseguir algum dinheiro e comida para as crian�as. � o jeito que ela d� para sobreviver e sustentar as crian�as.
 
Notando o inc�modo dos outros clientes, terminei minha bebida, me levantei e continuei conversando com ela. O barraco j� pegou fogo e ela perdeu tudo que tinha, reconstruiu do jeito que deu. A sobrinha de 13 anos chegou, uma menina linda, que gosta de estudar, mas que tamb�m n�o tem muitas oportunidades.

Fui saindo da loja com ela, para continuar a conversa no sol, e longe dos olhares daqueles clientes racistas. Alexandre pagou, saiu da loja e entregou o pacote para o menino e fomos embora.
 
Enquanto ele estava no caixa um cliente apareceu l� reclamando que n�o deviam deixar "essas pessoas" entrarem, que se acostumam e v�o fazer isso sempre, aquele papo todo, nem preciso entrar em detalhes. Era uma m�e, vulner�vel, com um filho no colo. Mas era uma mulher preta e pobre e como isso incomoda o “cidad�o de bem”.
 
A infla��o, o desemprego, a fome, a desigualdade, isso deveria incomodar, mas quem incomoda s�o as pessoas mais atingidas, mas prejudicadas, mais vulner�veis. Aquelas pessoas que queriam que fossem invis�veis, mas est�o pelas ruas. Cada vez mais gente morando na rua. Cada vez mais fam�lias inteiras morando na rua. Precisando pedir.
 
A mo�a deve ser mais nova que eu, certamente nunca teve acesso a algum tipo de controle de natalidade. N�o tinha um dos dentes da frente. Reconstruiu o barraco que pegou fogo, perdeu tudo duas vezes. O pai da crian�a? Ah, o pai est� off...
 
Em outros tempos, acredito que ela teria sido for�ada a sair da loja, mas hoje tem lei, racismo � crime, isso inibe um pouco, mas n�o evita que cliente branco fique incomodado. E olha que a mo�a nem passou perto da mesa dele...
 
N�o estou contando nenhuma novidade, cenas como essa s�o corriqueiras, agora, com a fome aumentando, cada vez tem mais gente na rua pedindo. � mais c�modo pegar o seu inc�modo e reclamar na ger�ncia. � mais c�modo desviar o olhar para a realidade de milhares.
 
Enquanto tem milion�rios fazendo fila para comprar jatinhos tem uma multid�o fazendo fila querendo casa e comida. Essa cat�strofe que se passa em nosso pa�s tem que aparecer, tem que incomodar. Temos que nos incomodar para que possamos entender que n�o est� tudo bem, que precisa mudar!

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