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Estado de Minas PADECENDO

A psicologia das massas para entender o Brasil de hoje

"E quando n�o fazemos parte dessa massa, n�o conseguimos romper uma barreira e dialogar, mesmo com as pessoas mais pr�ximas e mais queridas"


16/10/2022 04:00 - atualizado 16/10/2022 09:56

Por Bebel Soares

 

Mãe com filhos
M�e com filhos (foto: Pixabay)
Criar filhos n�o � tarefa f�cil. S�o muitas as perguntas a que temos que responder, e, quanto mais velhos eles ficam, mais elaboradas s�o as quest�es. Como explicar para os nossos filhos o Brasil de hoje? Essa loucura eleitoral? A viol�ncia pol�tica, as fake news que eles recebem da fam�lia nos grupos de WhatsApp? Os colegas adolescentes levando briga pol�tica para dentro das escolas. Como explicar esse cen�rio para nossos filhos?

 

Observamos as pessoas se dividindo em grupos, deixando de acreditar na m�dia tradicional que at� ent�o era refer�ncia para elas. Pessoas acreditando em ideias absurdas, surrealistas. Pessoas pr�ximas, pessoas que n�s amamos, defendendo o indefens�vel, acreditando no inacredit�vel e deixando de nos ouvir, como se ali, naquelas cabe�as, s� existissem as palavras de um l�der ecoando, como se tivessem sido hipnotizadas.

 

As obras “Psicologia das massas e an�lise do eu”, de Freud, e “O mal-estar na p�s-modernidade”, do fil�sofo e soci�logo Zygmunt Bauman, falam sobre essa necessidade que a gente tem de se identificar, de pertencer. Freud diz que “a psicologia de massas trata o ser individual como membro de uma tribo, um povo, uma casta, uma classe, uma institui��o ou uma parte de uma aglomera��o que se organiza como massa em determinado momento, para um certo fim. (Instinto de rebanho, mente de grupo)”. � exatamente isso que percebemos hoje. 

 

E quando n�o fazemos parte dessa massa, n�o conseguimos romper uma barreira e dialogar, mesmo com as pessoas mais pr�ximas e mais queridas. � como se tivessem deixado de ser eles mesmos para se tornar uma alma coletiva. Essa alma os faz agir de forma bem diferente do que agiriam isoladamente, ficam irreconhec�veis.

 

Somos seres relacionais. Esse � um fator muito forte para conseguirmos entender o que est� acontecendo hoje. N�s precisamos, e isso fica muito evidente principalmente na adolesc�ncia, encontrar a nossa identidade. Precisamos construir a nossa identidade para al�m daquelas pessoas que s�o as nossas refer�ncias de base, pais, cuidadores. Precisamos nos descobrir.

 

N�s, humanos, procuramos um grupo com o qual nos identificamos, principalmente um grupo organizado e que tem um l�der. N�s somos muito sugestivos quando existe um l�der e, quando existe essa forma��o de grupo, principalmente com um l�der, a gente se permite agir como n�o agir�amos racionalmente. O que nos regula, o que nos faz ter consci�ncia do que a gente pode ou n�o pode fazer em sociedade, se dissolve naquele momento do grupo. � como se voc� n�o fosse totalmente respons�vel pelo que voc� est� fazendo. Voc� est� seguindo, ent�o se dissolve essa quest�o da responsabilidade.

 

A massa � an�nima, portanto, ela � irrespons�vel. O sentimento de responsabilidade desaparece dos indiv�duos, ele � um n�mero e sente um poder invenc�vel. Assim, ele se permite liberar todo o mal da sua alma, que estava reprimido. � como se ele estivesse hipnotizado, sem vontade, sem discernimento. Ele passa a ser orientado pela sugest�o, � contagiado pelos sentimentos e ideias do grupo. 

 

A capacidade intelectual do grupo � nivelada por baixo. Podemos observar pelas respostas que esses indiv�duos nos d�o quando os questionamos; s�o sempre as mesmas, a ladainha repetida por todos os indiv�duos da massa. Muitas vezes, repetem como papagaios, n�o sabem o que est�o dizendo. N�o conseguem aprofundar o discurso, n�o t�m argumentos, n�o t�m embasamento, terminam a conversa com: “Essa � a minha opini�o” ou “se informe”. Quando dizem “se informe”, querem dizer, busque as fontes n�o confi�veis, aquelas que dizem o que eu quero ouvir.

 

Com a capacidade intelectual diminu�da, somada ao sentimento de onipot�ncia e � impulsividade, a massa vai aos extremos. Uma leve antipatia se torna um �dio mortal. Quem quiser ter influ�ncia sobre uma massa n�o precisa ter argumentos l�gicos, basta exagerar, usar imagens fortes, e repetir e repetir a mesma coisa. 

 

A massa exige viol�ncia, gosta de ser dominada, oprimida. Tem horror ao progresso, � inova��o. � totalmente conservadora e tradicional. Gosta de ser iludida, n�o tem necessidade da verdade, prefere o irreal ao real e costuma n�o fazer distin��o entre as duas coisas.

 

“A massa � um rebanho d�cil, que n�o pode jamais viver sem um senhor. Ela tem tamanha sede de obedi�ncia que, instintivamente, se submete a qualquer um que se apresente como seu senhor.”

Quando uma pessoa faz parte de um rebanho, ela n�o pode contradiz�-lo para n�o se separar dele. Isso explica por que jamais conseguem   concordar com argumentos de quem n�o faz parte da massa. � dif�cil tentar ter um senso cr�tico porque o movimento natural � de buscar essa identifica��o. Esse � o nosso desafio, olhar para dentro de n�s mesmos.

 

(Texto baseado no livro “Psicologia das massas e an�lise do eu”, de Sigmund Freud, e outros textos anal�ticos (1920-1923) – “Obras incompletas de Freud – Volume 15”)

 

Colabora��o: Maria Ang�lica

Tom�s, psicanalista 

 

 

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