
Bebel Soares
Basta abrir o navegador da internet, um jornal, ligar a TV, navegar por uma m�dia social que vemos not�cias horr�veis sobre abusos sofridos por mu- lheres de todas as idades. Rec�m-nascida de 27 dias morre ap�s ser estuprada pelo pai. Menina de 12 anos que j� tem um filho fruto de estupro, e abusada pelo tio, en- gravida novamente, e tem direito ao aborto negado outra vez. Mu- lher � estuprada na mesa de cirurgia, no banheiro da boate, na gaveta do IML, na escola, no trabalho. Usando minissaia, biqu�ni ou fralda.
Selecionei hist�rias enviadas por mulheres que hoje s�o adultas, que s�o m�es, e contaram sobre situa��es que viveram quando crian�as:
Hist�ria 1
Eu tinha 3 para 4 anos. Mor�vamos num pr�dio muito grande em Belo Horizonte. Eu estava na casa de um coleguinha da mesma idade, que era nosso vizinho. A m�e dele foi dar banho nele e, como eu era menina, ela achou por bem fechar a porta do banheiro. Enquanto isso, o pai do coleguinha, que estava na sala, resolveu "brincar" comigo. Botou aquela coisa estranha e dura para fora e come�ou a me pedir para pegar e voc�s podem imaginar o que mais. Me lembro de ele ter me segurado e acho que chegou a me obrigar a pegar nele (mas aqui as coisas ficam meio nubla- das e n�o me lembro bem). Achei tudo estranho, e tentei bater na porta do banheiro, mas a puritana senhora se recusava a abrir. Para minha sorte, sempre fui muito sens�vel �s inten��es das pessoas, e rapidamente percebi que algo ali n�o estava bem. Corri para a porta de sa�da, e voltei para casa sozinha, para espanto da minha m�e. N�o me lembro do que foi que eu disse para ela, mas foi o suficiente pra que ela entendesse a situa��o.
N�o dormimos em casa aquela noite. Fomos para a casa de uma amiga dela e dias depois est�vamos morando em um bairro muito afastado. Hoje entendo o p�nico dela. Era uma mulher solteira, criando sozi- nha uma menina, tendo que trabalhar e estudar e sem fam�lia na cidade. Depois disso ela desconfiava de tudo e de todos, e logo me apresentou um livrinho (se n�o me engano era o "De onde viemos?"), dizendo que era cedo para minha idade, mas que era importante eu entender certas coisas.
Hist�ria 2
Eu fui abusada pelo pai da minha melhor amiga quando tinha 7 anos. Era um pai de fam�lia normal, nosso vizinho, conhecia meus pais, um homem que ningu�m acreditaria que faria isso! Eu sempre dormia na casa dela, at� acontecer o pior. O pai dela gostava de fazer umas brincadeiras estranhas como carregar a gente para saber o peso e aproveitava e passava a m�o em tudo. Eu era muito inocente na �poca; ele fazia com as filhas e comigo. At� que, em uma noite, enquanto eu dormia l� (estava na cama com minha amiga), ele veio e come�ou a me manipular. Eu tremia e fingia que dormia, tinha medo dele. A casa estava em sil�ncio, eu tremia tanto que meus dentes rangiam. No dia seguinte, no caf� da manh�, ele comentou que achava que eu tinha bruxismo, pois falou que tinha passado no corredor e ouviu um barulho estranho. Eu n�o conseguia olhar na cara dele. Anos depois, se mudaram da minha rua, foram morar tr�s quarteir�es mais distantes. O meu contato com a minha amiga continuou o mesmo, mas ele tem vergonha de mim. Eu o olho estranho, deixo-o perceber que recordo de tudo. Hoje ele tem 4 netas e rezo muito para que nunca fa�a nada com essas crian�as. Nunca tive co-ragem de contar isso para nin- gu�m. Medo! Sei que devia ter contado. Hoje, o que me preocupa muito � o fato de ter minha filha! Meu filho tamb�m. Isso n�o � t�o raro como a gente v� por a�. Tenho medo de a minha filha passar por isso. Tanto que quando descobri que estava gr�vida de uma menina, eu chorei muito como se ela fosse passar por isso tamb�m.
Hist�ria 3
Eu era pequena, 4 ou 5 anos. Morava em uma casa e minha av� morava na casa nos fundos da minha. Numa tarde qualquer, fui at� a casa dela e l� estava ele, o marido da minha tia, sentado no sof�. Sempre t�o amoroso, cha- mou-me para sentar no colo dele. Eu, t�o inocente, fui. Ele me acariciou por debaixo da minha roupa. N�o sei por que, mas mesmo na minha inoc�ncia infantil, senti que algo n�o estava certo e pedi para descer. Fui embora com uma sensa��o ruim, de que alguma coisa estava errada. Tentei comentar com minha m�e, que n�o me deu ouvidos.