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Estado de Minas padecendo

As crian�as dos abrigos

Foi com a Ana que eu entendi que existem v�rias formas de maternar, e que existe muito lugar nos bons cora��es"


10/09/2023 04:00
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Criança
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

 
Foi por meio da minha amiga Nath�lia, que fiquei conhecendo a Casa dos Pequenos, da Associa��o Irm�o Sol, em Belo Horizonte, um espa�o que abriga crian�as de zero a seis anos em situa��o de vulnerabilidade. Algumas dessas crian�as tinham problemas de sa�de porque suas m�es eram dependentes qu�micas. Outras haviam sofrido abuso sexual do pr�prio pai ou de algum familiar. 
 
Naquela �poca, o im�vel onde funcionava a institui��o precisava de uma reforma ou seria fechado pelo Minist�rio P�blico. Havia muitas infiltra��es, os banheiros precisavam de reforma, a despensa, os quartos, a lavanderia, o quintal. N�s, m�es da comunidade “Padecendo no Para�so”, fizemos uma vaquinha, e, al�m de dinheiro, arrecadamos ber�os, roupinhas, toalhas, roupas de cama e material de constru��o. Uma empresa de engenharia executou a obra de forma volunt�ria. Foi lindo ver o poder da uni�o daquelas m�es para cuidar de crian�as que nem conheciam. Depois da reforma, o ambiente ficou mais seguro para as crian�as.
 
Foi nessa a��o na Casa dos Pequenos que conheci uma m�ezona, a Ana Luisa. Ela n�o tem nenhum filho, nem biol�gico, nem adotivo, mas cuida de dezenas de crian�as com amor de m�e. Depois da Casa dos Pequenos, fui conhecer o trabalho volunt�rio que ela faz no Novo C�u, uma institui��o que abriga crian�as com paralisia cerebral grave. Em sua primeira visita, Ana se perguntou como daria conta de conviver com aquelas 80 pessoas. 
 
Imaginou que l� seria um lugar triste, cheio de dor e sofrimento. � muito impactante chegar nas alas e ver todas aquelas pessoas deitadas em macas ou em cadeiras de rodas. Nas vezes em que estive l�, senti o mesmo que a Ana. Mas o impacto n�o � pela tristeza. Pelo contr�rio, � pelos sorrisos, os beijos, as m�os estendidas pedindo carinho.
 
A institui��o � a casa delas: � l� que elas recebem visitas de familiares, atendimento m�dico, odontol�gico e psicol�gico. Muitas crian�as que vivem l� foram rejeitadas por seus pais quando souberam que eram deficientes - uma realidade no nosso pa�s. Oitenta por cento dos homens abandonam mulher e filho quando a crian�a tem uma defici�ncia grave. Algumas m�es acabam abandonando o filho tamb�m por causa das dificuldades para criar sozinha uma crian�a que demanda tantos cuidados. � dif�cil cuidar de uma pessoa que n�o ser� normal aos olhos da sociedade. Al�m disso, financeiramente, �s vezes fica invi�vel para uma m�e arcar sozinha com todas as despesas da casa e da fam�lia e ainda conseguir cuidar bem da crian�a. J� falei sobre a solid�o da m�e at�pica, da falta de apoio, por isso n�o podemos julgar.
 
Ana se tornou m�e volunt�ria dessas 80 crian�as com paralisia cerebral extrema. Ela conhece a hist�ria de cada uma delas. Me apresentou a todos e contou a hist�ria de um por um. Da mo�a que teve meningite, o que causou a paralisia e, apesar de adulta, tem o tamanho e a apar�ncia de uma crian�a de uns quatro anos. Do garotinho que nasceu com paralisia cerebral porque a m�e era usu�ria de crack. Do mo�o que tem paralisia e � cego. Daquele que ama ouvir m�sica e dan�a na cadeira de rodas. Ana sabe quantas vezes cada um esteve internado, sabe do que cada um deles gosta. Exemplo de amor e dedica��o, junto com outros volunt�rios, ela luta para conseguir doa��es e manter a institui��o funcionando.
 
Foi com a Ana que eu entendi que existem v�rias formas de maternar, e que existe muito lugar nos bons cora��es. Cada crian�a da Casa dos Pequenos (irmaosol.org.br), cada crian�a do Novo C�u (novoceu.org,br), merece receber muito amor, da Ana, dos outros volunt�rios e de todos n�s.
No Novo C�u os internos ficam l� at� o fim da vida; j� na Irm�o Sol, as crian�as v�o crescendo e mudando de casa, as da pr�pria associa��o, que recebem as crian�as de acordo com as faixas et�rias. Ali elas ficam esperando pelos seus pais, biol�gicos ou adotivos. Ali elas esperam encontrar um lar, uma fam�lia. E a cada mudan�a de casa a esperan�a delas vai diminuindo. Tem muita gente querendo adotar, mas a maioria quer os pequenininhos, os branquinhos, os que n�o t�m defici�ncia…
� medida que v�o crescendo, eles sabem que as chances de serem acolhidos por uma fam�lia v�o desaparecendo, at� que um dia completam 18 anos. Uma data t�o importante que pode ser um pesadelo. Enorme desafio sair da institui��o e ter que seguir sozinho, sem fam�lia, sem casa. Aos 18 anos eles t�m que sair. T�m que procurar um lugar para morar, um trabalho, uma vida.

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