Todos ganham com a troca entre gerações

Todos ganham com a troca entre gera��es

Gerd Altmann/Pixabay


Cada gera��o tem a sua especificidade devido a mudan�as socioculturais. E � um exerc�cio di�rio conviver e lidar com as diferen�as. A riqueza deste encontro de ideias e comportamentos distintos, como enfatiza a psic�loga Renata Borja, pesquisadora e especialista em terapia cognitivo-comportamental, � que diferentes gera��es t�m muito o que aprender umas com as outras e para isso � importante que exista uma abertura � comunica��o.

Renata Borja lembra que, antigamente, as gera��es mais velhas eram as respons�veis pela transmiss�o cultural, e ainda s�o em muitas culturas.

“Os mais velhos ocupavam um lugar de saber, at� mesmo pelas experi�ncias de vida e, quando h� a troca intergeracional, todos lucram. As gera��es mais jovens ganham a experi�ncia dos mais velhos e os mais velhos ganham conhecimentos tecnol�gicos e inovadores com os mais jovens.”

Para a psicóloga Renata Borja, o preconceito entre gerações será vencido com respeito, amor, diálogo e vontade de compreensão

Para a psic�loga Renata Borja, o preconceito entre gera��es ser� vencido com respeito, amor, di�logo e vontade de compreens�o

Rafaela Lima/Divulga��o
Segundo ela, essa troca � extremamente importante para conex�o, respeito, flexibilidade, harmonia e o bem da  sociedade. "O respeito m�tuo � essencial. Mas, para isso, � preciso que as gera��es reconhe�am a import�ncia do saber, das viv�ncias e experi�ncias das outras gera��es."
 
Para a psic�loga, � necess�rio aprender a validar todo conhecimento e experi�ncia. “Entretanto, desde a d�cada de 1980 h� uma supervaloriza��o da juventude e uma desvaloriza��o da experi�ncia, da viv�ncia. Essa supervaloriza��o da juventude faz com que as pessoas queiram sempre parecer jovens, antenados e atualizados como forma de se manterem �teis. Esse fen�meno pode acabar trazendo algumas consequ�ncias: p�nico de envelhecer, aumento de interven��es cir�rgicas, desvaloriza��o do idoso, soberba dos mais jovens, que se julgam melhores e mais capazes.”


FALAR E N�O OUVIR 


Em tempos de policiamento a tudo que se fala, age, diz, curte ou n�o curte, como n�o tornar a rela��o t�xica, agressiva e preconceituosa diante das diferen�as postas? Conforme Renata Boja, � preciso que cada gera��o veja vantagens com a troca intergeracional. O preconceito s� se vence com o respeito, amor, di�logo e vontade de compreens�o.

“Enquanto as pessoas quiserem lacrar e ter raz�o, n�o existir� abertura para a conex�o. Elas querem apenas falar, mas est�o fechadas para ouvir. Nenhuma rela��o se constr�i dessa forma. Existe uma tend�ncia de classificar o certo e o errado, e nessa classifica��o n�o existe conex�o e sim desconex�o. A quest�o se d� porque gostamos de estar certos como uma forma de nos refor�ar capazes.”

Com a onda do termo cringe, criado pela gera��o Z e usado para desqualificar, criticar ou zoar certos comportamentos, h�bitos e gostos da gera��o millennials, veio, novamente, a constata��o de que o desejo da harmonia entre gera��es � complicado e distante. Para a psic�loga, o termo cringe nem sempre � bem empregado.

Cringe vem do ingl�s e � uma express�o que demonstra uma experi�ncia de vergonha alheia. Em portugu�s, chama-se de cringe aquele que faz ou fez algo que se julga cafona ou brega. Sentir vergonha � natural, e � comum que algu�m possa sentir uma “vergonha alheia” por uma atitude que julgue vexamosa ou inapropriada.

� necess�rio aprender a validar todo conhecimento e experi�ncia. Entretanto, desde a d�cada de 1980 h� uma supervaloriza��o da juventude e uma desvaloriza��o da experi�ncia, da viv�ncia. Essa supervaloriza��o da juventude faz com que as pessoas queiram sempre parecer jovens, antenados e atualizados como forma de se manterem �teis. Esse fen�meno pode trazer consequ�ncias: p�nico de envelhecer, aumento de interven��es cir�rgicas, desvaloriza��o do idoso, soberba dos mais jovens, que se julgam melhores e mais capazes

Renata Borja, psic�loga



Sentir vergonha n�o implica ter, obrigatoriamente, comportamentos de desqualifica��o ou cr�tica expl�cita. Pode ser uma cr�tica interna. Mas em alguns momentos essa cr�tica � exposta nas redes sociais. Essa exposi��o daquele que foi considerado cringe pode ser feita de forma agressiva, ou de forma ir�nica, jocosa. “Na minha percep��o, os millennials t�m, em sua maioria, recebido essa classifica��o de forma bem-humorada.”

AUTOAFIRMA��O  


Renata Borja lembra que, em geral, o conflito intergeracional � saud�vel e natural. S�o atitudes que demonstram as diferen�as de pensamento e valores entre as diferentes gera��es. O ideal � que possa haver uma abertura para a troca. Ela v� o cringe como uma forma de cr�tica aos costumes e gostos de uma gera��o mais velha. Consequentemente, � uma esp�cie de preconceito intergeracional, mas um preconceito transfigurado em vergonha que pode ser sentido apenas ou externalizado.

“Quando h� apenas o sentimento de vergonha alheia, ele n�o implica grandes preju�zos, mas quando � externalizado, pode apresentar uma agressividade contra um grupo et�rio diverso, podendo ser percebido como uma esp�cie de bullying ou etarismo – um tipo de preconceito a determinados estere�tipos associados � idade. Os jovens t�m sempre uma tend�ncia a desvalorizar as gera��es mais velhas, como uma forma de autoafirma��o e valoriza��o.”

Os jovens que agora est�o “no comando”, chegando ao mercado de trabalho, consumindo, se relacionando com os pares e os diferentes, a gera��o Z, nascendo entre o final da d�cada de 1990 e 2010, t�m um diferencial: est� completamente imersa no mundo digital, � uma marca indel�vel. “� uma gera��o conhecida como nativos digitais, que acompanharam as transforma��es tecnol�gicas. Consome muito conte�do digital. � uma gera��o que tem um senso de imediatismo intenso, preocupa-se mais com o hoje, n�o planeja a longo prazo. Tem uma tend�ncia a um foco mais difuso e uma impaci�ncia com coisas morosas”, afirma.

Segundo ela, essa � uma gera��o mais superprotegida pelos pais, que desenvolveu menos recursos de resolu��o de problemas e conv�vio social. Sua forma de se comunicar e se relacionar � pelas redes sociais e por aplicativos – rela��es amorosas e amizades podem come�ar e terminar por ali. � uma gera��o mais aberta �s novidades e � diversidade, mas mais vulner�vel psiquicamente, al�m de mais dependente.
 
Renata Borja diz que um ponto de aten��o � que toda a hiperconectividade da gera��o Z, imediatismo e busca pelo prazer podem deix�-la mais vulner�vel a sofrer transtornos de ansiedade e depress�o. Ela tem uma grande dificuldade de lidar com a frustra��o e n�o apresenta grande resili�ncia como as gera��es anteriores no �mbito pessoal e profissional, o que causa e refor�a uma tend�ncia a se esquivar das adversidades, resultando num aumento da frustra��o.

“O sofrimento faz parte da vida e � inerente � condi��o humana, n�o h� como evitar. Aprender a superar e resolver problemas e enfrentar desafios � fundamental para a sa�de emocional. Essa gera��o precisa aprender a lidar com as emo��es dif�ceis e o desconforto para que possa alcan�ar a sa�de mental e bem-estar.”
 

ALGUMAS CARACTER�STICAS DE CADA GERA��O

A convivência harmônica entre todas as gerações é sinal de desenvolvimento

A conviv�ncia harm�nica entre todas as gera��es � sinal de desenvolvimento

Free-Photos/Pixabay

Gera��o Z

  • Avessos a r�tulos, identidade fluida.
  • Ativistas.
  • Adeptos da acessibilidade, simplicidade e flexibilidade.
  • Desejam construir um mundo melhor.
  • Pr�ticos e din�micos.
  • Dominam as novas tecnologias (nativos digitais).
  • Estudo como prioridade.
  • Seu conceito de mundo desconhece fronteiras f�sicas e geogr�ficas.
  • Rapidez e agilidade nas intera��es e no tr�nsito de informa��es, tendo habilidade de fazer v�rias atividades simultaneamente.
  • Senso de urg�ncia em rela��o �s pr�prias expectativas.
  • Pragmatismo em rela��o �s necessidades profissionais e pessoais.
  • Autonomia como valor inegoci�vel.
  • Tolerantes e otimistas.
  • Na moda, expressam individualidade e se apropriam de estilos sem g�nero e da streetwear. Gostam de jeans amplos, moletons oversized e t�nis.
Gera��o Y (millennials)
 
  • Nasceu num mundo bastante tecnol�gico e com uma qualidade de vida maior em virtude dos tempos pr�speros.
  • Autoconfian�a e a busca pelo sucesso financeiro e independ�ncia pessoal.
  • Gostam de trabalhar em equipe, mas n�o se adaptam bem � hierarquia r�gida. 
  • Gostam de trabalhar em grupo, mas s�o individualistas. 
  • S�o Imediatistas, t�m pressa em consolidar a carreira e s�o exigentes tanto em rela��o ao trabalho quanto � qualidade de vida.
  • A percep��o � global, abstrata e conectada.
  • Consegue ser multitarefa.
  • N�o costumam dar muita aten��o para a constru��o de uma hierarquia tradicional.
  • T�m flexibilidade. 
  • S�o questionadores.
  • O bem-estar est� acima de qualquer coisa.
  • Costumam ser ansiosos e querem tudo para ontem.
  • O “ser” � mais importante que o “ter” e alguns objetivos que podem ser encarados como caretas: constituir fam�lia, ter casa pr�pria e poupan�a.
Gera��o X

  • Educa��o influenciada pela televis�o.
  • O casamento deixou de ser visto como algo eterno, tornando-se cada vez comum a separa��o dos pais.
  • Desenvolveu mudando sua rotina pelo contato com grandes inova��es tecnol�gicas.
  • � caracterizada pelo consumismo.
  • A rela��o com o trabalho � de comprometimento aos valores da empresa ao ponto de priorizar a seguran�a do emprego � qualidade de vida. 
  • Forte marca do materialismo e da competitividade.
  • T�m conhecimento aprofundado.
  • Busca pela individualidade sem perder a conviv�ncia em grupo.
  • S�o mais maduros e escolhem qualidade.
  • Buscam mais por seus direitos.
  • Com nasceram no auge da Guerra Fria e no meio da ditadura militar no Brasil, t�m forte apre�o pela liberdade e direitos individuais. Querem independ�ncia.
  • Intensos, s�o acostumados com a comunica��o pessoal, mas n�o t�m outra alternativa a n�o ser se adaptar aos tempos de WhatsApp e reuni�es virtuais, mesmo fora do script.
Gera��o baby boomers

  • Marcada pela rebeli�o e contesta��o dos costumes, da pol�tica e da mentalidade da gera��o que a precedeu. 
  • Formada por idealistas e revolucion�rios, essa � a gera��o dos movimentos de contracultura, que se popularizaram nas d�cadas de 1960 e 1970.
  • Tolerantes a novos comportamentos.
  • Busca pela realiza��o pessoal.
  • Foco intenso no trabalho em busca de prosperidade.
  • Valoriza��o da fam�lia.
  • Valoriza��o da estabilidade financeira.
  • Avers�o � grandes mudan�as.
  • Valorizam  a experi�ncia.
  • Estilo de vida mais conservador.
  • Na hora de consumir buscam confian�a e experi�ncia pessoal. Marcas renomadas no mercado e com hist�rico de compra saem na frente de novidades e tend�ncias de momento.