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Estado de Minas Coluna

A banalidade do bem e a pandemia da alteridade

Uma reflex�o sobre os pequenos gestos que fazem diferen�a na vida de pessoas ou de uma comunidade


(foto: Flickr)
(foto: Flickr)

Essa foi uma express�o que conheci ao assistir uma live com a Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, autoras de uma obra hist�rica e extremamente atual sobre a gripe espanhola no Brasil, intitulada de “A Bailarina da Morte”. Praticamente um roteiro cinematogr�fico pronto e um retrato dos dias de hoje...

A banalidade do bem pode ser definida como os pequenos gestos que fazem diferen�a na vida de pessoas ou de uma comunidade. Geralmente, � fruto de um ato espont�neo que, a princ�pio, visa resolver o problema de algu�m, no lugar do qual nos colocamos. Trata-se, portanto, de um ato altero, definido como atitude consciente de quem se coloca no lugar do outro e respeita diferen�as

Para melhor entendimento dessa express�o, alguns exemplos extra�dos de mensagens que recebi s�o extremamente �teis.

Certa vez, um aluno perguntou � antrop�loga Margaret Mead o que ela considerava ser o primeiro sinal de civiliza��o em uma cultura. O aluno esperava que a antrop�loga falasse a respeito de anz�is, panelas de barro ou pedras de amolar.

Mas, ao contrario, Mead disse que o primeiro sinal de civiliza��o numa cultura antiga era a evid�ncia de algu�m com um f�mur quebrado e cicatrizado. Simples! No reino animal quebrar a perna � uma senten�a de morte.

Perder a capacidade de correr do perigo, ir at� o rio para beber �gua ou ca�ar � incompat�vel com a sobreviv�ncia num ambiente hostil. Nenhum animal sobrevive a uma perna quebrada por tempo suficiente para que o osso consolide. Os predadores n�o permitem este tipo de conforto.

Um f�mur quebrado que cicatrizou � evid�ncia de que algu�m empregou tempo para ficar com aquele que caiu, tratou da ferida, manteve a pessoa em seguran�a e cuidou dela at� que se recuperasse.

“Ajudar algu�m durante a dificuldade � onde a civiliza��o come�a” disse Mead. Civiliza��o � ajuda comunit�ria. Neste sentido, o Estado, comunidade organizada, tem a fun��o de proteger os seus cidad�os e evitar a barb�rie e a tirania.

Fico imaginando a nossa sociedade atual sendo estudada daqui a centenas e milhares de anos. Seria essa sociedade de fato civilizada?! As diferen�as s�o t�o grandes entre os indiv�duos, que os tra�os de civilidade ficar�o dif�ceis de serem percebidos.
 
Imunopaleont�logos, profiss�o promissora neste long�nquo futuro, perder�o noites de sono para decifrar o enigma imunol�gico dos brasileiros.

Anticorpos contra a praga da �poca  “made in China” em S�o Paulo e “made in Oxford” em outros lugares. Jamais entender�o o debate est�ril que permeou tal mist�rio. Melhor que n�o descubram. Nos poupar� de uma vergonha paleontol�gica. 

Os lobos ser�o considerados mais civilizados. Uma alcateia em processo migrat�rio � a prova cabal de que lobos se respeitam mais que humanos.

Os primeiros s�o os mais velhos ou doentes e marcam o ritmo do grupo. Eles s�o seguidos pelos 5 mais fortes que os defender�o no caso de um ataque surpresa. No centro, seguem os demais membros da alcateia.

No final do grupo posicionam-se os outros 5 mais fortes que proteger�o o grupo. Por �ltimo, sozinho, fica o lobo alpha, o l�der. Em resumo, a alcateia segue ao ritmo dos anci�es e sob o comando do l�der que imp�e o espirito de grupo, n�o deixando ningu�m para tr�s.

Lobos tem muito a nos ensinar...


Mas nem todos os seres humanos desprezam os seus anci�es e os tratam com desprezo. Outro exemplo impactante de banalidade do bem e alteridade � a hist�ria do jogador Falc�o com o poeta Mario Quintana.

O Hotel Majestic teria despejado Mario Quintana por falta de pagamento.

A mis�ria havia chegado absoluta ao universo do poeta. S� e abandonado, Mario n�o tinha a quem recorrer. Foi colocado na sarjeta com suas malas. Paulo Roberto Falc�o soubera do acontecido. Chega em frente ao hotel e observa aquela cena absurda e triste. Estaciona e caminha at� o poeta com as malas na cal�ada.
- Sr. Quintana, o que est� acontecendo?

Mario ergue os olhos e enxuga uma l�grima. 
- Ningu�m vive de comer poesia.

Mario lhe explica que o dinheiro havia acabado. Estava desempregado, sem fam�lia e sem amigos. Restavam apenas ele e as malas nas ruas de Porto Alegre.

Falc�o colocou as malas dentro do carro e convidou o poeta a entrar.
Falc�o dirige at� o Hotel Royal, desce as malas, chama o gerente e lhe diz:
- O Sr. Mario agora � meu h�spede!
- Por quanto tempo, Sr. Falc�o?
- Por toda a eternidade.  

O poeta faleceu em 1994.

Falc�o na �poca jogava no Roma e havia comprado um hotel 3 estrelas no Centro de Porto Alegre, o Royal. Al�m de hospedar gratuitamente o poeta, Falc�o n�o permitia que lhe fossem cobradas as refei��es.

Ap�s a morte de Mario Quintana, Falc�o conseguiu que o governo ga�cho comprasse o antigo Hotel Majestic. Juntamente com empres�rios amigos, bancou a reforma e o transformou na Casa de Cultura M�rio Quintana. Recebi essa bel�ssima mensagem, em uma rede social, sem refer�ncia de autoria.

Pesquisei com amigos do Sul a sua veracidade. Na realidade, o texto que milhares de pessoas receberam � uma vers�o romantizada, que pretendia homenagear Mario Quintana e o gesto do Falc�o, que de fato, acolhera o poeta no Hotel Royal.  Mas, longe de ser da forma degradante como descrito.

M�rio Quintana jamais foi despejado dos hot�is onde se hospedou, ou foi abandonado pelos parentes e amigos.

Com a mesma eleg�ncia com que tratava a bola e se trajava como t�cnico, quero crer que seja verdadeira. Atitudes elegantes se refletem em v�rias caracter�sticas que nos saltam aos olhos. 

Estes exemplos s�o importantes para revermos o comportamento de alguns l�deres mundiais em rela��o ao seu povo. Aqueles que se comportaram de forma coerente com preceitos cient�ficos durante esta epidemia, se solidarizaram, acolheram e protegeram o seu povo, podem ser considerados seres humanos civilizados, f�meas ou machos “Alpha”. 

Os que banalizaram a peste e se consideraram superiores � natureza humana foram os que tiveram piores resultados e imputaram sofrimento e morte �s suas popula��es. Certamente ser�o classificados como pertencentes a uma outra esp�cie em fase pr�-civilizat�ria. 

Est�o longe da eleg�ncia de um Falc�o. Apesar de andarem sobre dois p�s, s�o incapazes de ter o compromisso de um lobo “alpha”. S�o acidentes eleitorais, ditadores, aberra��es a disseminarem a disc�rdia e o �dio. Frutos da falta de op��o de um povo perdido em sua pr�pria hist�ria. 

Encontram-se a l�guas da banalidade do bem e dos princ�pios de alteridade.

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