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Estado de Minas COLUNA

Um presente de Natal

"N�o cabe julgarmos ningu�m, mas expor absurdos, sim. Temos visto in�meros pacientes que se infectaram pelo desleixo de pessoas com as quais vivem"


(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)

Sa� aos 11 anos de casa para vir estudar em Belo Horizonte. Apesar de ter nascido aqui, at� ent�o, vivia em Ibi�. Meu mundo ficava entre as Serras do Para�so e da Sobra. Deixei o aconchego da minha casa na Rua 20, n�mero 67, o quintal onde cresci, a garagem onde aprendi a jogar bola. Meus pais com l�grimas nos olhos e n� na garganta. Meu av� n�o quis ver esta despedida e se exilou na fazenda.

Meu cora��o estava apertado, mas a confian�a em meu irm�o era total. Ele assumia ali o papel de segundo pai. E foi! Vim para BH morar com ele, meus sobrinhos e sua esposa, Neurene. Foi com ela que comecei a virar gente. Perdi a mordomia, mas ganhei identidade ao aprender esquentar minha pr�pria comida, fritar um ovo, lavar minhas terr�veis meias de ki-chute, olhar o horizonte e saber o significado da palavra saudade.

Hoje, 3 de dezembro, quando escrevo esta cr�nica, � anivers�rio dela. Eu a vejo de vez em quando, mas a abra�o sempre com carinho em minhas mem�rias. Aos poucos fui entendendo e sendo fagocitado pela cidade e suas montanhas. Meus genes foram entrando em sincronia com as ruas, os ip�s, os aromas, a fuma�a dos �nibus e os encantos de descer Floresta e subir Bahia.

Mas a maior emo��o era voltar para Ibi�. Particularmente no Natal. Meu pai adorava esta data. Gostava de rechear o p� da �rvore com as surpresas. M�sica, comilan�a, olhos vermelhos e marejados de emo��o. Assim, o Natal entrou em meu cora��o como um eterno retorno ao mundo on�rico da inf�ncia. Dezembro tem cheiro e aconchego de fam�lia. Aos poucos o mundo foi virando a minha casa. Mas a Rua 20 sempre me acompanhou nesta trajet�ria.

Final de ano pand�mico agu�a as lembran�as, e valoriza ainda mais o fato de estarmos vivos e termos entes queridos para abra�ar. Eu j� perdi muitos deles. Mas n�o passo um dia sem abra��-los.

Imagino neste momento os filhos dos mais de 1, 5 milh�es de mortos no mundo durante a pandemia. Mais de 175 mil fam�lias no Brasil choram seus mortos. Quantos pais, m�es, av�s, filhos e irm�os far�o falta neste Natal. Algumas fam�lias n�o choram mais. Viraram lembran�as de ningu�m. Um t�mulo marcado com um copo descart�vel...

O que tem me assustado nos �ltimos dias � o ego�smo de alguns. Aprendemos que matar � pecado mortal e crime. Nesta cat�strofe, quem s�o os protagonistas da morte? Claro, o v�rus! Ser natural em evolu��o trans-esp�cie. Gerador de caos e rearranjo das nossas vidas. N�s mesmos, ao admitirmos desigualdades abissais entre humanos. Que humanos somos n�s?!

O protagonismo da morte � fundamentalmente nosso! Matar os pais sempre foi um dos crimes mais terriveis que conhecemos. S� matam a pr�pria m�e doentes mentais em �ltimo est�gio de deteriora��o da consci�ncia. Mas, nessa epidemia, tem gente fazendo isso aos montes. Ligaram o foda-se para m�es, pais, tios e qualquer um com mais de 60 anos e macacoas outras. Os gordinhos ent�o...

Em nome de que podemos ser descartados ou descartar algu�m?! N�o fizemos nosso dever de casa?! Pode ser... Mas n�o protagonizamos Herodes. Pelo contr�rio, reduzimos a mortalidade infantil em percentuais significativos nos �ltimos 40 anos.

Mas o ego�smo e a falta de educa��o de alguns filhos, neste momento, � mortal. Falhamos ao educar aqueles que criamos?! Provavelmente e infelizmente, sim. Sabe aquela hist�ria de servir primeiro os filhos e depois os mais velhos?! Pois �, foi a� que come�ou o nosso suic�dio amoroso.

Ao priorizar o bem estar dos filhos e n�o ensinar o respeito aos mais velhos e diferentes, condenamo-nos ao abandono e ao desprezo. Tornamonos escravos do nosso pr�prio amor. Seres que nasceram para isso mesmo. Procriar e morrer num asilo abandonado, cheio de escaras e s�pticos...bact�rias servem mesmo para fazer o clearance dos mais vulnerais. Simples sele��o natural, dizem os filhos de uma chocadeira.

O v�rus nos leva a refletir sobre a maneira como valorizamos as nossas vidas e a vida de nossos semelhantes. Damos muito amor, mas ensinamos pouco sobre princ�pios �ticos e respeito ao pr�ximo. Criamos com muita frequ�ncia meninos birrentos que n�o aprenderam a lavar as pr�prias meias. Seres mimados que n�o sabem bem os limites entre o privado e o p�blico.

- Papai, posso bater no chin�s?!!

- Claro filhinho, chin�s � muito vermelho...Vai ficar amarelinho de medo...

- Papai, quero morar nos Estados Unidos, pertinho daquele titio que mora na casa branquinha.

- Claro filhinho, papai ajeita...Mas o titio vai mudar de l�, foi despejado pelo povo ingrato...

Assim, a deteriora��o �tica e moral compromete um pa�s inteiro e o futuro de milhares de pessoas. Meninos birrentos que nunca sa�ram, ou voltaram a morar no aconchego do �tero materno, querem ir para festinhas clandestinas em plena epidemia. Mas voltam para casa, levando de presente para os papais e mam�es um coroninha na gargantinha. Crime culposo ou doloso??!!

N�o cabe julgarmos ningu�m, mas expor absurdos, sim. Temos visto in�meros pacientes que se infectaram pelo desleixo de pessoas com as quais vivem. Os jovens est�o cansados da quarentena, mas o v�rus n�o. Ele, na realidade, � um marcador da irresponsabilidade e inconsequ�ncia de alguns.

Pois bem, vai aqui uma dica para este Natal. Para aqueles que desejam usufruir, mais uma vez, do peru do papai e dos quitutes da mam�e, permane�am em casa isolados pelo menos 10 dias antes.

Para o encontro ser um pouco mais seguro, fica a op��o de fazer um teste 24 horas antes, para se certificarem de que naquele momento n�o albergam o presente indesej�vel. Por seguran�a, mantenham distanciamento de 1,5 metros e usem m�scaras para garantir. Ah! N�o se esque�am de lavar as m�os, antes e depois de pegar no peru...o Maleagris gallopavo, claro!

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