(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas COLUNA

O quase-sil�ncio de cada casa, de cada um

"Lembro-me com saudade de todas as casas pelas quais passei. N�o me esque�o do sil�ncio e do n�o sil�ncio de cada uma delas"


(foto: Bertvthul/Pixabay)
(foto: Bertvthul/Pixabay)

Existem coisas que me fascinam. Coisas simples.

�s vezes acordo de madrugada e caminho pela casa no escuro. � como caminhar dentro da pr�pria alma.

A prop�sito, n�o h� alma que n�o tenha uma cadeira para ser trope�ada. N�o h� alma que n�o xingue ao pisar em brinquedos largados pela casa. N�o h� alma que n�o perdoe e n�o esque�a o que � para ser esquecido.

As madrugadas nos brindam com o sil�ncio. Ou um quase-sil�ncio. Quando ficamos quietos e prestamos bastante aten��o, o rel�gio com seu tique-taque nos lembra que o apetite de Cronos � insaci�vel, assim como o da companhia el�trica que mant�m o ru�do monof�nico de uma geladeira.

Um carro ao longe, o vento pela fresta da janela, um latido, uma tosse. COVID?! N�o, pigarro.

Mesmo querendo abra�ar o sil�ncio, o quase n�o nos permite.

Tudo na vida � quase. Quase feliz, quase bom, quase-sil�ncio, quase, quase...

Mas n�o importa. Quase, j� � uma prova que voc� tentou.

� no quase sil�ncio que o universo sopra a poesia. Os sons n�o se propagam no espa�o, mas vibra��es sim.

Toda casa tem seu sil�ncio pr�prio e seus ru�dos t�picos. DNA familiar expresso no jeito de ser dos que ocupam aquele espa�o.

Os ru�dos familiares s�o como a cor dos olhos, a impress�o digital e as linhas das m�os que estabelecem o destino daquele mundo. S� n�s sabemos o quase sil�ncio que nos abriga e aconchega.

Os passos noturnos da minha m�e, a t�bua solta no piso, a �gua caindo no copo, a descarga e a torneira do banheiro, a mola enferrujada da porta, o ajeitar da coberta. Um pum...

O pigarro do meu av�, a lenha no fog�o, a tampa do bule, o caf� na caneca, o aroma.

Cal�ou as botas, pegou o balde, caminhou at� o curral, peou a vaca. O leite bateu no fundo do balde, encheu. Raspou as botas no fac�o da porta.

Casas e �teros t�m muito em comum.

Lembro-me com saudade de todas as casas pelas quais passei. N�o me esque�o do sil�ncio e do n�o sil�ncio de cada uma delas.

Mundos visitados, mundos vividos, sil�ncios a percorrer, novos ru�dos a serem decifrados e degustados.

*Este texto � dedicado � Glorinha, enfermeira com a qual trabalhei quase uma vida e que nos deixou nesta madrugada silenciosa

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)