'Acordo', 'agreement', 'agr�ment': o pol�mico vocabul�rio poliglota do Itamaraty

 

A indica��o de Eduardo Bolsonaro para a embaixada do Brasil nos States causou pol�micas � direita, � esquerda e ao centro. Uma das quest�es foi a palavra acordo. Na l�ngua diplom�tica, ela ganha nacionalidades estrangeiras. Ora inglesa – agreement. Ora francesa – agr�ment. Qual escolher? Ambas est�o corretas. Mas h� prefer�ncia pela l�ngua da rainha.

Os rep�rteres estavam em polvorosa. De um lado, ficava o time singular. De outro, o plural. A quest�o: a concord�ncia. EUA d�o sinal verde para Eduardo Bolsonaro ser embaixador? Ou d� sinal verde? Ops! Nomes pr�prios no plural constituem verdadeira armadilha. Mas t�m regras claras:

1. Acompanhados de artigo, concordam com ele. Sem o pequenino, ficam no singular: Os Estados Unidos d�o sinal verde para Eduardo. O Palmeiras vencer� o campeonato? Minas Gerais fica no Sudeste.

2. As siglas v�o atr�s. �s vezes, o artigo brinca de esconde-esconde. N�o aparece. Mas conta como se estivesse escrito com todas as letras: (Os) EUA d�o sinal verde para Eduardo Bolsonaro. MG fica no Sudeste.

“Se a esquerdalha vencer na Argentina, o Rio Grande do Sul ser� uma nova Roraima”, disse Jair Bolsonaro ao saber da derrota de Mauricio Macri nas pr�vias argentinas. Os ouvintes estranharam. Entreolharam-se. Um criou coragem e perguntou o significado do palavr�o novato na l�ngua. Foi f�cil achar a resposta. O presidente juntou parte de duas palavras. Uma: esquerda. A outra: metralha. Referia-se aos Irm�os Metralhas. Eles formam a quadrilha de ladr�es atrapalhados das hist�rias de Disney. Em bom portugu�s: Sua Excel�ncia chamou os vencedores de esquerda de ladr�es. Inspirou-se em Reinaldo Azevedo. O jornalista pol�tico escreveu um livro. Deu-lhe o nome de Petralhas — mistura nada fina de PT com os Metralhas.

Argentina vem do latim argentinus. Significa de prata, que parece prata, brilhante como prata. Quem nasce na terra de Borges e Cort�zar � argentino. Mas quem vem ao mundo na capital, Buenos Aires, � portenho. Por qu�? Ali est� o porto mais importante do pa�s – o porto de Buenos Aires.

� uma festa. A Marcha das Margaridas leva 100 mil mulheres a Bras�lia. Elas t�m duas reivindica��es. Uma: a agroecologia. A outra: o enfrentamento da viol�ncia contra a mulher no campo. Todos os anos, elas ocupam a Esplanada dos Minist�rios e hasteiam as bandeiras. T�m especial cuidado com a l�ngua. Antes de escrever, consultam gram�ticas e dicion�rios. Descobriram, na busca, que agroecologia se grafa assim, tudo junto. Por qu�? Agro- pede h�fen quando seguido de h ou o. No mais, as partes se colam como unha e carne: agro-hist�ria, agro-oper�rio, agroind�stria, agropecu�ria, agroneg�cio. Etc. e tal.

Piauiense � a palavra que re�ne o maior n�mero de vogais em sequ�ncia na l�ngua portuguesa.

Diana ganhou o cobi�ado pr�mio de literatura. Oba! Os amigos, felizes, organizaram feliz comitiva pra comemorar. Iriam a Santos. Cada um arcaria com a pr�pria despesa. A felizarda vibrou com a novidade. Estava no carro. Ao lado, o namorado, de carona. Ela lhe falou da festan�a. Entusiasmado, ele disse alto e bom som: “Eu adero”. Diana freou. Mandou-o descer. Ele, perplexo, bateu asas e voou. Depois, aprendeu a li��o. Aderir se conjuga como preferir: eu prefiro (adiro), ele prefere (adere), n�s preferimos (aderimos), eles preferem (aderem).

Moral da hist�ria: O amor � cego, mas n�o � surdo.

Li no jornal de domingo: “A av� valorizava o trabalho e o resultado do mesmo”. O emprego do mesmo est� correto?

Jo�o Maria Madeira Basto, Bras�lia

N�o. � proibido usar o diss�labo no lugar de substantivo ou pronome: Fui ao m�dico. O mesmo me receitou antibi�tico. X�! Fui ao m�dico. Ele me receitou antibi�tico. A av� valorizava o trabalho e o resultado obtido.