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Estado de Minas M�SICA

Em 'Baile', FBC e Vhoor convidam o mundo a dan�ar funk com seu 'Beag� bass'

Rapper e beatmaker mineiros batem 50 milh�es de views no Tik Tok com 'Se t� solteira', brilham no ranking mundial no Spotify e apostam no novo som de BH


22/11/2021 04:00 - atualizado 23/11/2021 01:25

O beatmaker Vhoor, de blusa preta, e o rapper FBC, de boné vermelho, olham para a câmera
Vhoor e FCB resgatam o miami bass noventista em disco conectado �s novidades da eletr�nica e a ritmos ancestrais do Brasil (foto: Wanderley Vieira/divulga��o)

Mar�lia Mendon�a amou o som dele – e registrou isso no Twitter, em 2019, quando ouviu a rom�ntica “Se eu n�o te cantar”, faixa do disco “Padrim”. Ma�sa Silva fez meme inspirado em “Se t� solteira”, enquanto se preparava para apresentar o Teleton 2021 no SBT/Alterosa. No YouTube, f�s criaram um v�deo de Mano Brown, dentro do carro e de olhos fechados, curtindo a rom�ntica “N�o d� para explicar”.


O rapper mineiro Fabr�cio Soares Teixeira, o FBC, volta a fazer barulho – e muito – com seu novo disco, “Baile”, parceria com o jovem beatmaker Vhoor (leia-se Vitor Hugo de Oliveira Rodrigues). Dez faixas oferecem uma festa dan�ante de 27 minutos a este estressado planeta pand�mico.


Criado no Bairro S�o Benedito, em Santa Luzia, morador de ocupa��o por anos e cidad�o apaixonado por sua favela, a Cabana do Pai Tom�s, FBC comanda o rol� ao lado de Vhoor, garoto de Venda Nova que faz um som inacredit�vel em seu notebook. Baile globalizado o destes dois, diga-se de passagem. Lan�ado em 15 de outubro, “Se t� solteira” j� passou de 50 milh�es de views no Tik Tok. Neste fim de semana, o single ocupava o 15º lugar no ranking dos virais mundiais do Spotify, o 14º nos virais de Portugal e o 8º ranking nacional.

No aplicativo Tik Tok, tem garotada ensaiando coreografias de passinho ao som de FBC e Vhoor, adolescente fazendo tutorial de maquiagem enquanto ouve o batid�o mineiro, mo�o de camisa do Flamengo dizendo que n�o d� para ficar triste ouvindo “Se t� solteira”. A menina de cabelo vermelho postou: “Cad� a depress�o? Sumiu, nunca tive”. E um rapaz, empolgad�ssimo, dan�a enquanto lava lou�a. Derruba tudo na pia.

FBC, de 32 anos, e Vhoor, de 23, foram buscar no miami bass das d�cadas de 1980 e 1990 a batida que tem empolgado tanta gente. Foi justamente desse subg�nero do rap americano que nasceu o funk carioca – a m�sica da favela execrada por muita gente no Brasil, mas queridinha no exterior, onde est� lado a lado com reggaeton e cumbia.

O “resgate” do miami bass noventista nem � t�o resgate assim. Afinal, Belo Horizonte ama esse ritmo, garante FBC, dizendo que ele se manteve firme na cidade at� por volta de 2010, ao contr�rio de outras regi�es do pa�s. Trilha sonora da Regi�o Norte, animou muito baile nas quadras do Vilarinho, em Venda Nova – ali�s, colocadas � venda este ano.

“Baile”, como o nome diz, � um tributo aos bailes funk das favelas de BH e � cultura gerada na periferia da capital. Letras falam da Cabana do Pai Tom�s, Gameleira, Nova Cintra, Venda Nova, Frei Gaspar, Aglomerado da Serra, Morro das Pedras. O ritmo dan�ante embala refr�es que grudam nos ouvidos. Voc� j� ouviu “se t� solteira/ vamos ficar de casal”? Pode apostar: � s� quest�o de tempo...

No baile de FBC e Vhoor, a alegria � auto de resist�ncia, enquanto letras falam de viol�ncia e corrup��o policial, de garotos no crime, do apartheid social que condena jovens � marginalidade. “Todo dia, essa � a rotina do morro/ O poste mija no cachorro”, canta Fabr�cio.

O funk-rap da dupla, ao contr�rio de boa parte do que se ouve no g�nero, n�o � mis�gino nem machista. De cara, a primeira faixa do disco avisa: “Geral consciente/ Em mulher n�o p�e a m�o/ Mulecada t� ligada/ Sim � sim, n�o � n�o”

"Falo muito pro Vhoor: a gente vai misturando at� formar outra coisa, outra cor, outra textura"

FBC, cantor e compositor



�PERA-DRAMA

Cronista perspicaz da periferia, Fabr�cio classifica seu novo trabalho como “�pera-drama”. As can��es s�o protagonizadas pelo trabalhador Pagode, pai de fam�lia, morador da favela e dan�arino do Baile da Uni�o da F� e da For�a, a UFF�; seu amigo, o trai�oeiro Paulinho Falador; e J�ssica, amor plat�nico de Pagode. Festa e trag�dia marcam a vida dos tr�s.

O novo �lbum � continua��o de “Outro rol�”, de FBC e Vhoor, lan�ado em fevereiro. O EP tamb�m � cr�nica da periferia, mas com outra sonoridade. Traz o clima meio sombrio do drill, outro subg�nero do rap, enquanto “Baile” � solar.

Detalhes prosaicos do cotidiano, como os pisantes da mo�ada, inspiram FBC. “Meu bairro/ t�o violento e simpl�rio/ Meu t�nis aqui vale um vel�rio”, canta ele em “Superstar”, faixa de “S.C.A” (2018), seu primeiro disco solo. Em “Baile”, chinelo virou can��o: “Os cria da Vip vai de Kenner/ Nove em dez no baile t�o de camisa do Messi/ Cyclone, bigodim finim/corrente Juliette/da mesma cor pra combinar com o Kenner”.

“Nunca tive t�nis”, conta FBC, revelando que chinelo foi o seu cal�ado at� muito recentemente. Filho de fam�lia humilde, trabalhou como pedreiro (ergueu a pr�pria casa na ocupa��o, para onde se mudou quando o aluguel apertou), vendeu �gua nas ruas, descobriu o rap quando uma fita cassete do Racionais MCs surgiu em sua casa. O talento do frequentador dos bailes do Vilarinho foi revelado no Duelo de MCs.
 
 
Com suas experimenta��es, FBC e Vhoor se prop�em a buscar um novo som – contempor�neo e, ao mesmo tempo, cria da tradi��o hip-hop. A dupla faz quest�o de p�r a marca de BH nessa hist�ria. Nada soa como nostalgia cover nesse “Beag� Bass” dos dois. A batida do tamborz�o est� l�, mas cercada de instrumentais lapidados pelo “ouvido absoluto” de quem est� conectado, via internet, � riqueza musical do planeta.

Vhoor conta que seu drill bebe na fonte londrina, mas ganhou elementos afro-brasileiros, do coco, da macumba. FBC se empenha em criar algo novo que junte rap e funk. “Falo muito pro Vhoor: a gente vai misturando at� formar outra coisa, outra cor, outra textura”, diz.

Rapper respeitado nacionalmente, Fabr�cio � fundador do coletivo DV Tribo ao lado de Djonga (com quem fez shows durante muito tempo), Coyote Beatz, Clara Lima, Hot e Oreia. Lan�ou os �lbuns solo “S.C.A” (2018) e “Padrim” (2019), que ganhou disco de ouro da distribuidora ONErpm.
 
Djonga e FBC cantam durante show
Djonga e FBC chamaram a aten��o do pa�s para o rap de BH (foto: Blackpipe/reprodu��o)

PIQUE NA PANDEMIA

A pandemia n�o tirou o pique dele: em 2020, lan�ou “Best duo” com Iza Sabino, SMU e convidados, e “FBC no est�dio Showlivre (ao vivo)”. Este ano, mandou para as plataformas “Outro rol�” e “Baile”. A convite do selo europeu WRM, que lan�ou ''Outro rol�'', gravou v�deos na Su��a.

“Muita coisa do funk carioca foi escrita aqui em Belo Horizonte”, afirma Fabr�cio. E foi mesmo. FBC se surpreende ao saber, pela rep�rter, que “� som de preto/ de favelado/ Mas quando toca/ Ningu�m fica parado”, o refr�o do hit de Amilcka e Chocolate que virou �cone do batid�o, veio do mineiro MC Baby – como ele, cria do Vilarinho. Ali�s, Vhoor morava em frente �s quadras e se cansou de ver os tios se arrumando para dan�ar l�.

Pesquisas desse jovem beatmaker est�o ancoradas nas novidades da eletr�nica. Ele “milita” na plataforma colaborativa SoundCloud, que re�ne africanos, latinos, “imigrantes de todos os cantos do mundo”, explica. Seu som tem atabaques ancestrais tamb�m.

Vhoor diz que BH tem tradi��o de sobra para nutrir seu projeto com FBC. Destaca as caracter�sticas peculiares da m�sica gerada na cidade, refer�ncia tanto do metal (com as bandas Sarc�fago e Sepultura) quanto da MPB (Clube da Esquina).

O beatmaker j� chamou a aten��o do jornal ingl�s The Guardian com suas cria��es mesclando funk, eletr�nica e sonoridades afro-latinas. Sua cria��o pode ser ouvida nas r�dios inglesas BBC6 e BBC1Xtra; na KCRW, em Los Angeles; e na KEXP, em Seattle. Vhoor tem 700 mil ouvintes no Spotify. Fabr�cio soma 900 mil.
 
 

MALAWI  SOUND

Antenad�ssimo nas novidades que descobre na internet, o entusiasmado FBC mostra no celular o som do Malawi Mouse Boys, formado por trabalhadores humildes africanos que constroem instrumentos com latinhas de Coca-Cola e correntes de bicicleta. Adora os timbres ancestrais vindos daquela cultura tribal.
 
Por falar em ancestralidade, Fabr�cio adapta os cantos de trabalho que ouviu da av�, descendente de escravos, para sua pr�pria voz. Sabe de cor c�nticos das colheitas de cana-de-a��car, caf� e milho que conheceu em document�rios de Leon Hirszman.

Um olho na tribo, o outro no planeta. O descolado FBC bolou campanhas bem-sucedidas para divulgar seu som. Quando divulgou “Padrim”, pediu a deus e o mundo para postar no pr�prio perfil “15/11 confia” (data de lan�amento do �lbum). Mar�lia Mendon�a, Mano Brown, Whindersson, Emicida, Ma�sa e Felipe Neto apoiaram a campanha. At� o papa Francisco recebeu o apelo do rapper mineiro. Ainda n�o respondeu, mas... Nada veio por milagre na carreira deste mo�o dos 50 milh�es de views no Tik Tok.

Ilustração de Raideno para a capa do disco 'Baile' mostra cenas da periferia: mulher dançando funk, policial de arma na mão e DJ tocando picape
(foto: Raideno/reprodu��o)

“BAILE”

. Disco de FBC e Vhoor
. 10 faixas
. Participa��o de Mac J�lia, Mariana Cavanellas, Djair Voz Cristalina, Fern e Uana
. Grava��o: DJ Spider, Xaga e Vhoor
. Produ��o executiva: Rafael Barra
. Dispon�vel nas plataformas digitais


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