Com roupa domingueira, eleitores v�o �s urnas. � dia de escolher o presidente que governar� o Brasil pelos pr�ximos quatro anos. Trata-se da festa da democracia, palavra mais citada na campanha eleitoral. Ela est� na boca das autoridades e, claro, caiu na boca do povo. Vale, pois, invadir a intimidade do voc�bulo.
Origem
H� muitos e muitos anos, nasceram duas crian�as. Uma recebeu o nome de Demo. A outra se chamou Cracia. Ambas eram gregas. Na l�ngua delas, os dois nomes t�m um significado. Demo quer dizer povo. Cracia, governo. O tempo passou. Um dia, Demo encontrou Cracia. Eles conversaram. Ficaram. E n�o deu outra. Casaram-se. Juntos, viraram o casal Democracia.
Fam�lia
Eles tiveram muitos filhos. Os filhos lhes deram um mont�o de netos. Os netos os presentearam com uma infinidade de bisnetos. A fam�lia ficou enorme. Quando todos estavam reunidos, podiam encher a catedral. O cl� tinha um jeito especial de viver. Em casa, ningu�m brigava. Os sabidos faziam elei��o para tudo. A sobremesa seria pudim ou sorvete? Todos votavam. Ganhava a maioria. A meninada ia � piscina ou ao parque? O voto decidia.
Nova moda
A moda pegou. Muitos pa�ses copiaram o exemplo. Se algu�m quiser ser senador, deputado, vereador, prefeito, governador ou presidente, tem de participar de elei��o. O povo vota. Ganha quem tiver a prefer�ncia de mais gente. � a democracia – o governo do pov�o. Viva!
Dist�ncia aristocr�tica
“H� uma diferen�a enorme entre eu e o Lula”, disse Bolsonaro na entrevista da Record. Maltratou a l�ngua. Por qu�? As pessoas do discurso s�o tr�s. A primeira fala (eu, n�s). A segunda escuta (tu, voc�). A terceira serve de assunto (ele, ela). Qual a mais importante?
A primeira. Por isso o mim, pronome de primeira pessoa, tem prioridade sobre os demais: H� uma diferen�a enorme entre mim e o Lula. Este acordo foi firmado entre mim e ele. Aquele, entre mim e os diretores da empresa. Conversa entre mim e voc�. Conversa entre mim, ti e o diretor.
Dica
Lembra-se? Antigamente, os professores diziam que “o burrinho vai sempre na frente”. Era o jeito deles de ajudar na fixa��o da regra.
N�o � prefer�ncia
“Lula preferiu construir um porto em Cuba do que transpor as �guas do S�o Francisco”, diz a propaganda. Trope��o na reg�ncia. A gente prefere alguma coisa ou algu�m a outra coisa ou a algu�m: Prefiro cinema a teatro. Prefiro Machado de Assis a Jos� de Alencar. Prefiro morar em Bras�lia a morar em Goi�nia.
Superdica
N�o use, nem a pedido dos Orix�s, preferir mais. O mais sobra. Basta preferir.
Verde-amarelo
Hoje, dia de elei��o, muitos se vestem com as cores do Brasil. Verde e amarelo fazem a festa. Verde � adjetivo. Amarelo tamb�m. Adjetivos compostos de adjetivo + adjetivo obedecem cegamente a uma regra. S� o segundo varia: bandeira verde-amarela, bandeiras verde-amarelas; programa verde-amarelo, programas verde-amarelos; camiseta verde-amarela, camisetas verde-amarelas.
De novo
Lula e Bolsonaro dizem que, em caso de vit�ria, v�o reindustrializar o pa�s. A imprensa deu a not�cia. Na hora de escrever, pintou a d�vida. Reindustrializar se escreve com h�fen? N�o. O prefixo re- sofre de incur�vel alergia ao h�fen. Com ele � tudo colado – reescrever, reorientar, reindustrializar.
Leitor pergunta
“O mosquito da dengue se sobressai”, disse o rep�rter. Ele est� certo?
• Celina Lima, Camaqu�
O se sobra. Sobressair n�o � pronominal. Altivo, dispensa objeto. Reina sozinho, absoluto: O novato sobressai nas pesquisas. Os povos da Mesopot�mia sobressa�ram na escultura. O relator sobressaiu na discuss�o ao defender aumento da seguran�a. E, claro, o mosquito da dengue sobressai.
Recado
“Entre todos os homens, o romancista � o que mais se assemelha a Deus: ele copia Deus.”
• Fran�ois Mauriac