O mundo, emocionado, deu o �ltimo adeus a Pel�. Sem pleonasmo

Pel� se foi. Est� no c�u batendo bola com Deus. A partida do rei ganhou manchetes na imprensa do mundo todo. Muitos comentaristas falaram em �ltimo adeus. Muitos questionaram: �ltimo adeus � pleonasmo?

 

H� despedidas e despedidas. Nas mais curtas, dizemos tchau, at� j�, at� logo, at� logo mais. Nas m�dias, at� � vista. Nas compridonas, adeus. Durante a vida, podemos dar v�rios adeuses � mesma pessoa. Na morte, damos o �ltimo. N�o � pleonasmo.

A semana foi de muito movimento. Luiz Inacio Lula da Silva brilhou mais. Depois vieram os ministros. Em meio a solenidades, cumprimentos, desfiles, discursos, recep��es etc. e tal, pintou a curiosidade. O que quer dizer posse? A palavra vem do latim posse. Significa poder. Cumprido o protocolo, os eleitos passam a exercer o poder que pleitearam ao se candidatar a este ou �quele cargo. Viva! Sorte pra todos.

Na posse de Fernando Haddad no Minist�rio da Fazenda, a mestre de cerim�nias cumprimentou “a todas, a todos e a todes”. O p�blico aplaudiu a novidade num evento oficial. Mas ficou a quest�o: todes figura na nomenclatura gramatical da l�ngua portuguesa? N�o. � modismo. No portugu�s, h� dois g�neros – masculino (todos) e feminino (todas). N�o existe o g�nero neutro, que existia no latim.

Jos� Sarney lan�ou a moda no Brasil. “Brasileiras e brasileiros”, saudava ele. Homens e mulheres acharam a novidade simp�tica. O SBT aproveitou a onda. P�s no ar a novela com o mesmo bord�o. A partir da�, distinguir o g�nero deixou de ser gesto de simpatia. Tornou-se obriga��o. De obriga��o passou a obsess�o. Hoje, virou comum situa��es como estas: “Convidamos os presentes e as presentes a se levantarem”, “Os estudantes e as estudantes devem usar uniforme”, “Os debatedores e as debatedoras chegar�o ao meio-dia”.

Rea��es aos exageros n�o faltam. Mill�r Fernandes falava em “pessoas e pessoos”; Ver�ssimo, em “povo e pova”. Cidad�os temem que cheguemos a “humanidade e mulheridade” e “seres humano e mulherano”.

A luta pelo g�nero se imp�s. Hoje, distinguir o feminino e o masculino n�o � quest�o de corre��o gramatical. Brasileiros engloba homens e mulheres nascidos nesta alegre Pindorama. Gramaticalmente recebe nota 10. Mas escorrega politicamente. A raz�o � simples: esconde a mulher. Modernamente tornou-se praxe usar o masculino e o feminino. Dando-se visibilidade a ele e a ela, marca-se, na fala, a igualdade dos dois g�neros. No fundo, � quest�o de poder. Quem pode aparece.

Voc� decide. Se quiser entrar na guerra contra elas, esque�a o politicamente correto. Mas prepare-se. Voltar �s boas leva tempo. Valem as palavras de Bertolt Brecht: “A paz n�o � s� melhor que a guerra. � muito mais trabalhosa”.

A l�ngua � machista? Nada mais injusto. A coitada nem marca o masculino. O 'o' n�o caracteriza o sexo forte. � a vogal tem�tica da palavra. O 'a', sim, denuncia o feminino. O mesmo ocorre com professor, mestre & cia. Eles pertencem ao g�nero masculino porque se op�em �s formas professora e mestra.

A oposi��o masculino X feminino faz a diferen�a. � o caso de menino, menina; vendedor, vendedora; presidente, presidenta. Sem oposi��o, convoca-se o artigo (o estudante, a estudante; o comerciante, a comerciante; o assaltante, a assaltante). Quando o artigo � o mesmo, s� h� uma sa�da – recorrer ao contexto. Valem os exemplos de crian�a e v�tima. Como saber se se referem a mulher ou homem? S� analisando a frase em que aparecem.

Quando posso escrever hist�ria com 'h' mai�sculo?

Em geral, escreve-se hist�ria. Hist�ria, com 'h' mai�sculo, costuma ter vez quando nos referimos � hist�ria como ci�ncia ou disciplina – Hist�ria do Brasil, Hist�ria da humanidade, Hist�ria da civiliza��o. Hist�ria ou est�ria? Modernamente, usa-se hist�ria para designar tanto fatos quanto fic��o: hist�ria da Branca de Neve, hist�ria da novela, hist�ria da ascens�o dos partidos pol�ticos no Brasil.

 

Em resumo: n�o use est�ria.

Recado